Fábrica de Ídolos Instantâneos
“Daqui a alguns anos ninguém irá lembrar deles e vocês terão vergonha de terem sido fãs desta banda”, diz um amargo blogueiro sobre a banda teen do momento e as adolescentes que os idolatram. Aqui, temos duas linhas de pensamento que são verdadeiras, uma concordante e outra opositora. A primeira fala sobre ondas passageiras, a moda da atualidade da qual amanhã, de fato, ninguém lembrará. A segunda, diz respeito ao fato muito necessário que resume o que é a adolescência: explosão hormonal de sentimentos e sensações, incluindo o amor incondicional e indescritível por algo ou alguém que sequer conhecemos de verdade, ou nos deu motivo para tal afeto.
Esta é toda a premissa de Tudo por um Pop Star, produção adolescente da Globo Filmes, baseada no livro da autora nacional número 1 deste segmento, Thalita Rebouças. Capitaneado pelo cineasta Bruno Garotti, Tudo por um Pop Star é doce, inocente e engraçadinho, possuindo todos os elementos que irão causar identificação imediata com seu público-alvo, meninas entre 8 e 16 anos. Garotti já havia levado às telas no ano passado outro veículo eficiente, que também retratava uma história de amadurecimento de um jovem bem sucedido, com Eu Fico Loko, produção surpreendentemente satisfatória e emocionante.
Com o novo trabalho, o diretor abaixa um pouco sua faixa etária, assim criando cenas, personagens e situações mais ingênuas, caricatas e cartunescas para encaixar com sua audiência. Na trama, três jovens amigas ficam sabendo que a boy band de seus sonhos virá se apresentar no Brasil, com show único no Rio de Janeiro, e fazem de sua missão de vida conseguir estar lá para ver de perto os rapazotes. No meio do caminho que leva do ponto A ao B, é claro, se metendo em “todo tipo de confusão”, como diria o anunciante da Sessão da Tarde.
Bem no ritmo do programa diurno citado, as situações são improváveis e o roteiro brinca com o nonsense para tirar seu humor, nada que comprometa o resultado, uma vez entendida qual é a proposta. O verdadeiro atrativo são as protagonistas, três meninas muito promissoras, já muito conhecidas do grande público. Maisa Silva, que vive Gabriela, talvez seja o rosto mais conhecido, mas não é a protagonista. O cargo fica com Klara Castanho, intérprete de Manuela, dona de carisma para dar e vender, além de talento para a música. Completando o trio, a questionadora Rita, vivida por Mel Maia.
Na rota de desventuras do trio estão uma prima “hipponga” na qual recai a responsabilidade de cuidar das meninas (papel de Giovanna Lancellotti), chantagem para conseguir credenciais vip ao show (após terem vencido um concurso), quedas da janela do hotel direto na piscina, brigas no banheiro e uma batalha contra oficiais do Juizado da Infância e Juventude. Dentre os artifícios cômicos utilizados pelo roteiro estão o pastelão (ou slapstick), a sátira e o nonsense. Existe sim uma tentativa de ter algo a dizer sobre os ídolos instantâneos, sua legião de fãs adolescentes e a nova mídia – que se favorece destas estrelas descartáveis a fim de arrecadar sua própria audiência.
Tudo por um Pop Star é agradável e tem o coração no lugar certo. Sua intenção é louvável e a obra demonstra esta vontade de todos os envolvidos. Não é um divisor de águas ou um filme que irá mudar o jogo sobre o tema. No entanto, possui seus temas relevantes e atuais nas entrelinhas, mesmo que tratados de uma forma tão ingênua quanto o resto do texto. Existem obras infantis ou juvenis que servem tanto para seu público-alvo quanto para os pais que forem levar a turminha aos cinemas. Não é o caso aqui. Mesmo assim o longa termina com gosto de ode a uma fase da vida, na qual o que mais desejamos é nos sentir vivos, sem críticas.