terça-feira , 5 novembro , 2024

Crítica | Um Amor Inesperado – Darín e Morán em parceria brilhante sobre relacionamento aos 50

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Podemos dizer que a película argentina Um Amor Inesperado (El amor menos pensado) é dividida em três atos. O primeiro momento é uma deliciosa reflexão sobre como os casais lidam com a partida dos filhos de casa e, consequentemente, o sentimento de ninho vazio. O casal Marcos (Ricardo Darín) e Ana (Mercedes Morán) nos levam a essas ponderações da vida a dois e o que se busca em um relacionamento depois de já terem criado os filhos.

Com uma fotografia belíssima, Juan Vera junto com Daniel Cúparo – ambos escreveram também a comédia 2 Mais 2 (2012) sobre swing – criam um roteiro poético na primeira parte, chegando a uma comicidade elevada na segunda e uma resolução pouco ambiciosa ao fim. O que mais encanta nessa obra, no entanto, é a dupla de protagonistas. Darín e Morán são brilhantes juntos e desde a troca de olhares até o encontro de cada frase soam completamente em sintonia.

Apesar desse maravilhoso entendimento, o casal resolve se separar por não estarem mais apaixonados, o que soa como uma digressão, mas ao mesmo nos leva a refletir sobre as perspectivas da vida a partir dos 50 anos. Poucos filmes conseguem alcançar o cerne do embate da vida amorosa na maturidade, como Um Divã Para Dois (2012) e Shirley Valentine (1989). A maioria percorre o caminho do casamento infeliz e a chance de encontrar a “felicidade” antes tarde do que nunca, o que não é o caso aqui.

Após o filho Luciano (Andres Gil) partir para estudar na Espanha, os pais sentem que suas responsabilidades diárias com o herdeiro estão encerradas e voltam a atenção a si próprios. Assim, começa uma busca por algo desconhecido e, durante mais de uma hora de filme, observamos Marcos e Ana em diálogos com os amigos sobre sentimentos, encontros frustrantes e parceiros poucos encantadores.

Com a passagem dos anos, a narrativa abre discussão sobre outras relações como a do casal de amigos Lili (Claudia Fontán) e Edi (Luis Rubio), que decidem manter o casamento, mas com relações extraconjugais. Durante a segunda parte, os protagonistas encontram-se ocasionalmente e relembram a vida a dois, discutem sobre vender o apartamento de 25 anos de casamento e seguir em frente como for melhor.

Com uma resignação menor de Marcos durante todo o filme, é possível sentir a previsibilidade de um fim que seja um ciclo. Na parte final, Juan Vera quebra a quarta parede e o personagem de Darín fala com o espectador em desabafo sobre os percursos da vida e as escolhas que fazemos. Ademais dos encantadores atores e fotografia, o diretor e roteirista concedendo ao espectador uma elucubração direta sobre o advir.

Um Amor Inesperado consegue desassossegar mentalmente o público sobre o que desejar e esperar dos próximos anos. Ainda que muitos momentos sejam entoados como uma enrolação ou uma trajetória sobre experimentação, o filme argentino apresenta uma temperança sobre angústia, busca e aceitação. Além disso, há momentos sublimes tal como uma cena de celebração ao som da canção Fogo e Paixão (1985), do saudoso cantor Wando.   

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Podemos dizer que a película argentina Um Amor Inesperado (El amor menos pensado) é dividida em três atos. O primeiro momento é uma deliciosa reflexão sobre como os casais lidam com a partida dos filhos de casa e, consequentemente, o sentimento de ninho vazio. O casal Marcos (Ricardo Darín) e Ana (Mercedes Morán) nos levam a essas ponderações da vida a dois e o que se busca em um relacionamento depois de já terem criado os filhos.

Com uma fotografia belíssima, Juan Vera junto com Daniel Cúparo – ambos escreveram também a comédia 2 Mais 2 (2012) sobre swing – criam um roteiro poético na primeira parte, chegando a uma comicidade elevada na segunda e uma resolução pouco ambiciosa ao fim. O que mais encanta nessa obra, no entanto, é a dupla de protagonistas. Darín e Morán são brilhantes juntos e desde a troca de olhares até o encontro de cada frase soam completamente em sintonia.

Apesar desse maravilhoso entendimento, o casal resolve se separar por não estarem mais apaixonados, o que soa como uma digressão, mas ao mesmo nos leva a refletir sobre as perspectivas da vida a partir dos 50 anos. Poucos filmes conseguem alcançar o cerne do embate da vida amorosa na maturidade, como Um Divã Para Dois (2012) e Shirley Valentine (1989). A maioria percorre o caminho do casamento infeliz e a chance de encontrar a “felicidade” antes tarde do que nunca, o que não é o caso aqui.

Após o filho Luciano (Andres Gil) partir para estudar na Espanha, os pais sentem que suas responsabilidades diárias com o herdeiro estão encerradas e voltam a atenção a si próprios. Assim, começa uma busca por algo desconhecido e, durante mais de uma hora de filme, observamos Marcos e Ana em diálogos com os amigos sobre sentimentos, encontros frustrantes e parceiros poucos encantadores.

Com a passagem dos anos, a narrativa abre discussão sobre outras relações como a do casal de amigos Lili (Claudia Fontán) e Edi (Luis Rubio), que decidem manter o casamento, mas com relações extraconjugais. Durante a segunda parte, os protagonistas encontram-se ocasionalmente e relembram a vida a dois, discutem sobre vender o apartamento de 25 anos de casamento e seguir em frente como for melhor.

Com uma resignação menor de Marcos durante todo o filme, é possível sentir a previsibilidade de um fim que seja um ciclo. Na parte final, Juan Vera quebra a quarta parede e o personagem de Darín fala com o espectador em desabafo sobre os percursos da vida e as escolhas que fazemos. Ademais dos encantadores atores e fotografia, o diretor e roteirista concedendo ao espectador uma elucubração direta sobre o advir.

Um Amor Inesperado consegue desassossegar mentalmente o público sobre o que desejar e esperar dos próximos anos. Ainda que muitos momentos sejam entoados como uma enrolação ou uma trajetória sobre experimentação, o filme argentino apresenta uma temperança sobre angústia, busca e aceitação. Além disso, há momentos sublimes tal como uma cena de celebração ao som da canção Fogo e Paixão (1985), do saudoso cantor Wando.   

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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