Mais uma daquelas surpresas teens da TV norte-americana em 2021, Um de Nós Está Mentindo estreou nos Estados Unidos sob a sombra do estrondoso sucesso criminal Cruel Summer. E com uma premissa investigativa tão instigante como a de sua antecessora, a produção levemente se inspira no esboço original do icônico O Clube dos Cinco, para subverter o modelo nos apresentando o Clube dos Assassinos: cinco jovens que pouco convivem entre si e que durante a detenção escolar testemunham a morte de um outro polêmico colega. E com os desdobramentos deste crime ganhando vida para muito além do “quem é o assassino?”, a série da Peacock – distribuída no Brasil pela Netflix -, retorna como novos episódios que, ainda que não superem o frenesi inaugural, cumprem com seu papel de nos levar aos limites da angústia e da ansiedade.
Uma sequência direta dos instantes finais da primeira temporada, o novo ciclo acerta ao abrir mais espaço para os seus coadjuvantes brilharem em tela. Sem a pressão de introduzir seus protagonistas para a audiência, Um de Nós Está Mentindo cria um novo mistério a partir da trama original, expandindo-se de forma dinâmica e estratégica – mirando no livro sequência Um de Nós é o Próximo (da autora Karen M. McManus). Desta vez, o Clube dos Assassinos deve desvendar quem é o rosto por trás das manipulativas mensagens que exigem de seus membros comportamentos questionáveis e comprometedores. E sob o terrível medo de terem seu grande segredo descoberto, os protagonistas passam os oito novos episódios como marionetes de um sádico e perverso ventríloquo.
Com dinamismo e pressa para contar sua história, a showrunner Erica Saleh não perde tempo de tela e faz com que os arcos de seus protagonistas evoluam de forma célere e rápida. Com pequenas reviravoltas que garantem que aquele sabor de mistério permaneça em nós a todo instante, a também produtora executiva é categórica em nos manter atentos a cada desdobramento, tornando Um de Nós Está Mentindo cada vez mais viciante em seus episódios seguintes. E com um elenco jovem bem entrosado e diverso, a série da Netflix segue sendo um deleite até mesmo quando apela para questões progressistas que nada têm a ver com a trama e que só funcionam como um carimbo para satisfazer a militância enfadonha.
E embora a segunda temporada não supere a primeira em níveis de tensão e qualidade de roteiro, é inegável que os novos capítulos são de fato muito bons. Convidando a audiência para tentar montar as peças deste confuso e doentio quebra-cabeça, Um de Nós Está Mentindo consegue manter o mesmo ritmo de intensidade e adiciona um inesperado toque de humor em sua segunda metade. Com a ajuda de novos coadjuvantes e transformando uma de suas antagonistas em um inesperado e necessário alívio cômico, a original Netflix brinca com o gênero e é capaz de não se levar tão a sério assim, ainda que sua essência seja um suspense criminal.
Flertando com vários clichês do gênero e repetindo diversas fórmulas já vistas em outras produções como até mesmo How to Get Away with Murder, Um de Nós Não Está Mentindo pode até não ser inovadora, mas consegue nos surpreender em seus dois últimos episódios com uma grandiosa reviravolta, que ainda termina em um excelente cliffhanger que abre margem para um promissor futuro para a série. E sem sombra de dúvidas, a original Netflix entrega o tipo de entretenimento que nos faz perder a noção do tempo diante da televisão. E isso já é muito mais do que tantas outras séries têm oferecido para o público.