terça-feira , 19 novembro , 2024

Crítica | ‘Um de Nós Está Mentindo’ é um divertido mistério adolescente que entrega exatamente o que promete

YouTube video

Um assassinato. Quatro suspeitos. Todos alegam que não tiveram nada a ver com esse trágico evento da Bayview High, mas as evidências apontam o exato oposto e colocam esse grupo de jovens na mira dos investigadores e daqueles que os rodeiam, incluindo alguém que quer fazer de tudo para incriminá-los.

Você já deve ter ouvido essa premissa em algum filme ou série de mistério dos últimos cinquenta anos – ora, é só nos lembrarmos do recente ‘Morte no Nilo’, que adaptou um dos clássicos de Agatha Christie para os cinemas, ou de ‘Cruel Summer’, que se afastou do assassinato em si e trouxe às telinhas um competente e instigante mistério. A lista é interminável e pode até atrair olhares céticos, ainda mais quando a história em questão se apresenta como um drama de suspense adolescente. Mas, no final das contas, ‘Um de Nós Está Mentindo’, nova sensação da Netflix, cumpre com o que esperamos de uma produção desse calibre e abraça as fórmulas sem querer criar algo original, e sim nos convidar para uma jornada bastante prática e que nos deixa com um gostinho de quero mais.



Baseado no romance homônimo best-seller de Karen M. McManus, a história é a supracitada no parágrafo inicial desta crítica: quatro adolescentes que estão prestes a terminar o Ensino Médio se veem arrastados para uma artimanha que toma proporções catastróficas quando o menino mais odiado da escola, Simon (Mark McKenna), morre após ingerir óleo de amendoim e ter um choque anafilático. É a partir daí que Bronwyn (Marianly Tejada), Addy (Annalisa Cochrane), Cooper (Chibuikem Uche) e Nate (Cooper van Grootel) lutam contra as adversidades mais impossíveis para provar que são inocentes e que não merecem a atenção repreensiva de seus colegas e das autoridades – que acreditam que o quarteto uniu forças para tirar Simon de cena em virtude do que ele fez.

A série, em si, não tem muitas direções a seguir, por seguir um padrão comum dentro do cenário mainstream e por se valer da adaptação de um livro. Entretanto, a showrunner Erica Saleh sabe lidar com o material que lhe foi dado e mergulha, essencialmente, na profundidade dos protagonistas e coadjuvantes, não os deixando de lado em nenhum momento – apesar de sacrificar alguns momentos-chave no roteiro para que nos importemos com eles. Dessa maneira, não lidamos com heróis ou vilões, e sim adolescentes que foram longe demais para esconderem seus podres. É claro que o uso constante de arquétipos que se afastem dos estereótipos teen dos anos 1980 acaba encontrando um beco sem saída e não abre brechas para uma revelação bombástica, mas o resultado é aprazível o suficiente para querermos mais uma temporada.

A diferença entre os quatro personagens principais é gritante e emerge de forma previsível e funcional: Addy é uma cheerleader popular e que namora um dos astros do time de futebol americano, Jake (Barrett Carnahan), vivendo à sombra de alguém que a exibe como um troféu até perceber que está envolvida em um tóxico e inescapável relacionamento – familiar? Dê uma olhada em Olivia Holt em ‘Cruel Summer’; Cooper é uma estrela do beisebol que esconde sua verdadeira orientação sexual dos amigos e do pai para que consiga uma bolsa na faculdade e cumpra com os sonhos que lhe foram atribuídos, mantendo um relacionamento secreto com Kris (Karim Diane) e outro de fachada com Keely (Zenia Marshall), que sabe de seu segredo; Nate é o delinquente do colégio e já foi preso por tráfico de drogas, motivo pelo qual é descrito como o principal suspeito do assassinato de Simon; e, por fim, temos Bronwyn, uma estudante e filha “perfeita” focada em passar na Universidade de Yale que começa a questionar seus valores quando percebe que algo maior está em jogo.

Cada persona descrita por ser substituída por qualquer parecida que você tenha visto – algo que nos dá as cartas do jogo para descobrir, por conta própria, como a narrativa irá se desenrolar. Eles se tornam amigos; são perseguidos pelo verdadeiro culpado; são taxados como o Clube dos Assassinos; perdem prestígio e reputação; e, eventualmente, descobrem quem está por trás do crime – cometendo, é óbvio, inúmeros deslizes no meio-tempo. O elenco jovem tem uma química inegável que nos faz querer saber como irão terminar no season finale, e são auxiliados por outros personagens que aparecem no enredo, como Janae (Jessica McLeod) e Maeve (Melissa Collazo), roubando os holofotes ao trazerem mais irreverência e rebeldia à produção.

Os aspectos técnicos não ousam para muito além das estruturas engessadas de iterações adolescentes similares – e parecem pegar páginas emprestadas de ‘Euphoria’ ou ‘Love, Victor’. A paleta de cores unilateral não condiz, nem em um nível mais simbólico, às ações dos protagonistas, preferindo estabilizar em um uso cansativo de azul e laranja para discernir passado e presente; a montagem e a fotografia, bem como a direção dos capítulos, trilha caminho idêntico – com destaque surpreendente ao piloto, que foge dos métodos com uma sutileza vista em outras obras comandadas por Jennifer Morrison, a diretora.

‘Um de Nós Está Mentindo’ pode ter seus equívocos e perder um pouco a mão com uma história intrincada em demasia, mas, ao impedir que as subtramas falem mais alto e focar nas engrenagens que movem o grupo de acusados, permite que fiquemos intrigados por uma aventura coesa e interessante.

YouTube video

YouTube video

Mais notícias...

Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

Siga-nos!

2,000,000FãsCurtir
372,000SeguidoresSeguir
1,620,000SeguidoresSeguir
195,000SeguidoresSeguir
162,000InscritosInscrever

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

MATÉRIAS

CRÍTICAS

Crítica | ‘Um de Nós Está Mentindo’ é um divertido mistério adolescente que entrega exatamente o que promete

YouTube video

Um assassinato. Quatro suspeitos. Todos alegam que não tiveram nada a ver com esse trágico evento da Bayview High, mas as evidências apontam o exato oposto e colocam esse grupo de jovens na mira dos investigadores e daqueles que os rodeiam, incluindo alguém que quer fazer de tudo para incriminá-los.

Você já deve ter ouvido essa premissa em algum filme ou série de mistério dos últimos cinquenta anos – ora, é só nos lembrarmos do recente ‘Morte no Nilo’, que adaptou um dos clássicos de Agatha Christie para os cinemas, ou de ‘Cruel Summer’, que se afastou do assassinato em si e trouxe às telinhas um competente e instigante mistério. A lista é interminável e pode até atrair olhares céticos, ainda mais quando a história em questão se apresenta como um drama de suspense adolescente. Mas, no final das contas, ‘Um de Nós Está Mentindo’, nova sensação da Netflix, cumpre com o que esperamos de uma produção desse calibre e abraça as fórmulas sem querer criar algo original, e sim nos convidar para uma jornada bastante prática e que nos deixa com um gostinho de quero mais.

Baseado no romance homônimo best-seller de Karen M. McManus, a história é a supracitada no parágrafo inicial desta crítica: quatro adolescentes que estão prestes a terminar o Ensino Médio se veem arrastados para uma artimanha que toma proporções catastróficas quando o menino mais odiado da escola, Simon (Mark McKenna), morre após ingerir óleo de amendoim e ter um choque anafilático. É a partir daí que Bronwyn (Marianly Tejada), Addy (Annalisa Cochrane), Cooper (Chibuikem Uche) e Nate (Cooper van Grootel) lutam contra as adversidades mais impossíveis para provar que são inocentes e que não merecem a atenção repreensiva de seus colegas e das autoridades – que acreditam que o quarteto uniu forças para tirar Simon de cena em virtude do que ele fez.

A série, em si, não tem muitas direções a seguir, por seguir um padrão comum dentro do cenário mainstream e por se valer da adaptação de um livro. Entretanto, a showrunner Erica Saleh sabe lidar com o material que lhe foi dado e mergulha, essencialmente, na profundidade dos protagonistas e coadjuvantes, não os deixando de lado em nenhum momento – apesar de sacrificar alguns momentos-chave no roteiro para que nos importemos com eles. Dessa maneira, não lidamos com heróis ou vilões, e sim adolescentes que foram longe demais para esconderem seus podres. É claro que o uso constante de arquétipos que se afastem dos estereótipos teen dos anos 1980 acaba encontrando um beco sem saída e não abre brechas para uma revelação bombástica, mas o resultado é aprazível o suficiente para querermos mais uma temporada.

A diferença entre os quatro personagens principais é gritante e emerge de forma previsível e funcional: Addy é uma cheerleader popular e que namora um dos astros do time de futebol americano, Jake (Barrett Carnahan), vivendo à sombra de alguém que a exibe como um troféu até perceber que está envolvida em um tóxico e inescapável relacionamento – familiar? Dê uma olhada em Olivia Holt em ‘Cruel Summer’; Cooper é uma estrela do beisebol que esconde sua verdadeira orientação sexual dos amigos e do pai para que consiga uma bolsa na faculdade e cumpra com os sonhos que lhe foram atribuídos, mantendo um relacionamento secreto com Kris (Karim Diane) e outro de fachada com Keely (Zenia Marshall), que sabe de seu segredo; Nate é o delinquente do colégio e já foi preso por tráfico de drogas, motivo pelo qual é descrito como o principal suspeito do assassinato de Simon; e, por fim, temos Bronwyn, uma estudante e filha “perfeita” focada em passar na Universidade de Yale que começa a questionar seus valores quando percebe que algo maior está em jogo.

Cada persona descrita por ser substituída por qualquer parecida que você tenha visto – algo que nos dá as cartas do jogo para descobrir, por conta própria, como a narrativa irá se desenrolar. Eles se tornam amigos; são perseguidos pelo verdadeiro culpado; são taxados como o Clube dos Assassinos; perdem prestígio e reputação; e, eventualmente, descobrem quem está por trás do crime – cometendo, é óbvio, inúmeros deslizes no meio-tempo. O elenco jovem tem uma química inegável que nos faz querer saber como irão terminar no season finale, e são auxiliados por outros personagens que aparecem no enredo, como Janae (Jessica McLeod) e Maeve (Melissa Collazo), roubando os holofotes ao trazerem mais irreverência e rebeldia à produção.

Os aspectos técnicos não ousam para muito além das estruturas engessadas de iterações adolescentes similares – e parecem pegar páginas emprestadas de ‘Euphoria’ ou ‘Love, Victor’. A paleta de cores unilateral não condiz, nem em um nível mais simbólico, às ações dos protagonistas, preferindo estabilizar em um uso cansativo de azul e laranja para discernir passado e presente; a montagem e a fotografia, bem como a direção dos capítulos, trilha caminho idêntico – com destaque surpreendente ao piloto, que foge dos métodos com uma sutileza vista em outras obras comandadas por Jennifer Morrison, a diretora.

‘Um de Nós Está Mentindo’ pode ter seus equívocos e perder um pouco a mão com uma história intrincada em demasia, mas, ao impedir que as subtramas falem mais alto e focar nas engrenagens que movem o grupo de acusados, permite que fiquemos intrigados por uma aventura coesa e interessante.

YouTube video

YouTube video
Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

Siga-nos!

2,000,000FãsCurtir
372,000SeguidoresSeguir
1,620,000SeguidoresSeguir
195,000SeguidoresSeguir
162,000InscritosInscrever

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

MATÉRIAS

CRÍTICAS