quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Um Dia Cinco Estrelas é uma comédia colorida, FRENÉTICA e bastante humana…

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Viver entre os seres humanos traz desafios sociais que, por mais que a gente tente, ouça e busque outros caminhos, eventualmente acaba cometendo o mesmo erro novamente. Parte desse condicionamento à frustração tem a ver com a quantidade de expectativas que depositamos em algo ou alguém, e, quando não alcançamos aquilo que almejamos, o resultado acaba gerando decepção. De uma maneira metafórica e levemente cômica, chega a partir do próximo dia 6 de julho no circuito nacional a nova comédia brasileira, ‘Um Dia Cinco Estrelas’.



Pedro Paulo (Estevam Nabote) só tem olhos para o seu Mozão, um Opala dos anos 70. Apesar de casado com Manuela (Aline Campos), e ser pai de uma filha, é o seu carro que é o seu grande xodó. Acontece que Pedro Paulo está desempregado e sua esposa é quem sustenta a casa. Às vésperas de conseguir uma promoção no emprego, Manu está ansiosa, mas também animada com a chegada de sua sogra, Dona Nilda (Nany People), que veio passar uns dias em sua casa antes de embarcar para Buenos Aires para realizar seu sonho de dançar tango na capital portenha no dia do seu aniversário. Porém, um diluvio destrói o telhado da casa e os planos têm que ser adiados. Para tentar minimizar as frustrações familiares, Pedro Paulo decide trabalhar como motorista de aplicativo, pensando em, assim, arrecadar dinheiro para sustentar sua família. Ele só não imaginava que o seu primeiro dia como motorista seria com passageiros tão surreais…

Estrelando seu primeiro papel como protagonista, o comediante Estevam Nabote constrói um personagem de bom coração e bastante tímido perante a imprevisibilidade do mundo, passando a sensação de que a qualquer momento a vida irá engoli-lo. Neste universo, tem destaque o elenco feminino: Aline Campos está ótima, completamente afastada da figura de mulher fatal na qual sempre a colocavam; bem à vontade com a câmera, Nany People confere o carisma de uma mãe/avó com a qual o espectador espontaneamente cria afeto; em participação especial, Danielle Winits retoma seu papel como mulher histérica, energizando a reta final do filme com requintes de humor trapalhão e exagerado.

O roteiro de Ricky Hiraoka e Cris Wersom é um bocado metafórico e talvez sua intenção não fique clara ao espectador, que irá se deparar com um filme de comédia familiar com ares inocentes bem estilo Sessão da Tarde. Numa camada mais profunda, o espectador poderá enxergar a metáfora da vida através desse motorista de aplicativo: como bem entendemos naquele episódio de ‘Black Mirror’, vivemos numa sociedade que anseia ser qualificada e conseguir as 5 estrelas – qualquer coisa diferente disso gera frustração e descarte. Ao mesmo tempo em que Pedro Paulo quer ser um motorista de qualidade para prover o sustento da família e oferece, para tal, seu grande Mozão (que na prática, é um carro antigo e que não atende aos padrões de uma empresa desse tipo de serviço), é nas relações interpessoais que este herói do cotidiano tenta conseguir suas 5 estrelas – com a esposa, com a mãe, com a filha, com as pessoas que conhece no caminho – por conta das expectativas geradas sobre ele. Generoso, honesto, esforçado e de bom coração, Pedro Paulo é um retrato do trabalhador brasileiro que tenta muito vencer na vida, mas cujo direito às 5 estrelas permanece bem longe de seu caminho.

O diretor Hsu Chien mais uma vez se debruça no grande público brasileiro que lota as salas de cinema com a comédia de riso fácil e entrega um filme com o qual este público vai se identificar, se emocionar e reconhecer objetos, situações e personagens comuns ao seu cotidiano.

Colorido, frenético e bastante humano, ‘Um Dia Cinco Estrelas’ é um filme quem pega metrô espremido e trabalha terceirizado prestando serviços sem direitos trabalhistas. Um retrato, através da comédia, da uberização das relações sociais.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Pedro Paulo (Estevam Nabote) só tem olhos para o seu Mozão, um Opala dos anos 70. Apesar de casado com Manuela (Aline Campos), e ser pai de uma filha, é o seu carro que é o seu grande xodó. Acontece que Pedro Paulo está desempregado e sua esposa é quem sustenta a casa. Às vésperas de conseguir uma promoção no emprego, Manu está ansiosa, mas também animada com a chegada de sua sogra, Dona Nilda (Nany People), que veio passar uns dias em sua casa antes de embarcar para Buenos Aires para realizar seu sonho de dançar tango na capital portenha no dia do seu aniversário. Porém, um diluvio destrói o telhado da casa e os planos têm que ser adiados. Para tentar minimizar as frustrações familiares, Pedro Paulo decide trabalhar como motorista de aplicativo, pensando em, assim, arrecadar dinheiro para sustentar sua família. Ele só não imaginava que o seu primeiro dia como motorista seria com passageiros tão surreais…

Estrelando seu primeiro papel como protagonista, o comediante Estevam Nabote constrói um personagem de bom coração e bastante tímido perante a imprevisibilidade do mundo, passando a sensação de que a qualquer momento a vida irá engoli-lo. Neste universo, tem destaque o elenco feminino: Aline Campos está ótima, completamente afastada da figura de mulher fatal na qual sempre a colocavam; bem à vontade com a câmera, Nany People confere o carisma de uma mãe/avó com a qual o espectador espontaneamente cria afeto; em participação especial, Danielle Winits retoma seu papel como mulher histérica, energizando a reta final do filme com requintes de humor trapalhão e exagerado.

O roteiro de Ricky Hiraoka e Cris Wersom é um bocado metafórico e talvez sua intenção não fique clara ao espectador, que irá se deparar com um filme de comédia familiar com ares inocentes bem estilo Sessão da Tarde. Numa camada mais profunda, o espectador poderá enxergar a metáfora da vida através desse motorista de aplicativo: como bem entendemos naquele episódio de ‘Black Mirror’, vivemos numa sociedade que anseia ser qualificada e conseguir as 5 estrelas – qualquer coisa diferente disso gera frustração e descarte. Ao mesmo tempo em que Pedro Paulo quer ser um motorista de qualidade para prover o sustento da família e oferece, para tal, seu grande Mozão (que na prática, é um carro antigo e que não atende aos padrões de uma empresa desse tipo de serviço), é nas relações interpessoais que este herói do cotidiano tenta conseguir suas 5 estrelas – com a esposa, com a mãe, com a filha, com as pessoas que conhece no caminho – por conta das expectativas geradas sobre ele. Generoso, honesto, esforçado e de bom coração, Pedro Paulo é um retrato do trabalhador brasileiro que tenta muito vencer na vida, mas cujo direito às 5 estrelas permanece bem longe de seu caminho.

O diretor Hsu Chien mais uma vez se debruça no grande público brasileiro que lota as salas de cinema com a comédia de riso fácil e entrega um filme com o qual este público vai se identificar, se emocionar e reconhecer objetos, situações e personagens comuns ao seu cotidiano.

Colorido, frenético e bastante humano, ‘Um Dia Cinco Estrelas’ é um filme quem pega metrô espremido e trabalha terceirizado prestando serviços sem direitos trabalhistas. Um retrato, através da comédia, da uberização das relações sociais.

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