Irmãos Gêmeos
Quando olhamos para a figura de Dwayne “The Rock” Johnson, o maior herói de ação do cinema atual, a última coisa que pensamos é em alguém que sofreu bullying durante a juventude. No entanto, é justamente essa subversão de tipo o mote para a nova comédia eletrizante da Universal. Escrito por David Stassen e o ator Ike Barinholtz (Vizinhos e Esquadrão Suicida), em parceria com o diretor Rawson Marshall Thurber (dos divertidos Com a Bola Toda e Família do Bagulho), o roteiro nos leva de volta ao passado vinte anos quando Robbie Wheirdicht (The Rock) – sentiram a analogia nada sutil do nome com a palavra weird (estranho) – então um rapaz bem rechonchudo, sofre um terrível ato de humilhação de seus colegas na escola.
A cena de abertura é também um dos momentos mais curiosos e bizarros do longa, já que para a transformação de Johnson em um jovem com muitos quilos a mais, seu rosto foi inserido no corpo de outro ator através de computação gráfica – efeito que pode ser conferido no trailer. Devastado pelo ato cruel, o rapaz some do colégio, sem que alguém soubesse novamente de seu paradeiro. Corta para os dias atuais, onde a vida de Calvin Joyner (Kevin Hart), o aluno mais popular do colégio e único que ajudou o sofredor Wheirdicht, não está exatamente estabelecida como ele queria. No colégio, ele era o aluno mais provável a ser bem sucedido, na vida real, Joyner se tornou um contador num trabalho chato, em uma empresa que não respeita.
A trama dará uma guinada com o ressurgimento da vítima de bullying, agora nas formas musculosas de Johnson, e usando a alcunha Bob Stone. O sujeito, no entanto, continua possuindo atitudes peculiares e outras tantas pra lá de esquisitas. Stone reencontra Joyner, a figura que tem como mártir por ter sido o único a se manifestar durante o cruel ato cometido contra ele. Mas o protagonista guarda alguns segredos de sua vida pessoal, logo arrastando o pacato contador para dentro de uma trama digna da mais elaborada Intriga Internacional.
Um Espião e Meio é um filme que transita em duas vertentes: por um lado funciona como um buddy movie – filme com duplas disfuncionais de amigos que precisam aprender a trabalhar junto; e por outro exibe uma trama de espionagem, na qual concentra-se grande parte da ação. Em casos assim, geralmente a “gordura” é retirada e desmerecida, já que o que importa mesmo é o núcleo da obra, sendo nesse caso o relacionamento entre os protagonistas. No entanto, a trama de mistério é equilibradamente significativa para Um Espião e Meio, pois traduz para o espectador os traços de personalidade (talvez abalada além da redenção) de um protagonista marcado com cicatrizes psicológicas e o que tal trauma pode ter acarretado em sua mente.
Um Espião e Meio nos deixa a cada cena perguntando sobre o verdadeiro caráter de Stone, um personagem dúbio e bem estruturado pelo roteiro e pela performance de Johnson. No outro segmento, o filme segue em perfeita sincronia igualmente, tendo em seu ponto alto a química perfeita entre Kevin Hart (o comediante número 1 dos EUA na atualidade) e Dwayne Johnson, que sabe como ninguém brincar com sua imagem de durão e tirar bastante sarro dela – este é provavelmente o filme que mais soube aproveitar o fato.
Um Espião e Meio pode não ser um filme que irá durar, mas é um ótimo entretenimento nos cinemas, funcionando como o Irmãos Gêmeos (1988) dessa geração – o contraponto da “torre” Johnson ao tampinha Hart funciona muito bem esteticamente. Além disso, numa comédia o que todos almejam é o humor e a graça, e isso o filme entrega em quantidade. Sobram piadas para a famosa pochete de Johnson (quem não viu aquela foto antiga vazada na internet na qual o ator exibia trejeitos de pagodeiro), que é incorporada na trama, participações especiais e atores reprisando seus bordões de programas famosos. E para terminar, as más línguas podem dizer que os poucos minutos da aparição de uma certa Caça-Fantasmas são mais satisfatórios do que sua participação inteira no filme citado. E não estariam completamente equivocadas.