Todo ano, um grande filme se destaca nos festivais de cinema e se transforma na grande sensação do momento. No último ano, tivemos o sensacional ‘Corra!’, dirigido por Jordan Peele. Neste ano, a grande sensação será ‘Um Lugar Silencioso’, roteirizado e dirigido por John Krasinski.
Inovador e extremamente assustador, o filme se encaixa em um novo subgênero do terror, que tem sido chamado pelos críticos de “terror pós-moderno”. São filmes que conseguem te aterrorizar sem apelar para sustos fáceis, usando poucos elementos e um roteiro inovador – vide ‘A Bruxa’ e ‘A Ghost Story’.
Nunca imaginei que um filme com poucos diálogos pudesse dialogar tanto com o público, e criar sensações das mais fortes possíveis: angústia, desespero, pavor, sufoco e suadouro. Criando uma clima assustador e mostrando a que veio logo nas primeiras cenas, ‘Um Lugar Silencioso’ consegue te aterrorizar sem utilizar o artifício dos diálogos, vide que dois terços do filme são praticamente mudos. E o silêncio pode ser ainda mais aterrorizante que o grito.
O clima aqui é pós-apocalíptico. Em uma fazenda no interior dos EUA, uma família é perseguida por entidades sinistras. Para se protegerem, eles devem permanecer em silêncio absoluto, a qualquer custo, pois o perigo é ativado pela percepção do som. O que é essa criatura? Porque ela é atraída pelo som? Como sobreviver?
Enquanto você se enche de perguntas, o roteiro escrito por Bryan Woods e Scott Beck, com a ajuda de Krasinski, vai te enchendo de uma tensão agonizante enquanto desenrola lentamente – mas de maneira poderosa – sua brilhante trama.
Tudo aqui funciona. Desde o clima até os sustos, que conseguem te fazer pular da cadeira, até os momentos de silêncio brilhantemente encenados pelo elenco sensacional.
Emily Blunt está em sua melhor forma em um dos papeis mais difíceis de sua carreira, interpretando uma mãe de família grávida que precisa se salvar e proteger os filmes dias antes de dar a luz… Tudo isso sem dizer uma palavra, apenas se expressando com a força do olhar. Uma atuação magistral.
Krasinski, marido de Blunt na vida real e diretor do filme, interpreta o pai de família com demônios internos para resolver, proporcionando a cena mais emocionante e triste do filme.
Temos também o ótimo Noah Jupe, que já havia se desataco como o Jack Will em ‘Extraordinário’.
Porém quem rouba a cena é a novata Millicent Simmonds, atriz mirim que realmente é surda na vida real e entrega uma atuação irretocável. O grande destaque do filme!
Quem diria que Krasinski, que comandou o pouco conhecido ‘Família Hollar’, tinha um diretor “classe A” dentro de si – de fazer inveja a Darren Aronofsky e M. Night Shyamalan.
Em um mundo silencioso, a trilha sonora de Marco Beltrami é praticamente um personagem, aliada com uma fotografia fria e belíssima que passa uma sensação de drama e tensão na medida ideal para que o filme nunca fique entediante.
‘Um Lugar Silencioso’ destroça os seus nervos e te aterroriza do começo ao fim, deixando aquela deliciosa sensação agridoce de medo e desespero quando as luzes do cinema se acendem.