Cada geração tem sua característica específica. A galerinha dos anos 2000 foi bastante marcada com a série de filmes ‘High School Musical’, que fez com que toda uma juventude crescesse sonhando como um mundo mais inclusivo, em que todos eram amigos e ver que tudo ficava bem no final das contas. Mas a real é que, na prática, os temas dos filmes giravam em torno apenas de relacionamentos amorosos e intrigas, o que tornava os personagens, a grosso modo, bastante vazios. Então este ano a mesma Disney decidiu resgatar esta fórmula e repaginá-la para os interesses da juventude atual. O resultado é o filme ‘Um Pacto de Amizade’, que chega no próximo dia 29 aos assinantes da Disney+.
Mandy (Peyton Elizabeth Lee) é uma garota com um objetivo: quer conquistar uma vaga em Harvard, para estudar na faculdade onde seus ídolos se formaram. Para isso, ela tem se dedicado firmemente na escola para conseguir notas altas, porém, quando é colocada para uma lista de espera em Harvard a menina simplesmente surta. Disposta a apelar para conseguir uma vaga de qualquer jeito, Mandy segue o conselho da diretora (Margaret Cho) – conseguir uma carta de recomendação de alguém relevante na comunidade – e passa a se aproximar de Graham (Blake Draper), o gatinho-sensação da escola, líder do time de basquete Bulldogs, pois o pai dele é um relevante senador local. Em busca de conseguir seu objetivo, Mandy acaba colocando sua amizade com Ben (Milo Manheim) em risco, pois frequentemente o rapaz acaba ficando em segundo lugar.
O fato de a Disney voltar ao universo do high school pode parecer mais do mesmo, afinal, mesmo nós, brasileiros, já vimos um bocado de produções que se passam nesses últimos anos do ensino médio estadunidense. A diferença em ‘Um Pacto de Amizade’ é a ausência de determinados elementos clássicos de produções desse tipo (o malvadão que pratica o bullying, a humilhação constante, o bonitão vazio versus a nerd inteligente feia); no lugar, entram elementos e pautas mais relevantes nos debates dos jovens de hoje, como ativismo social, o feminismo, o respeito às diferenças e não julgar pelas aparências.
É bem verdade que os minutos iniciais do filme de Anya Adams passam a impressão de que estamos diante de uma protagonista bem chatinha, porque ela literalmente não tem interesse em nada e critica absolutamente tudo e todos, impedindo o próprio melhor amigo de se desenvolver socialmente. Entretanto, sem que percebamos, o roteiro vai transformando Mandy em uma garota que, em busca de seu objetivo, começa a descobrir o mundo ao seu redor, reconhecendo as próprias falhas de caráter, especialmente no quesito de julgar e enquadrar as pessoas por suas aparências. Por isso, sua relação com o gatinho Graham vai se tornando convincente, uma delicinha de irmos acompanhando.
Outra coisa bem gostosa em ‘Um Pacto de Amizade’ é que o roteiro de Anthony Lombardo, ainda que focado na protagonista, flutua entre o par de amigos Mandy e Ben, tendo sempre em mente essa amizade, sem forçar nada nem desviar o foco. Assim, ambos os personagens desenvolvem suas descobertas juvenis sem se adequarem ao formato “conto de fadas” trazido em produções como ‘High School Musical’, se aproximando, ao contrário, da realidade juvenil, não anulando os valores da protagonista por conta do que acontece no caminho.
‘Um Pacto de Amizade’ encontra o bom equilíbrio entre ser fofo e maduro, mostrando que as mocinhas de hoje não estão (apenas) focadas em encontrar um príncipe encantado, e que nem todos os príncipes são (apenas) um rostinho bonito. Uma comédia romântica inspiradora a seu modo e divertido na medida para ver numa pausa entre os estudos.