sexta-feira , 27 dezembro , 2024

Crítica | Um Passado de Presente – Romance da Netflix é previsível, mas adorável

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Numa tarde do dia 18 de dezembro de 1334, em Norwich, Inglaterra, Sir Cole Lyons (Josh Whitehouse, bem caricato no papel) sai em uma caçada com outros cavaleiros, porém, no meio do caminho, encontra uma misteriosa senhora, que lhe dá um amuleto mágico e lança um desafio: para se tornar um verdadeiro cavaleiro, Sir Cole deverá completar uma missão até a véspera de Natal. Sem mais explicação, ele é transportado para a pequena Bracebridge, em Ohio, só que em 2019. Desnorteado, o rapaz (que está todo vestido com sua indumentária medieval) acaba levemente atropelado pela jovem Brooke Winters (Vanessa Hudgens, cada vez mais confortável em comédias românticas, mesmo fazendo papéis mais adultos agora), que, com dó do pobrezinho, acaba levando-o para casa até que ele recupere a memória.



Com uma premissa nem um pouco inovadora (a viagem no tempo/me apaixonei por alguém de outro tempo), ‘Um Passado de Presente’ parece um spin-off natalino da série de sucesso ‘Outlander’ (que tem o mesmo argumento, só que a mocinha viaja pro passado, e neste o mocinho viaja para o futuro), com um protagonista galante e fisicamente muito parecido com o herói Jamie Fraser, uma personagem chamada Claire (Emmanuelle Chriqui, irmã da protagonista) e um flerte com o passado, demonstrando o quanto antigamente os homens costumavam ser mais bem educados e cortejadores, enquanto nos dias de hoje eles são traidores ingratos.

O que mais chama a atenção em ‘Um Passado de Presente’ é o aspecto natalino, aproveitado em todas as ocasiões de composição de cena e de ambiente. É realmente tudo muito bonito, de encher os olhos. Já a história, apesar de partir de uma premissa bastante conhecida do grande público, dá a impressão de não ter muito desenvolvimento. Quer dizer, o público entende onde ela começa e adivinha como termina – até aí, nenhum problema (isso se chama clichê, e tá tudo bem, porque o público alvo das comédias românticas gosta e quer clichê). O problema do roteiro de Cara J. Russell é a passagem de tempo: porque Cole precisa resolver sua missão até o Natal, e a história começa uma semana antes, o filme fica sem elementos para preencher sete dias de passagem de tempo. Então, entre se conhecerem e o final feliz, o casal protagonista preenche os dias com atividades cotidianas como se fosse muito normal uma jovem deixar um desconhecido dormir na sua casa por uma semana. Se esse tempo tivesse sido de dois ou três dias, talvez os acontecimentos fossem mais aprofundados, as cenas não tivessem um corte tão abrupto e o espectador teria menos a sensação de estar vendo o dia a dia de um casalzinho.

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Apesar dessa barriga enorme entre o segundo e o terceiro ato, ‘Um Passado de Presente’ atinge o objetivo de aquecer o coração do espectador com uma historinha de amorzinho beeeeeem clichê, com uma sensação de bem-estar bastante propícia para essa época de Natal. De uma maneira mais solar e menos preocupada, o filme pode ser comparado a ‘Edward Mãos de Tesoura’, só que em vez de um Edward congelado, tímido e cobiçado por todos, temos um Sir Cole caricato, galanteador, romântico e que, de certa forma, é uma alegoria do turista – aquele que vem de fora e que precisa da ajuda dos locais para entender como tudo funciona. Em uma outra leitura, o contraste mundo medieval X mundo de hoje traz também uma crítica à modernidade e à mecanização, mostrando o quanto nós hoje perdemos ao nos tornarmos tão dependentes dos eletrônicos, em detrimento do fazer com as próprias mãos.

Um Passado de Presente’ não é o melhor filme de Natal, mas cumpre sua função de fazer sorrir os fãs de histórias natalinas, com um romance previsível mas adorável, que coloca Vanessa Hudgens como a nova rainha dos romances água com açúcar.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Crítica | Um Passado de Presente – Romance da Netflix é previsível, mas adorável

Numa tarde do dia 18 de dezembro de 1334, em Norwich, Inglaterra, Sir Cole Lyons (Josh Whitehouse, bem caricato no papel) sai em uma caçada com outros cavaleiros, porém, no meio do caminho, encontra uma misteriosa senhora, que lhe dá um amuleto mágico e lança um desafio: para se tornar um verdadeiro cavaleiro, Sir Cole deverá completar uma missão até a véspera de Natal. Sem mais explicação, ele é transportado para a pequena Bracebridge, em Ohio, só que em 2019. Desnorteado, o rapaz (que está todo vestido com sua indumentária medieval) acaba levemente atropelado pela jovem Brooke Winters (Vanessa Hudgens, cada vez mais confortável em comédias românticas, mesmo fazendo papéis mais adultos agora), que, com dó do pobrezinho, acaba levando-o para casa até que ele recupere a memória.

Com uma premissa nem um pouco inovadora (a viagem no tempo/me apaixonei por alguém de outro tempo), ‘Um Passado de Presente’ parece um spin-off natalino da série de sucesso ‘Outlander’ (que tem o mesmo argumento, só que a mocinha viaja pro passado, e neste o mocinho viaja para o futuro), com um protagonista galante e fisicamente muito parecido com o herói Jamie Fraser, uma personagem chamada Claire (Emmanuelle Chriqui, irmã da protagonista) e um flerte com o passado, demonstrando o quanto antigamente os homens costumavam ser mais bem educados e cortejadores, enquanto nos dias de hoje eles são traidores ingratos.

O que mais chama a atenção em ‘Um Passado de Presente’ é o aspecto natalino, aproveitado em todas as ocasiões de composição de cena e de ambiente. É realmente tudo muito bonito, de encher os olhos. Já a história, apesar de partir de uma premissa bastante conhecida do grande público, dá a impressão de não ter muito desenvolvimento. Quer dizer, o público entende onde ela começa e adivinha como termina – até aí, nenhum problema (isso se chama clichê, e tá tudo bem, porque o público alvo das comédias românticas gosta e quer clichê). O problema do roteiro de Cara J. Russell é a passagem de tempo: porque Cole precisa resolver sua missão até o Natal, e a história começa uma semana antes, o filme fica sem elementos para preencher sete dias de passagem de tempo. Então, entre se conhecerem e o final feliz, o casal protagonista preenche os dias com atividades cotidianas como se fosse muito normal uma jovem deixar um desconhecido dormir na sua casa por uma semana. Se esse tempo tivesse sido de dois ou três dias, talvez os acontecimentos fossem mais aprofundados, as cenas não tivessem um corte tão abrupto e o espectador teria menos a sensação de estar vendo o dia a dia de um casalzinho.

Apesar dessa barriga enorme entre o segundo e o terceiro ato, ‘Um Passado de Presente’ atinge o objetivo de aquecer o coração do espectador com uma historinha de amorzinho beeeeeem clichê, com uma sensação de bem-estar bastante propícia para essa época de Natal. De uma maneira mais solar e menos preocupada, o filme pode ser comparado a ‘Edward Mãos de Tesoura’, só que em vez de um Edward congelado, tímido e cobiçado por todos, temos um Sir Cole caricato, galanteador, romântico e que, de certa forma, é uma alegoria do turista – aquele que vem de fora e que precisa da ajuda dos locais para entender como tudo funciona. Em uma outra leitura, o contraste mundo medieval X mundo de hoje traz também uma crítica à modernidade e à mecanização, mostrando o quanto nós hoje perdemos ao nos tornarmos tão dependentes dos eletrônicos, em detrimento do fazer com as próprias mãos.

Um Passado de Presente’ não é o melhor filme de Natal, mas cumpre sua função de fazer sorrir os fãs de histórias natalinas, com um romance previsível mas adorável, que coloca Vanessa Hudgens como a nova rainha dos romances água com açúcar.

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Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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