Eddie Murphy eternizou uma série de papeis no cinema – e um dos mais famosos é, sem sombra de dúvida, o de Axel Foley na franquia ‘Um Tira da Pesada’. Enquanto o capítulo de estreia, lançado em 1984, conquistou a crítica e o público (e até mesmo faturou uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Original), as duas sequências foram grandes fracassos e pareciam ter sido produzidas apenas como uma investida money-grabber que, aparentemente, havia enterrado a saga policial. Todavia, a Netflix não perdeu tempo para embarcar na onda de revivals de clássicos e anunciou uma quarta entrada que, apesar de nos ter deixado com um pé atrás, elevou nossas expectativas.
E foi assim que nasceu ‘Um Tira da Pesada 4: Axel Foley’ – uma continuação-legado que viu a luz do dia trinta anos depois da terceira iteração. E, no geral, o longa-metragem segue os passos de títulos como ‘Bad Boys para Sempre’ e ‘Bad Boys Até o Fim’ como forma de celebrar uma nostalgia e uma modernização de incursões que outrora foram eternizadas por grandes nomes do cenário do entretenimento. Aqui, Murphy faz um trabalho admirável que o coloca mais uma vez no centro dos holofotes, reaviva o impacto causado pelo personagem que imortalizou – por mais que a narrativa se valha de convencionalismos do gênero e de fórmulas já vistas inúmeras vezes. De qualquer forma, o resultado é positivo e um bem-vindo retorno à forma para a saga de ação e comédia.
Na trama, Axel Foley (Murphy) é forçado a sair de Detroit e a voltar para Beverly Hills, às vésperas de uma aposentadora compulsória, após a filha, Jane (Taylour Paige), ser ameaçada por uma gangue perigosa ao aceitar trabalhar como advogada de defesa de um jovem que foi falsamente acusado de matar um policial. E isso não é tudo: Axel descobre que as ameaças estão conectadas a um caso de corrupção dentro do Departamento de Polícia local (cujos certos membros estão escondendo algo muito mais obscuro do que poderia imaginar). Assim, aliados a antigos colegas de profissão e ao ex-namorado de Jane, Bobby (Joseph Gordon-Levitt), pai e filha devem descobrir o que está acontecendo e colocar um fim nesse reino de caos e mentiras.
Ainda que não haja nada de novo dentro do gênero a ser apresentado aqui – afinal, temos o familiar filtro amarelado para representar Beverly Hills, arquétipos de personagens para dar ritmo ao desenrolar da narrativa e atos delineados a fim de seguir o padrão do estilo em questão -, é notável como Mark Molloy se mostra apaixonado ao aceitar o trabalho de direção. O cineasta faz sua estreia oficial no circuito de longas-metragens e demonstra conhecer a estética dos capítulos predecessores, seja na frenética montagem, seja nos icônicos enquadramentos que oscilam entre as suavidades de uma comicidade ácida e as tensões de um drama legal que dão as caras aqui e ali.
O roteiro também é estruturado com solidez pelas mãos de Will Beall, responsável pela criação da história, Tom Gormican e Kevin Etten. A princípio, este que vos escreve não costuma ser muito fã de uma colaboração em muitas mãos de um filme desse tipo – mas o trio une forças para um bem comum e não deseja dar um passo maior que a perna. As ousadias estão presentes justamente no comprometimento com a identidade promovida pela trilogia, sem fugir das obviedades ao abraçá-las por completo: sequências de ação bem coreografadas, diálogos que refletem a relação distanciada entre pai e filha e uma aliança “inesperada” que premedita as reviravoltas.
Para além da performance de Murphy, Paige tem tempo de tela o suficiente para nos encantar com uma cínica e fria atuação que denota seus problemas com o pai, enquanto Gordon-Levitt mostra que está se divertindo ao encarnar Bobby e ao ter um dos arcos mais condizentes dentro da trama. Como se não bastasse, Kevin Bacon (que também faz parte de outro grande projeto do ano, ‘MaXXXine’), rende-se ao papel do vilanesco e mortal Capitão Cade Grant, um dos membros do alto-escalão do Departamento de Polícia de Beverly Hills que está envolvido não apenas com um cartel de drogas, como tem suas digitais por toda a cena do crime que envolve o caso jurídico de Jane.
Contando com o retorno de amados personagens da saga original e de elementos nostálgicos e envolventes – incluindo a reimaginação da memorável trilha sonora, dessa vez assinada por Lorne Balfe -, ‘Um Tira da Pesada 4: Axel Foley’ é, como já mencionado, um aplaudível retorno à forma, por mais apaixonado que seja pelas primeiras iterações, sagrando-se como o melhor da franquia em nada menos que quatro décadas.