Dizem que as pessoas numa família se revelam de verdade quando o parente rico morre e o testamento está para ser aberto. É nesse momento que o amor acaba, a amizade é deixada de lado e o pior de cada um vem à tona: tudo em nome da possível herança a ser recebida. Já vimos esse tipo de situação em diversas abordagens diferentes nos cinemas e nos streamings, como, por exemplo, na série brasileira da Netflix ‘Nada Suspeitos’ (cuja crítica você pode ler aqui). Bem nessa pegada de mistério, suspense e comédia, chegou recentemente aos assinantes da gigante dos streamings o filme polonês ‘Uma Herança Inusitada’ (‘Spadek’), que vem se mantendo desde então no Top 10 da plataforma.
Uma notícia terrível pega a todos de surpresa na família: o tio Wladyslaw (Jan Peszek) acaba de falecer. Na verdade, ninguém fica exatamente triste com a notícia, pelo contrário: todos ficam de olho na possível herança a receber, uma vez que o titio era super rico. Isso faz com que a prima Natalia (Joanna Trzepiencinska), que é escritora de suspense, vá até a casa do titio junto com seu namorado, Gustaw (Piotr Pacek), bem como também vão o primo Karol (Mateusz Król) com o noivo Karol (Piotr Polak) e o primo Dawid (Maciej Stuhr), que leva a esposa Zofia (Gabriela Muskala) e os filhos Henryk (Franek Slominski) e Jozefina (Józefina Karnkowska) para lá. Uma vez a família toda reunida, vem a surpresa: na verdade titio não está morto, mas, para terem acesso à possível herança, todos deverão jogar um jogo formulado por ele. Só que uma reviravolta na história fará com que as relações familiares sejam colocadas em prova.
Seguindo o formato popular “who dunnit” (quem é o culpado?), criado pela escritora Agatha Christie, em que as pessoas são reunidas em um mesmo lugar em confinamento, um crime ocorre e todos automaticamente se tornam suspeitos, ao mesmo tempo em que é preciso descobrir a verdade, ‘Uma Herança Inusitada’ parte dessa fórmula para contar uma história leve e divertida recheada de cenários bem realizados pela direção de arte e cenografia. Os ambientes são todos altamente decorados, ambientados de acordo com a proposta da etapa do desafio em que os personagens estão, e cada cena se constrói como se os personagens estivessem dentro de uma sala estilo escape room, sendo tudo isso, ainda por cima, arrematado por tomadas mais afastadas de maquetes que, não fossem um olhar mais atento, facilmente enganaria como uma mansão real.
Ao misturar suspense, mistério e humor, a coisa toda acaba, por vezes, envergando para a improbabilidade, e não são poucas as vezes em que o roteiro simplesmente insere elementos que não se justificam ou sequer se explicam até o fim do filme. Talvez a intensão geral do diretor Sylwester Jakimow fosse apenas de contar uma história com bom humor, em que a construção das relações afetivas fosse o principal foco, maior até do que a veracidade dos fatos.
Nesse sentido, ‘Uma Herança Inusitada’ é um filme descontraído que faz uso do mistério e do humor para contar uma história sobre laços familiares e que deixa em segundo plano, inclusive, a investigação sobre o culpado do crime. Um filme bem passatempo, numa vibe Silvio Santos, para quem só quer desanuviar a cabeça.