Perder um ente querido não é fácil. A falta que a pessoa faz no núcleo em que estava inserida é sentida por todos que conviviam com ela, mesmo à distância. Quando a pessoa que partiu é um indivíduo-chave no meio familiar – aquele que toma todas as responsabilidades para si, cuja casa é o centro dos acontecimentos de todos os eventos, que cuida de tudo e de todos – há um desequilíbrio: o buraco que ela deixa é grande demais para qualquer um se achar na capacidade de minimamente preenchê-lo. É exatamente neste ponto que começa ‘Uma História de Natal Natalina’, continuação do clássico estadunidense ‘Uma História de Natal’, e que chegou agora aos assinantes da plataforma HBO Max.
Hoje adulto e pai de dois filhos, Ralphie Parker (Peter Billingsley) está tirando um ano sabático para realizar seu maior sonho: publicar seu primeiro romance. Só que o ano de 1973 está quase terminando e não só Ralphie não consegue terminar de escrever seu livro, como todas as editoras estão recusando-o. Numa mistura de frustração e resignação, sua família se prepara para receber seus pais para as festas de fim de ano. Porém, uma triste notícia pega-o desprevenido: seu pai falecera, e, portanto, sua mãe (Julie Hagerty) pede que ele e sua família vá até Cleveland passar o Natal com ela. Nesse retorno ao lar, Ralphie perceberá que estar de volta à famosa casa amarela da rua engatilha memórias reprimidas de sua infância. E também que o papel que seu pai exercia na família mantinha a todos unidos, mas agora essa responsabilidade será sua.
É bem verdade que o filme original de 1983 não fez tanto sucesso aqui no Brasil, mas quem é fã de filmes de Natal já assistiu a este clássico infantil. Com a importância de produzir uma sequência que ficasse à altura de seu antecessor, o roteiro de Nick Schenk e do próprio Peter Billingsley (que interpretara o menino no filme primevo) consegue fazer a passagem de bastão tanto na ficção quanto na vida real. No enredo, o maior conflito de Ralphie pode parecer ser escrever seu livro, mas, na verdade, é o peso da responsabilidade de construir um Natal tão memorável quanto os que seu pai proporcionara para ele e seu irmão, Randy (Ian Petrella). Aqui fora, a responsabilidade foi a de produzir um filme que significasse para as famílias contemporâneas aquilo que seu antecessor significara no século passado. E consegue ambos para a história criada por Jean Sheperd.
As soluções encontradas pelo diretor Clay Kaytis para resolver os flashbacks são adoráveis, inserindo diálogos do filme anterior tais quais memórias do protagonista, surgindo toda vez que algum objeto/cenário icônico entra em cena (a roupa ridícula de coelhinho rosa, a poltrona do papai, etc). Ao mesmo tempo, consegue também recriar as principais cenas do anterior (tais como as crianças sofrendo bullying na rua para aprenderem a se defender) de uma maneira respeitosa e afetiva, para que os fãs consigam identificar. Tudo isso encabeçado por um elenco que majoritariamente eram as crianças no filme anterior e agora voltam como adultos e seus hilários problemas de gente grande.
Com humor e nostalgia, ‘Uma História de Natal Natalina’ é uma tocante história sobre assumir responsabilidades junto à família. E nada melhor do que falar disso nas festas de fim de ano através do cinema.