segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Crítica | Una – a tênue linha entre a paixão e o crime

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Exorcizando um Pedófilo

O abuso contra mulheres e o abuso sexual de menores são crimes cada vez mais execráveis dentro de uma sociedade politicamente correta. No entanto, suas resoluções e julgamentos estão longe de serem simplistas, ao menos é o que propõem produções cinematográficas como Una.

Baseado na peça Blackbird, de 2005, Una tem roteiro do próprio autor do espetáculo David Harrower. O escritor mantém o nível intenso de sua proposta, sendo fiel ao espírito questionador, inquietante e destruidor de paradigmas de seu texto original. Na trama, conhecemos Una, uma jovem com o psicológico abalado. Na cena de abertura, ela se entrega a um desconhecido em uma boate para o sexo casual no banheiro. Seu retorno para casa soa como hino à derrota.



Ao longo da projeção descobrimos que Una foi molestada e estuprada quando tinha 12 anos de idade, por um vizinho bem mais velho, amigo de seu pai. Mais do que isso, o sujeito manteve com ela uma espécie de relacionamento de meses. Descoberto, o homem é preso e passa anos encarcerado. Quando solto, o criminoso assume outra identidade, inicia uma família e arranja emprego, tentando apagar seu sórdido passado. A trama se desenrola quando Una, agora com 27 anos, encontra o fantasma de seu passado e decide confrontá-lo em seu local de trabalho.

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Una marca a estreia na direção de filmes para o cinema de Benedict Andrews, cineasta até o momento sem grandes trabalhos em sua carreira, que definitivamente estreia com o pé direito, criando uma obra sutil e delicada, e lidando com temas que são pura explosão controversa. A construção de seu primeiro filme marcante é toda feita quase como uma peça teatral, favorecendo muito os diálogos em locais fechados – em especial os mais importantes. Mas Andrews também usa bem as externas e momentos contemplativos, de silêncio, que igualmente dizem muito de seus personagens e favorecem a narrativa.

Para tais construções, Andrews acerta na escalação de Rooney Mara e Ben Mendelsohn como os protagonistas. Mara é uma das melhores atrizes de sua geração e possui duas indicações ao Oscar (interpretando personagens bem distintas) em seu currículo para provar. Sua personagem em Una (cujo nome dá título ao longa) bem que poderia ser definida como uma mistura das personagens que lhe renderam a honraria da Academia. Una possui o impulso e a verve de Lisbeth Salander (Millennium, 2011), ao mesmo tempo sendo doce e inocente como Therese Belivet (Carol, 2015). Mara, como de costume, se entrega desempenhando cenas corajosas. Mendelsohn, também um ator com grande abrangência performática, atinge níveis diferentes com seu vilão monstruoso, que de tão humanizado pelo ator, se torna quase identificável, ou ao menos compreensível.

Um dos grandes acertos de Una é não demonizar e sequer julgar seus personagens. Pelo contrário, o caminho aqui é o de exorcizar os pecados de ambas as partes deste espectro. É realmente tentar entender as camadas da face do mal, e a plausibilidade das ações da muito tumultuada e imprevisível psique humana, a cada novo passo traçando limites para o aceitável, ou o oposto. Sem tomar qualquer partido que seja, o cineasta e em especial o autor joga para sua audiência as interpretações e julgamentos; muitos dos quais, ou a maioria, como de costume, renderão conclusões e pensamentos precipitados e convictos. Já Una, passa longe disso, sem ter tais pretensões.

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Baseado na peça Blackbird, de 2005, Una tem roteiro do próprio autor do espetáculo David Harrower. O escritor mantém o nível intenso de sua proposta, sendo fiel ao espírito questionador, inquietante e destruidor de paradigmas de seu texto original. Na trama, conhecemos Una, uma jovem com o psicológico abalado. Na cena de abertura, ela se entrega a um desconhecido em uma boate para o sexo casual no banheiro. Seu retorno para casa soa como hino à derrota.

Ao longo da projeção descobrimos que Una foi molestada e estuprada quando tinha 12 anos de idade, por um vizinho bem mais velho, amigo de seu pai. Mais do que isso, o sujeito manteve com ela uma espécie de relacionamento de meses. Descoberto, o homem é preso e passa anos encarcerado. Quando solto, o criminoso assume outra identidade, inicia uma família e arranja emprego, tentando apagar seu sórdido passado. A trama se desenrola quando Una, agora com 27 anos, encontra o fantasma de seu passado e decide confrontá-lo em seu local de trabalho.

Una marca a estreia na direção de filmes para o cinema de Benedict Andrews, cineasta até o momento sem grandes trabalhos em sua carreira, que definitivamente estreia com o pé direito, criando uma obra sutil e delicada, e lidando com temas que são pura explosão controversa. A construção de seu primeiro filme marcante é toda feita quase como uma peça teatral, favorecendo muito os diálogos em locais fechados – em especial os mais importantes. Mas Andrews também usa bem as externas e momentos contemplativos, de silêncio, que igualmente dizem muito de seus personagens e favorecem a narrativa.

Para tais construções, Andrews acerta na escalação de Rooney Mara e Ben Mendelsohn como os protagonistas. Mara é uma das melhores atrizes de sua geração e possui duas indicações ao Oscar (interpretando personagens bem distintas) em seu currículo para provar. Sua personagem em Una (cujo nome dá título ao longa) bem que poderia ser definida como uma mistura das personagens que lhe renderam a honraria da Academia. Una possui o impulso e a verve de Lisbeth Salander (Millennium, 2011), ao mesmo tempo sendo doce e inocente como Therese Belivet (Carol, 2015). Mara, como de costume, se entrega desempenhando cenas corajosas. Mendelsohn, também um ator com grande abrangência performática, atinge níveis diferentes com seu vilão monstruoso, que de tão humanizado pelo ator, se torna quase identificável, ou ao menos compreensível.

Um dos grandes acertos de Una é não demonizar e sequer julgar seus personagens. Pelo contrário, o caminho aqui é o de exorcizar os pecados de ambas as partes deste espectro. É realmente tentar entender as camadas da face do mal, e a plausibilidade das ações da muito tumultuada e imprevisível psique humana, a cada novo passo traçando limites para o aceitável, ou o oposto. Sem tomar qualquer partido que seja, o cineasta e em especial o autor joga para sua audiência as interpretações e julgamentos; muitos dos quais, ou a maioria, como de costume, renderão conclusões e pensamentos precipitados e convictos. Já Una, passa longe disso, sem ter tais pretensões.

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