Tem gente que diz que um clássico é um clássico. A real é que isso pode até se é verdade, mas só até os direitos autorais desta obra cair em domínio público. Quando isso acontece as mentes criativas do mundo inteiro ficam em polvorosa, criando e recriando versões alternativas que trazem tramas e personagens conhecidos do grande público em situações bem distintas daquelas com as quais se tornaram famosos. Isso aconteceu com Jane Austen e o clássico ‘Orgulho e Preconceito’, que caiu nas graças da galera do terror e virou ‘Orgulho e Preconceito e Zumbis’ – livro que ganhou versão também nos cinemas. Recentemente, ocorreu o mesmo com o Ursinho Pooh, que foi recolocado em uma versão bem mais adulta no filme de terror ‘Ursinho Pooh – Sangue e Mel’, estreia da semana nos cinemas brasileiros.
Quando criança, Christopher Robin (Nikolai Leon) era muito amigo das criaturinhas do Bosque dos 100 Acres, com as quais aparentemente apenas ele se relacionava. Durante sua infância seus melhores amigos foram Pooh, Leitão, Tigrão, Ió e Corujão. Porém, quando cresceu e foi para a cidade estudar medicina, teve que deixar os amigos na floresta sozinhos. Acontece que os bichinhos não reagiram muito bem a esse abandono, e, incapazes de se virarem sozinhos, passaram fome e tiveram que tomar drásticas decisões. A partir daí a vida desses animais muda completamente. Obcecados com a vingança, Pooh e seus amigos se tornam serial killers, que atacam e comem os visitantes do Bosque dos 100 Acres.
‘Ursinho Pooh – Sangue e Mel’ é puro nonsense. Na verdade, o roteiro de Rhys Frake-Waterfield e A. A. Milne é dividido em três partes: a abertura, feita em técnica de animação, que conta basicamente a sinopse acima; uma segunda parte composta por um curta de live-action, trazendo o reencontro de Christopher Robin com Pooh e seus amigos; e uma terceira parte, com mais de uma hora de duração, que traz uma história completamente nova, protagonizada por cinco mulheres que viajam juntas para uma casa, onde devem sobreviver aos ataques do ursinho amarelo assassino.
O curta de animação é muito bom, pois traz uma história original muito bem feita. O projeto dá a entender que pode ter sido um somatório de outros projetos que conduziram ao que hoje entendemos como o longa-metragem ‘Ursinho Pooh – Sangue e Mel’, pois são dois curtas e um longa colocados lado a lado para compor o todo do projeto.
Para quem tá indo ver o filme por conta da pegada do terror vale salientar que o longa é do estilo slasher com gore. Os únicos personagens que aparecem são Pooh e Leitão; entretanto, ambos se tornaram serial killers estilo Jason de ‘Halloween’, que matam sem dó nem piedade e ainda o fazem com um toque de sadismo pelo simples prazer de matar. Mais ainda: eles comem carne humana, o que é simplesmente tosco e hilário de assistir – e, por outro lado, é bastante plausível, uma vez que tanto um urso quanto um porco têm seus lados agressivos.
Não passa despercebido que muitas das cenas lembram técnicas vistas comumente em filmes pornô e eróticos: muitas das vítimas, a maioria mulheres, são amarradas com estilos de nós bastante usado no bdsm, além de algumas cenas serem bastante salientes. Soma-se a isso uma chuva de atitudes dos personagens que não faz o menor sentido, mas que arrancam gargalhadas por conta do surrealismo da coisa toda.
‘Ursinho Pooh – Sangue e Mel’ é tão ruim, que diverte, seja pela criatividade de seus realizadores, seja pelas cenas de cabeças explodindo e sangue jorrando que conduzem a jornada de matança dos bichinhos não tão fofinhos. Um filme que já nasce um clássico do cinema zueira underground.