domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Venom: Tempo de Carnificina – O romance de Eddie Brock e Venom agrada mais que o filme anterior

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Não é de hoje que a Sony Pictures acalenta a ideia de fazer um filme do Venom, desde os tempos áureos em que Tobey Maguire vestia o manto do Homem-Aranha, o estúdio já pretendia, após o terceiro filme, emendar um spin-off do vilão. Algo que também deveria acontecer na passagem de Andrew Garfield pelo Teioso, após o arco do Sexteto Sinistro. No entanto, como sabemos, ambas as empreitadas foram interrompidas e a coisa não andou. Após muita conversa, o Homem-Aranha aportou no universo da Marvel Studios numa parceria inédita com a Sony. Agora com um ator bem mais novo, Tom Holland, a figura do herói foi reconstruída e “atualizada” para funcionar melhor com os Vingadores. E tudo deu muito certo, tanto a participação do Aranha em Guerra Civil (2016) quanto em Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017).

Agora com o Amigão da Vizinhança sob a batuta temporária da Casa das Ideias, a Sony teve tempo para organizar um novo universo e utilizar os conhecidos vilões do personagem, como Kraven, Morbius e, claro, Venom, que ainda em 2018 ganhou finalmente sua primeira aventura solo. E mesmo sendo o filme visualmente desagradável e possuindo apenas um remendo de roteiro para a trama, a presença de Tom Hardy no papel de Eddie Brock e toda veia cômica misturadas aos (de)efeitos visuais, que pareciam tiradas do filme Spawn – O Soldado do Inferno (1997), foram suficientes para a produção e o personagem caírem nas graças do público. Tanto que deu muita grana e imediatamente encomendaram uma sequência, agora sem o diretor original, Ruben Fleischer, que estava ocupado em outra continuação da série zumbi que o revelou como cineasta, Zombieland.



Para substituir Fleischer, a Sony tentou trazer realizadores como Travis Knight, que tinha feito o ótimo Bumblebee (2018), e Rupert Wyatt, do primeiro Planeta dos Macacos (2011). Ambos não toparam, mas o membro mais famoso da franquia dos símios, Andy Serkis, tinha sido contratado para ajudar com os elementos de CGI pela sua vasta experiência de marcantes personagens digitais como Gollum e o próprio macaco Ceaser. Serkis também comandou a adaptação de Mogli da Netflix, que, mesmo com um orçamento mais modesto, não ficou devendo a Disney. O filme, aliás, usava e abusava das cenas em CGI e não fazia feio. Após isso, os executivos da Sony perceberam que tinham contratado a pessoa certa para comandar o segundo Venom, e foi exatamente o que aconteceu, Andy Serkis assumiu o comando.

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O então chamado Venom – Tempo de Carnificina segue a pegada bem humorada do primeiro e adiciona ainda mais cenas cômicas que funcionam graças a desenvoltura de Tom Hardy. Ainda que exagere em alguns momentos, o ator possui um tom cômico ideal para ambos os personagens e consegue imprimir uma forte energia nos andamentos mais movimentados. Digo ‘personagens’ porque, de fato, Eddie Brock e Venom possuem personalidades bem diferentes, com a criatura alienígena soando como uma espécie de entidade vista em O Máskara (1994). Eddie é sempre receoso, tenta evitar brigas e seguir uma vida normal, já Venom vive um dilema que o atormenta por demais, pois quer devorar novas cabeças e é barrado pelo Eddie. Contudo o Venom literalmente ama o Eddie, ou pelo menos o seu corpo que usa como avatar. Por outro lado, Eddie percebe que, após se fundir com o Venom, ganhou mais coragem e começou a fazer coisas que melhoraram sua vida.

O dilema em questão não acontece por acaso, já que, em diversos momentos, fica clara a intenção de Andy Serkis em criar uma espécie de romance entre a figura do Eddie e com o Venom. E não para ali no campo da amizade ou das divergências de opinião, o sentimento é para além do físico. Os dois estão numa DR constante que, no fim das contas, acaba sendo a coisa mais legal da longa. O ápice acontece em dois momentos específicos: primeiro na cena que ocorre numa boate e traz o Venom falando que alienígenas também tem sentimentos e o Eddie precisa entender; e depois quando o monstrengo se funde ao corpo da ex-namorada do Eddie, Anne Weying (Michelle Williams), e pede que Brock se desculpe de maneira especial, pois só assim ele vai voltar e penetrar o seu corpo. Querem alegoria maior que essa? Bom, nós teríamos, pois o subtítulo oficial desse novo Venom seria O Amor Vai nos Separar – é sério! Só podemos dizer que isso é uma certo e tanto para o filme.

Este que, sim, é melhor que o primeiro, mas ainda tão problemático quanto. A começar pelo visual pobre e a maioria dos momentos de maior ação continuarem genéricos. Talvez alguns cenários sejam mais inspirados dessa vez, como o manicômio e a igreja, mas todo apelo estético se mostra artificial, onde claramente vemos a utilização nada sutil de efeitos digitais grosseiros de maneira geral, podendo tirar toda credibilidade do espectador – mas certamente não a do público alvo, que vai se deleitar ao ver, pela primeira vez nos cinemas, Venom e Carnificina trocando simbiontadas e explodindo a cidade.

Nesse sentido, o Cletus Kasady de Woody Harrelson confere um ar alucinado que contrasta com a animalidade de Venom. Harrelson que foi escolhido a dedo por Ruben Fleischer que enxergou em Assassinos Por Natureza (1994), um dos grandes papéis da carreira do ator, o Carnificina que queria. E a nível de história, Tempo de Carnificina é um pouquinho mais criativo que o original, por apresentar o passado de Kasady e sua parceira Frances Barrison (Naomie Harris), que vai desempenhar um papel “importante” no ato final. No entanto tudo é muito telegrafado e didático, com acontecimentos que você já sabe onde vão dar, perdendo qualquer noção de perigo.

De maneira geral, Venom – Tempo de Carnificina deve atender perfeitamente o seu público alvo, que nem vai perceber o romance em aqui destacado. O filme tem muita ação, humor e desenvolve mais ainda o anti-herói. Ainda que o melhor fique mesmo para a cena pós-créditos, que a essa altura deixou a internet em polvorosa e fez muita gente criar as mais insanas teorias em relação ao rumo desse novo universo arquitetado pela Sony e por que não dizer a Marvel. Contudo se você não aguenta mais ver super-heróis nos cinemas e todo escapismo latente dessas produções, passe longe disso aqui.

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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Agora com o Amigão da Vizinhança sob a batuta temporária da Casa das Ideias, a Sony teve tempo para organizar um novo universo e utilizar os conhecidos vilões do personagem, como Kraven, Morbius e, claro, Venom, que ainda em 2018 ganhou finalmente sua primeira aventura solo. E mesmo sendo o filme visualmente desagradável e possuindo apenas um remendo de roteiro para a trama, a presença de Tom Hardy no papel de Eddie Brock e toda veia cômica misturadas aos (de)efeitos visuais, que pareciam tiradas do filme Spawn – O Soldado do Inferno (1997), foram suficientes para a produção e o personagem caírem nas graças do público. Tanto que deu muita grana e imediatamente encomendaram uma sequência, agora sem o diretor original, Ruben Fleischer, que estava ocupado em outra continuação da série zumbi que o revelou como cineasta, Zombieland.

Para substituir Fleischer, a Sony tentou trazer realizadores como Travis Knight, que tinha feito o ótimo Bumblebee (2018), e Rupert Wyatt, do primeiro Planeta dos Macacos (2011). Ambos não toparam, mas o membro mais famoso da franquia dos símios, Andy Serkis, tinha sido contratado para ajudar com os elementos de CGI pela sua vasta experiência de marcantes personagens digitais como Gollum e o próprio macaco Ceaser. Serkis também comandou a adaptação de Mogli da Netflix, que, mesmo com um orçamento mais modesto, não ficou devendo a Disney. O filme, aliás, usava e abusava das cenas em CGI e não fazia feio. Após isso, os executivos da Sony perceberam que tinham contratado a pessoa certa para comandar o segundo Venom, e foi exatamente o que aconteceu, Andy Serkis assumiu o comando.

O então chamado Venom – Tempo de Carnificina segue a pegada bem humorada do primeiro e adiciona ainda mais cenas cômicas que funcionam graças a desenvoltura de Tom Hardy. Ainda que exagere em alguns momentos, o ator possui um tom cômico ideal para ambos os personagens e consegue imprimir uma forte energia nos andamentos mais movimentados. Digo ‘personagens’ porque, de fato, Eddie Brock e Venom possuem personalidades bem diferentes, com a criatura alienígena soando como uma espécie de entidade vista em O Máskara (1994). Eddie é sempre receoso, tenta evitar brigas e seguir uma vida normal, já Venom vive um dilema que o atormenta por demais, pois quer devorar novas cabeças e é barrado pelo Eddie. Contudo o Venom literalmente ama o Eddie, ou pelo menos o seu corpo que usa como avatar. Por outro lado, Eddie percebe que, após se fundir com o Venom, ganhou mais coragem e começou a fazer coisas que melhoraram sua vida.

O dilema em questão não acontece por acaso, já que, em diversos momentos, fica clara a intenção de Andy Serkis em criar uma espécie de romance entre a figura do Eddie e com o Venom. E não para ali no campo da amizade ou das divergências de opinião, o sentimento é para além do físico. Os dois estão numa DR constante que, no fim das contas, acaba sendo a coisa mais legal da longa. O ápice acontece em dois momentos específicos: primeiro na cena que ocorre numa boate e traz o Venom falando que alienígenas também tem sentimentos e o Eddie precisa entender; e depois quando o monstrengo se funde ao corpo da ex-namorada do Eddie, Anne Weying (Michelle Williams), e pede que Brock se desculpe de maneira especial, pois só assim ele vai voltar e penetrar o seu corpo. Querem alegoria maior que essa? Bom, nós teríamos, pois o subtítulo oficial desse novo Venom seria O Amor Vai nos Separar – é sério! Só podemos dizer que isso é uma certo e tanto para o filme.

Este que, sim, é melhor que o primeiro, mas ainda tão problemático quanto. A começar pelo visual pobre e a maioria dos momentos de maior ação continuarem genéricos. Talvez alguns cenários sejam mais inspirados dessa vez, como o manicômio e a igreja, mas todo apelo estético se mostra artificial, onde claramente vemos a utilização nada sutil de efeitos digitais grosseiros de maneira geral, podendo tirar toda credibilidade do espectador – mas certamente não a do público alvo, que vai se deleitar ao ver, pela primeira vez nos cinemas, Venom e Carnificina trocando simbiontadas e explodindo a cidade.

Nesse sentido, o Cletus Kasady de Woody Harrelson confere um ar alucinado que contrasta com a animalidade de Venom. Harrelson que foi escolhido a dedo por Ruben Fleischer que enxergou em Assassinos Por Natureza (1994), um dos grandes papéis da carreira do ator, o Carnificina que queria. E a nível de história, Tempo de Carnificina é um pouquinho mais criativo que o original, por apresentar o passado de Kasady e sua parceira Frances Barrison (Naomie Harris), que vai desempenhar um papel “importante” no ato final. No entanto tudo é muito telegrafado e didático, com acontecimentos que você já sabe onde vão dar, perdendo qualquer noção de perigo.

De maneira geral, Venom – Tempo de Carnificina deve atender perfeitamente o seu público alvo, que nem vai perceber o romance em aqui destacado. O filme tem muita ação, humor e desenvolve mais ainda o anti-herói. Ainda que o melhor fique mesmo para a cena pós-créditos, que a essa altura deixou a internet em polvorosa e fez muita gente criar as mais insanas teorias em relação ao rumo desse novo universo arquitetado pela Sony e por que não dizer a Marvel. Contudo se você não aguenta mais ver super-heróis nos cinemas e todo escapismo latente dessas produções, passe longe disso aqui.

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Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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