quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Verão de 1993 – Adultos são crianças e vice versa no drama familiar espanhol

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Filmes que retratam a infância costumam seguir linhas bastante rígidas e que tornam o nicho um tanto quanto repetitivo, pois ali seus personagens centrais são reduzidos a uma perspectiva que os obriga a carregar uma pureza e transcendência que não fazem jus a realidade de uma criança. A diferença entre os personagens adultos e os infantis está em um moralismo que explora extremos que os divide da seguinte forma: quando os adultos precisam das crianças para aprender uma grande lição de vida ou quando somente os adultos possuem o poder de salvar a juventude de uma grande catástrofe.

Na juventude há um espaço de transformação e descoberta que não deve ser achatado entre o equivoco de uma evolução e a enganosa beleza solene, há muito mais, e filmes como Tomboy, de Céline Sciamma, e De jueves a domingo, de Dominga Sotomayor Castillo, são exemplos claros de uma abordagem honesta sobre seres humanos em transição, sem grande poderes ou incompetências, apenas pessoas.



Verão de 1993 é o longa de estreia de Carla Simón e este se adapta de sua própria história à medida que a protagonista Frida (Laia Artigas) é seu alter ego. O longa narra o período que dá titulo à obra, que se trata precisamente do começo da mudança de Frida, saindo de Barcelona para uma região campestre da Espanha junto com seu tio Esteve (David Verdaguer), a sua esposa Marga (Bruna Cusí) e a filha do casal Anna (Paula Robles). A mudança ocorre e Frida é acolhida pelo tio como sua própria filha, pois seus pais biológicos morrem contaminados pelo vírus HIV.

Para Frida, o mundo ainda é um lugar de descobertas e ela ainda, apesar da saudade de seus pais, parece estar distante de absorver por completo o que se passou em sua vida e por isso, como qualquer outra criança, ela continua a levar sua rotina dentro de alguma normalidade. A diretora e roteirista acerta ao não tornar o filme uma obra de amenidades e meninices, a rotina ali tem um emprego poderoso que se revela em seu final catártico. Existe um crescente das frustrações dos personagens, do silenciamento de suas dores, o desenvolvimento das percepções. Esse desenvolvimento, inteligentemente, não é apenas o da criança  e tampouco o dos adultos sobre algo transcendente, mas sim o processo de descoberta daquelas pessoas enquanto um organismo com seus comportamentos, qualidades e falhas.

Verão de 1993 não se esgota como um filme sobre infância por desdobrar todas as suas instâncias com sensibilidade e sinceridade. Existe em Frida, em algumas passagens do longa, uma tentativa de ascender ao mundo adulto como é muito comum para sua idade, uma tentativa de ao imitar, sentir-se mais segura de si do mesmo modo que os adultos pareciam estar mesmo dentro de uma situação tão conturbada. Mas logo Frida percebe que a segurança que eles passam também é repleta do mesmo fingir da segurança dela e nesse momento é possível, dentre os conflitos que surgem em uma família, os lados começarem a ter uma maior compreensão.

Absolutamente todas as cenas são roubadas pelas duas jovens atrizes Laia Artigas e Paula Robles, que conferem uma incrível força aos seus papéis, e claro que há uma habilidade ímpar de Carla Simón em dirigi-las . O filme se encerra em uma cena que contrai todo o percurso de Frida até aquele momento quando ela, o tio e sua prima brincam e riem das cócegas que um faz no outro, Marga preocupada alerta que há o risco de alguém se machucar. Todos ainda riem quando subitamente Frida começa a chorar profundamente, ela não se machucou, mas se deu conta do que já sentia.

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Na juventude há um espaço de transformação e descoberta que não deve ser achatado entre o equivoco de uma evolução e a enganosa beleza solene, há muito mais, e filmes como Tomboy, de Céline Sciamma, e De jueves a domingo, de Dominga Sotomayor Castillo, são exemplos claros de uma abordagem honesta sobre seres humanos em transição, sem grande poderes ou incompetências, apenas pessoas.

Verão de 1993 é o longa de estreia de Carla Simón e este se adapta de sua própria história à medida que a protagonista Frida (Laia Artigas) é seu alter ego. O longa narra o período que dá titulo à obra, que se trata precisamente do começo da mudança de Frida, saindo de Barcelona para uma região campestre da Espanha junto com seu tio Esteve (David Verdaguer), a sua esposa Marga (Bruna Cusí) e a filha do casal Anna (Paula Robles). A mudança ocorre e Frida é acolhida pelo tio como sua própria filha, pois seus pais biológicos morrem contaminados pelo vírus HIV.

Para Frida, o mundo ainda é um lugar de descobertas e ela ainda, apesar da saudade de seus pais, parece estar distante de absorver por completo o que se passou em sua vida e por isso, como qualquer outra criança, ela continua a levar sua rotina dentro de alguma normalidade. A diretora e roteirista acerta ao não tornar o filme uma obra de amenidades e meninices, a rotina ali tem um emprego poderoso que se revela em seu final catártico. Existe um crescente das frustrações dos personagens, do silenciamento de suas dores, o desenvolvimento das percepções. Esse desenvolvimento, inteligentemente, não é apenas o da criança  e tampouco o dos adultos sobre algo transcendente, mas sim o processo de descoberta daquelas pessoas enquanto um organismo com seus comportamentos, qualidades e falhas.

Verão de 1993 não se esgota como um filme sobre infância por desdobrar todas as suas instâncias com sensibilidade e sinceridade. Existe em Frida, em algumas passagens do longa, uma tentativa de ascender ao mundo adulto como é muito comum para sua idade, uma tentativa de ao imitar, sentir-se mais segura de si do mesmo modo que os adultos pareciam estar mesmo dentro de uma situação tão conturbada. Mas logo Frida percebe que a segurança que eles passam também é repleta do mesmo fingir da segurança dela e nesse momento é possível, dentre os conflitos que surgem em uma família, os lados começarem a ter uma maior compreensão.

Absolutamente todas as cenas são roubadas pelas duas jovens atrizes Laia Artigas e Paula Robles, que conferem uma incrível força aos seus papéis, e claro que há uma habilidade ímpar de Carla Simón em dirigi-las . O filme se encerra em uma cena que contrai todo o percurso de Frida até aquele momento quando ela, o tio e sua prima brincam e riem das cócegas que um faz no outro, Marga preocupada alerta que há o risco de alguém se machucar. Todos ainda riem quando subitamente Frida começa a chorar profundamente, ela não se machucou, mas se deu conta do que já sentia.

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