sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | ‘Versace: American Crime Story’: Matt Bomer estreia na direção em um dos melhores episódios

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A luz do sol penetra as frestas de uma janela rústica na região conhecida como o “dedo” da península itálica. O delicado trabalho artesanal que alinha um belo vestido branco hipnotiza os olhos de um jovem Versace. Nato em seus traços, ele tenta reproduzir o dom de sua mãe, amplamente observado diariamente. O penúltimo episódio de The Assassination of Gianni Versace abre com essa sutileza, apenas para nos deparamos com um paralelo entre duas gerações de pais e filhos distintas, que quase teriam os mesmo valores, se não fossem suas motivações. Gianni e Andrew ficam frente a frente com os seus, em um capítulo que vai ao âmago do seio familiar para encontrar as profundas raízes que diferem um criador de um destruidor.



A psicologia estuda muito o comportamento dos filhos, em virtude dos ensinamentos de seus pais e em ‘Creator/Destroyer’ (‘Criador/Destruidor’, em tradução livre) não seria diferente. Marcando a estreia como diretor do talentoso ator Matt Bomer, o episódio caminha em direção para o nosso primeiro encontro com os Versace, na quente Miami, onde o estilista foi assassinado nas escadas de sua provençal mansão. Mas para isso, seguimos nessa narrativa inversa e concluímos o período histórico que nos faltava para entender quem foi Andrew Cunanan e o que o levou ao estilista. E como um quebra-cabeça cujas peças se espalhavam em uma grande mesa, encontramos aquela parte principal, que ligaria todos os pontos. Se achávamos que já conhecíamos as motivações do jovem narcisista, Ryan Murphy, Bomer e o roteirista Tom Rob Smith nos revelam que até então não tínhamos visto a imagem completa.

Neste capítulo, vemos Andrew em sua infância, sendo tratado como um príncipe. Em um contexto familiar abusivo, vislumbramos seu pai, Modesto Cunanan, um homem orgulhoso e cheio de pompa, que não anseia a conquista mediante o mérito, mas sim mediante o ego. Sua inversão de valores o torna um homem absolutamente doentio e agressivo, que teria grandes chances de ser um protagonista daquelas amadas histórias de superação, se não fosse prepotente demais para fazer as escolhas certas. Contrapondo a simplicidade da mãe de Versace, que ensina a vitória como fruto do trabalho árduo, Modesto é tudo menos um homem modesto e se envolve em uma mentira fálica, que é insistentemente ensinada ao seu filho favorito. Ser especial já não é uma questão de ser, mas sim parecer, a partir das mentiras que você conta. Desde que a verdade jamais apareça, o irreal pode sempre ser considerado real.

A construção do caráter de uma criança que também testemunhou sua mãe ser constantemente agredida é fragilizada e fundamentada em uma soberba que apenas um adulto poderia ensinar. Rasgando a inocência e pureza de um garoto que poderia ter outra trajetória, Modesto Cunanan é o íntimo da psique de Andrew, a voz que martelou princípios falhos, que geraram uma mente compulsiva e abusiva. Fruto dos próprios abusos emocionais de seu pai, maqueados como carinho e amor, ele é sim o reflexo de seu meio. E dentro de uma trama que recria alguns diálogos, nos tornando espectadores quase oniscientes, fatos reais são reconstituídos e nos ajudam a compreender como nasce um assassino. Pelas mãos de Matt Bomer, o roteiro de Smith ganha um simbolismo enorme, em uma exploração de luz e sombras que residem nos olhares e na linguagem corporal de um pai doentio e um filho carente pelo amor genuíno.

Direto dos palcos da Broadway, trocando o vigor do musical Miss Saigon pela sombria história de Versace, Jon Jon Briones brilha como aquele ator que nós, apaixonados por séries de TV e filmes, pouco ou nada conhecíamos. Deixando seu dom vocal e teatral nos bastidores, ele entrega uma atuação extasiante, preenchendo as lacunas da trama como Modesto Cunanan. De origem filipina, ele é também o retrato visual do patriarca e torna o penúltimo episódio um dos momentos mais brilhantes de toda a trajetória de The Assassination of Gianni Versace. Contracenando ao lado de Darren Criss, ele sustenta toda a narrativa, em uma dinâmica relacional assustadoramente hipnotizante. Como um pai doente e manipulador, ele faz sua introdução ao universo televisivo de maneira maestral.

Há apenas uma semana de distância do último capítulo, conseguimos compreender com mais precisão para onde Ryan Murphy pretendia nos levar dentro dessa jornada. Repassando os passos de Andrew Cunanan, olhamos para trás, revivendo a cada episódio um momento pivotante que marcaria futuramente as escadas da mansão de Gianni Versace. A reconstrução dos fatos e as pessoas afetadas pelo comportamento manipulador formam essa bela narrativa inversa, que encontra suas origens genuínas nos anos 80. Ao alcançarmos o marco zero, somos capazes de costurar aquelas linhas soltas que até então persistiam, nos direcionando para a tão aguardada series finale. The Assassination of Gianni Versace definitivamente encerra o ciclo sobre o assassino, nos levando pela mão para o ápice mais alto daquele assassinato testemunhado no primeiro episódio. Que venha a majestosa final.

 

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A psicologia estuda muito o comportamento dos filhos, em virtude dos ensinamentos de seus pais e em ‘Creator/Destroyer’ (‘Criador/Destruidor’, em tradução livre) não seria diferente. Marcando a estreia como diretor do talentoso ator Matt Bomer, o episódio caminha em direção para o nosso primeiro encontro com os Versace, na quente Miami, onde o estilista foi assassinado nas escadas de sua provençal mansão. Mas para isso, seguimos nessa narrativa inversa e concluímos o período histórico que nos faltava para entender quem foi Andrew Cunanan e o que o levou ao estilista. E como um quebra-cabeça cujas peças se espalhavam em uma grande mesa, encontramos aquela parte principal, que ligaria todos os pontos. Se achávamos que já conhecíamos as motivações do jovem narcisista, Ryan Murphy, Bomer e o roteirista Tom Rob Smith nos revelam que até então não tínhamos visto a imagem completa.

Neste capítulo, vemos Andrew em sua infância, sendo tratado como um príncipe. Em um contexto familiar abusivo, vislumbramos seu pai, Modesto Cunanan, um homem orgulhoso e cheio de pompa, que não anseia a conquista mediante o mérito, mas sim mediante o ego. Sua inversão de valores o torna um homem absolutamente doentio e agressivo, que teria grandes chances de ser um protagonista daquelas amadas histórias de superação, se não fosse prepotente demais para fazer as escolhas certas. Contrapondo a simplicidade da mãe de Versace, que ensina a vitória como fruto do trabalho árduo, Modesto é tudo menos um homem modesto e se envolve em uma mentira fálica, que é insistentemente ensinada ao seu filho favorito. Ser especial já não é uma questão de ser, mas sim parecer, a partir das mentiras que você conta. Desde que a verdade jamais apareça, o irreal pode sempre ser considerado real.

A construção do caráter de uma criança que também testemunhou sua mãe ser constantemente agredida é fragilizada e fundamentada em uma soberba que apenas um adulto poderia ensinar. Rasgando a inocência e pureza de um garoto que poderia ter outra trajetória, Modesto Cunanan é o íntimo da psique de Andrew, a voz que martelou princípios falhos, que geraram uma mente compulsiva e abusiva. Fruto dos próprios abusos emocionais de seu pai, maqueados como carinho e amor, ele é sim o reflexo de seu meio. E dentro de uma trama que recria alguns diálogos, nos tornando espectadores quase oniscientes, fatos reais são reconstituídos e nos ajudam a compreender como nasce um assassino. Pelas mãos de Matt Bomer, o roteiro de Smith ganha um simbolismo enorme, em uma exploração de luz e sombras que residem nos olhares e na linguagem corporal de um pai doentio e um filho carente pelo amor genuíno.

Direto dos palcos da Broadway, trocando o vigor do musical Miss Saigon pela sombria história de Versace, Jon Jon Briones brilha como aquele ator que nós, apaixonados por séries de TV e filmes, pouco ou nada conhecíamos. Deixando seu dom vocal e teatral nos bastidores, ele entrega uma atuação extasiante, preenchendo as lacunas da trama como Modesto Cunanan. De origem filipina, ele é também o retrato visual do patriarca e torna o penúltimo episódio um dos momentos mais brilhantes de toda a trajetória de The Assassination of Gianni Versace. Contracenando ao lado de Darren Criss, ele sustenta toda a narrativa, em uma dinâmica relacional assustadoramente hipnotizante. Como um pai doente e manipulador, ele faz sua introdução ao universo televisivo de maneira maestral.

Há apenas uma semana de distância do último capítulo, conseguimos compreender com mais precisão para onde Ryan Murphy pretendia nos levar dentro dessa jornada. Repassando os passos de Andrew Cunanan, olhamos para trás, revivendo a cada episódio um momento pivotante que marcaria futuramente as escadas da mansão de Gianni Versace. A reconstrução dos fatos e as pessoas afetadas pelo comportamento manipulador formam essa bela narrativa inversa, que encontra suas origens genuínas nos anos 80. Ao alcançarmos o marco zero, somos capazes de costurar aquelas linhas soltas que até então persistiam, nos direcionando para a tão aguardada series finale. The Assassination of Gianni Versace definitivamente encerra o ciclo sobre o assassino, nos levando pela mão para o ápice mais alto daquele assassinato testemunhado no primeiro episódio. Que venha a majestosa final.

 

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