sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | ‘Versace: American Crime Story’: Um vestido é um vestido

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Sete capítulos e um vislumbre de quem Versace foi, à sombra do temperamento doentio e soberbo de um jovem com uma lábia boa e um desejo voraz pelo poder, influência e – acima de tudo – aceitação e validação. The Assassination of Gianni Versace se aproxima cada vez mais de seu fim e novamente abre espaço para quem nós realmente queríamos ver em tela. Após um longo hiato distante dos nossos olhos, os irmãos Versace voltam a roubar a cena, com um brilhantismo tão encantador, que seu vigor é capaz de ofuscar o sadismo e a compulsão de Andrew Cunanan.



Nos primeiros minutos do primeiro capítulo da segunda temporada de American Crime Story tivemos uma concepção realista e amável das raízes de uma família italiana. O simbolismo de uma tradição de proximidade exala nos olhares, na tristeza e na linguagem corporal de seus personagens. Muito mais que uma família, Versace era uma casa. Um lar. Tanto a marca, como seus membros que assinam este sobrenome. E aqui, há dois episódios de seu fim, as linhas que tecem a fibra resistente que compõem a familiaridade amorosa entre Gianni e Donatella ganham ainda mais evidência e nos levam para o espaçoso e claro ateliê provençal, onde roupas eram desenhadas e um futuro inteiro se anunciava.

É interessante visualizar a própria Donatella nos olhos de Penélope Cruz. Com uma atuação emocional e até mesmo sensorial, é possível percebê-la. É notável o quão forte a morte de seu irmão lhe tornou. Mas muito mais que isso, é perceptível o quão voraz ela se consolidou a partir da vida dele. O amor existente entre ambos é tão sublime e puro, de um riqueza sinestésica que talvez só Ryan Murphy seria capaz de expressar, mediante sua própria e antiga admiração pelo estilista.

Em um episódio que mescla o passado original de Cunanan – antes das drogas, dos boys magias e dos relacionamentos obsessivos e opressores – ao remoto quase encontro com a morte de Versace, vemos de que forma a arte da moda ajuda a moldar um relacionamento enraizado pelo mesmo DNA. Enquanto a caçula se enrigece como uma mulher forte e capaz de ser uma designer, o irmão mais velho se fragiliza, diante daquela doença que marcou os anos 80 por dolorosas e repentinas mortes, mas que estava prestes a encontrar os fragmentos mais próximos de uma cura. Dentro deste contexto, revemos um dos momentos mais icônicos das passarelas de 1993: a concepção de um vestido que muito mais que uma peça de roupa para um evento de gala, é de fato um manifesto autoral feminista.

Com uma gola chocker e fivelas bem posicionadas no colo, Donatella percorreu o hall da festa de Centésimo Aniversário da Revista Vogue com um vestido preto de modelagem assimétrica, corpo feito em tule, marcado por um cinto de tachas douradas e um busto desenhado no formato de seus seios. Como uma arma, ele traz o tiro que ninguém esperava e marcou ali, sem muitas palavras e uma imagem hipnotizante, quem era a irmã Versace. Ali nascia a herdeira dos tecidos alegóricos, sem sequer saber que a morte de seu irmão viria por outra arma – literalmente – fatal. Sua presença, engrandecida em uma peça que por si só é um evento, marcaria o resto da vida da estilistas até os dias de hoje. Daquela insegurança refletida nos espelhos do ateliê italiano, ela passaria a ser a mulher forte que conduziu toda a transição de uma marca sem o seu dono. Ali se formava o seu emponderamento feminino, nascido de uma confiança manifesta através de um tecido fino.

Contando uma história extremamente importante para a construção da personagem e de seu irmão mais velho, ‘Ascent’ (‘Ascensão’, em tradução livre) é aquele episódio que traz uma narrativa gratificante. Mostrando que a moda é muito mais que belas roupas desfiladas em corpos esguios sobre um tapete vermelho, Murphy usa aquele vestido icônico para nos relatar um fato que se incorpora à cultura POP de maneira evidente. Tirando o brilho do arco de Cunanan, nos apaixonamos do jeito que esperávamos por Edgar Ramirez e Penélope Cruz, que personificam a trama que é tão mais importante que a própria morte do estilista: a perpetuidade de um dos nomes mais emblemáticos da alta costura.

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Nos primeiros minutos do primeiro capítulo da segunda temporada de American Crime Story tivemos uma concepção realista e amável das raízes de uma família italiana. O simbolismo de uma tradição de proximidade exala nos olhares, na tristeza e na linguagem corporal de seus personagens. Muito mais que uma família, Versace era uma casa. Um lar. Tanto a marca, como seus membros que assinam este sobrenome. E aqui, há dois episódios de seu fim, as linhas que tecem a fibra resistente que compõem a familiaridade amorosa entre Gianni e Donatella ganham ainda mais evidência e nos levam para o espaçoso e claro ateliê provençal, onde roupas eram desenhadas e um futuro inteiro se anunciava.

É interessante visualizar a própria Donatella nos olhos de Penélope Cruz. Com uma atuação emocional e até mesmo sensorial, é possível percebê-la. É notável o quão forte a morte de seu irmão lhe tornou. Mas muito mais que isso, é perceptível o quão voraz ela se consolidou a partir da vida dele. O amor existente entre ambos é tão sublime e puro, de um riqueza sinestésica que talvez só Ryan Murphy seria capaz de expressar, mediante sua própria e antiga admiração pelo estilista.

Em um episódio que mescla o passado original de Cunanan – antes das drogas, dos boys magias e dos relacionamentos obsessivos e opressores – ao remoto quase encontro com a morte de Versace, vemos de que forma a arte da moda ajuda a moldar um relacionamento enraizado pelo mesmo DNA. Enquanto a caçula se enrigece como uma mulher forte e capaz de ser uma designer, o irmão mais velho se fragiliza, diante daquela doença que marcou os anos 80 por dolorosas e repentinas mortes, mas que estava prestes a encontrar os fragmentos mais próximos de uma cura. Dentro deste contexto, revemos um dos momentos mais icônicos das passarelas de 1993: a concepção de um vestido que muito mais que uma peça de roupa para um evento de gala, é de fato um manifesto autoral feminista.

Com uma gola chocker e fivelas bem posicionadas no colo, Donatella percorreu o hall da festa de Centésimo Aniversário da Revista Vogue com um vestido preto de modelagem assimétrica, corpo feito em tule, marcado por um cinto de tachas douradas e um busto desenhado no formato de seus seios. Como uma arma, ele traz o tiro que ninguém esperava e marcou ali, sem muitas palavras e uma imagem hipnotizante, quem era a irmã Versace. Ali nascia a herdeira dos tecidos alegóricos, sem sequer saber que a morte de seu irmão viria por outra arma – literalmente – fatal. Sua presença, engrandecida em uma peça que por si só é um evento, marcaria o resto da vida da estilistas até os dias de hoje. Daquela insegurança refletida nos espelhos do ateliê italiano, ela passaria a ser a mulher forte que conduziu toda a transição de uma marca sem o seu dono. Ali se formava o seu emponderamento feminino, nascido de uma confiança manifesta através de um tecido fino.

Contando uma história extremamente importante para a construção da personagem e de seu irmão mais velho, ‘Ascent’ (‘Ascensão’, em tradução livre) é aquele episódio que traz uma narrativa gratificante. Mostrando que a moda é muito mais que belas roupas desfiladas em corpos esguios sobre um tapete vermelho, Murphy usa aquele vestido icônico para nos relatar um fato que se incorpora à cultura POP de maneira evidente. Tirando o brilho do arco de Cunanan, nos apaixonamos do jeito que esperávamos por Edgar Ramirez e Penélope Cruz, que personificam a trama que é tão mais importante que a própria morte do estilista: a perpetuidade de um dos nomes mais emblemáticos da alta costura.

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