quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | Voldemort: A Origem do Herdeiro – Filme feito por fãs funciona

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Os Fãs em Primeiro Plano

O advento da internet, e seu avanço incontrolável, trouxe inúmeros benefícios à forma como vivemos hoje. E para o mundo do cinema o mesmo aconteceu, claro, não se livrando totalmente de seus efeitos colaterais. Antes, quando os fãs estavam insatisfeitos com algum elemento dentro de uma produção, precisam escrever cartas (muitas vezes ignoradas) para os estúdios – foi o caso com o protesto contra Michael Keaton ser eleito como Batman em 1989. Hoje, os milhões de vozes na internet dificilmente podem ser silenciadas, e para o bem ou para o mal ajudam a moldar produções cinematográficas, num feedback quase em tempo real.

É claro que tal artifício também ajuda a criar cada vez mais crianças mimadas (e adultos também), precisando ter sua vontade satisfeita acima de qualquer coisa – ei, mas não foi sempre assim na lei da oferta e demanda, afinal é “dê ao público/consumidor o que ele quer”. Com o cinema, no entanto, podemos dizer que o buraco é mais embaixo, e sempre coube a diretores (ao menos os bons, vide Hitchcock e Kubrick) desafiar seu público, mostrando algo de difícil acesso e digestão, e o colocando para pensar um pouco fora da caixinha. Bem, todo esse discurso de abertura para dizer que a internet, que deu voz ao público, também o possibilitou criar – pois é, tem gente que prefere pôr a mão na massa e não apenas ficar de mimimi reclamando.



E assim chegamos a este Voldemort: A Origem do Herdeiro, produção independente italiana (sim, você leu certo, italiana!), que nada tem a ver com a franquia oficial de Harry Potter, da Warner e J.K. Rowling. Você certamente já ouviu falar das fanfics, literatura amadora criada por fãs, expandindo o universo de seus personagens preferidos, sem os direitos para serem comercializados. Pois bem, numa dessas obras literárias extraoficiais, foi aonde uma tal de E.L. James se deu muito bem. A moça começou a “carreira” escrevendo histórias “expandidas” de Crepúsculo. Seu próximo passo foi criar seu próprio livro, com Cinquenta Tons de Cinza e suas continuações. Hoje, James é milionária enquanto nós ficamos chupando o dedo. Com a internet, o mesmo começa a ocorrer no cinema.

 

Sem os direitos sobre seus personagens preferidos, muitos cineastas amadores começam a produzir seus filmes de fã, e soltar na internet. Com franquias de horror, como Sexta-feira 13, A Hora do Pesadelo e Halloween, já aconteceu muito. O uruguaio Fede Alvarez conseguiu emprego como diretor no remake de A Morte do Demônio (2013) ao lançar seu curta Panic Attack (2009) no Youtube, e com ele fazer um baita sucesso. Hoje, é um dos jovens cineastas de maior promessa em Hollywood. Outro caso foi o do sul africano Neill Blomkamp, que já era um cineasta de nome, mas conseguiu um acordo (que ainda não se concretizou) com a FOX ao expôr suas artes para uma possível sequência de Alien na internet. Ou seja, a força desta vitrine atualmente é inegável.

Agora, uma das mais ambiciosas estreia no Youtube, se tornando a produção do gênero mais acessada da história do site de vídeos. Lançado ontem, sábado 13 de janeiro, Voldemort: A Origem do Herdeiro pode render em breve fama e sucesso para seu criador, o italiano Gianmaria Pezzato, que escreveu o roteiro, dirigiu e cuidou da edição e efeitos especiais. Bem, e é seguro dizer que o resultado ficou de primeira linha, não devendo nada (ou quase nada) às produções hollywoodianas. Se formos levar em conta se tratar de uma produção “amadora” independente, os efeitos e a edição ficam ainda mais impressionantes.

A trama, que serve como um adendo ao universo de Harry Potter, mostrado em especial nos filmes da franquia original (oito ao total) – sem levarmos em conta os derivados em vigor, de Animais Fantásticos – é focada numa parcela da vida de Tom Riddle, o jovem que viria a se transformar no grande vilão deste universo, Lorde Voldemort. Na realidade, o média-metragem de 50 minutos de duração, não foca muito em como Riddle (aqui interpretado por Stefano Rossi) foi seduzido pelo “lado sombrio”, e já mostra o futuro Lorde das Sombras dono de suas tendências malignas – creio que ele sempre foi assim.

Quando a história começa, Grisha McLaggen (Maddalena Orcali) está tentando invadir uma base de bruxos russos para recuperar um item, o diário de Tom Riddle, artefato que é o grande McGuffin de Harry Potter e a Câmara Secreta (2002), e igualmente se mostra primordial aqui. Capturada, ela passa o filme contando sua história através de flashbacks, sobre seu envolvimento com Riddle e o grupo de quatro colegas, todos descendentes diretos das principais casas de Hogwarts: Sonserina, Corvinal, Lufa-Lufa e Griffinória. Figuras lendárias deste universo, como Dumbledore e Grindelwald (personagem de Johnny Depp nos novos derivados) são mencionados e servem como peças para esta trama, sem de fato darem as caras.

O único momento em que Voldemort: A Origem do Herdeiro deixa a desejar é nos diálogos, que soam estranhos, como se tivessem sido dublados em inglês. Na página do filme no IMDB, encontramos a Itália como país de produção, mas o inglês como a língua falada. Ao assistirmos ao filme, no entanto, podemos notar que algo não bate muito bem, como uma falta de sincronia do som que ouvimos com a boca dos atores – em alguns momentos inclusive é visível que não estão proferindo tais diálogos em inglês (como na cena dos quatro descendentes duelando). Em outros trechos reparamos closes excessivos nos olhos, em situações que deveriam ser dramáticas e mostrar todo o rosto de seus interlocutores. Talvez um artifício para esconder suas bocas, que não estariam entregando o texto exato. Mas estes são detalhes menores dentro de uma produção tão bem trabalhada e bem cuidada.

Voldemort: A Origem do Herdeiro talvez seja exclusivamente recomendado para todos os aficionados e entusiastas do universo de Harry Potter. O que não é o meu caso. Gosto dos filmes, mas não sou um fã. Os analiso unicamente do ponto de vista fílmico, e aí é inegável a sua qualidade. Creio que este é o maior elogio e aval que um filme pode receber, quando consegue conquistar alguém que não é especificamente seu público-alvo, já que os fãs irão comprar qualquer coisa relacionada ao seu objeto de afeto. Mesmo aparentando o episódio piloto de uma série (por seu tempo de duração), Voldemort sobressai e consegue ser melhor do que muita produção profissional, tanto na TV quanto no cinema. Acima de tudo, demonstra a força que os fãs – mesmo os não americanos – possuem e são capazes de realizar. Nada mais posso acrescentar além de parabéns.

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É claro que tal artifício também ajuda a criar cada vez mais crianças mimadas (e adultos também), precisando ter sua vontade satisfeita acima de qualquer coisa – ei, mas não foi sempre assim na lei da oferta e demanda, afinal é “dê ao público/consumidor o que ele quer”. Com o cinema, no entanto, podemos dizer que o buraco é mais embaixo, e sempre coube a diretores (ao menos os bons, vide Hitchcock e Kubrick) desafiar seu público, mostrando algo de difícil acesso e digestão, e o colocando para pensar um pouco fora da caixinha. Bem, todo esse discurso de abertura para dizer que a internet, que deu voz ao público, também o possibilitou criar – pois é, tem gente que prefere pôr a mão na massa e não apenas ficar de mimimi reclamando.

E assim chegamos a este Voldemort: A Origem do Herdeiro, produção independente italiana (sim, você leu certo, italiana!), que nada tem a ver com a franquia oficial de Harry Potter, da Warner e J.K. Rowling. Você certamente já ouviu falar das fanfics, literatura amadora criada por fãs, expandindo o universo de seus personagens preferidos, sem os direitos para serem comercializados. Pois bem, numa dessas obras literárias extraoficiais, foi aonde uma tal de E.L. James se deu muito bem. A moça começou a “carreira” escrevendo histórias “expandidas” de Crepúsculo. Seu próximo passo foi criar seu próprio livro, com Cinquenta Tons de Cinza e suas continuações. Hoje, James é milionária enquanto nós ficamos chupando o dedo. Com a internet, o mesmo começa a ocorrer no cinema.

 

Sem os direitos sobre seus personagens preferidos, muitos cineastas amadores começam a produzir seus filmes de fã, e soltar na internet. Com franquias de horror, como Sexta-feira 13, A Hora do Pesadelo e Halloween, já aconteceu muito. O uruguaio Fede Alvarez conseguiu emprego como diretor no remake de A Morte do Demônio (2013) ao lançar seu curta Panic Attack (2009) no Youtube, e com ele fazer um baita sucesso. Hoje, é um dos jovens cineastas de maior promessa em Hollywood. Outro caso foi o do sul africano Neill Blomkamp, que já era um cineasta de nome, mas conseguiu um acordo (que ainda não se concretizou) com a FOX ao expôr suas artes para uma possível sequência de Alien na internet. Ou seja, a força desta vitrine atualmente é inegável.

Agora, uma das mais ambiciosas estreia no Youtube, se tornando a produção do gênero mais acessada da história do site de vídeos. Lançado ontem, sábado 13 de janeiro, Voldemort: A Origem do Herdeiro pode render em breve fama e sucesso para seu criador, o italiano Gianmaria Pezzato, que escreveu o roteiro, dirigiu e cuidou da edição e efeitos especiais. Bem, e é seguro dizer que o resultado ficou de primeira linha, não devendo nada (ou quase nada) às produções hollywoodianas. Se formos levar em conta se tratar de uma produção “amadora” independente, os efeitos e a edição ficam ainda mais impressionantes.

A trama, que serve como um adendo ao universo de Harry Potter, mostrado em especial nos filmes da franquia original (oito ao total) – sem levarmos em conta os derivados em vigor, de Animais Fantásticos – é focada numa parcela da vida de Tom Riddle, o jovem que viria a se transformar no grande vilão deste universo, Lorde Voldemort. Na realidade, o média-metragem de 50 minutos de duração, não foca muito em como Riddle (aqui interpretado por Stefano Rossi) foi seduzido pelo “lado sombrio”, e já mostra o futuro Lorde das Sombras dono de suas tendências malignas – creio que ele sempre foi assim.

Quando a história começa, Grisha McLaggen (Maddalena Orcali) está tentando invadir uma base de bruxos russos para recuperar um item, o diário de Tom Riddle, artefato que é o grande McGuffin de Harry Potter e a Câmara Secreta (2002), e igualmente se mostra primordial aqui. Capturada, ela passa o filme contando sua história através de flashbacks, sobre seu envolvimento com Riddle e o grupo de quatro colegas, todos descendentes diretos das principais casas de Hogwarts: Sonserina, Corvinal, Lufa-Lufa e Griffinória. Figuras lendárias deste universo, como Dumbledore e Grindelwald (personagem de Johnny Depp nos novos derivados) são mencionados e servem como peças para esta trama, sem de fato darem as caras.

O único momento em que Voldemort: A Origem do Herdeiro deixa a desejar é nos diálogos, que soam estranhos, como se tivessem sido dublados em inglês. Na página do filme no IMDB, encontramos a Itália como país de produção, mas o inglês como a língua falada. Ao assistirmos ao filme, no entanto, podemos notar que algo não bate muito bem, como uma falta de sincronia do som que ouvimos com a boca dos atores – em alguns momentos inclusive é visível que não estão proferindo tais diálogos em inglês (como na cena dos quatro descendentes duelando). Em outros trechos reparamos closes excessivos nos olhos, em situações que deveriam ser dramáticas e mostrar todo o rosto de seus interlocutores. Talvez um artifício para esconder suas bocas, que não estariam entregando o texto exato. Mas estes são detalhes menores dentro de uma produção tão bem trabalhada e bem cuidada.

Voldemort: A Origem do Herdeiro talvez seja exclusivamente recomendado para todos os aficionados e entusiastas do universo de Harry Potter. O que não é o meu caso. Gosto dos filmes, mas não sou um fã. Os analiso unicamente do ponto de vista fílmico, e aí é inegável a sua qualidade. Creio que este é o maior elogio e aval que um filme pode receber, quando consegue conquistar alguém que não é especificamente seu público-alvo, já que os fãs irão comprar qualquer coisa relacionada ao seu objeto de afeto. Mesmo aparentando o episódio piloto de uma série (por seu tempo de duração), Voldemort sobressai e consegue ser melhor do que muita produção profissional, tanto na TV quanto no cinema. Acima de tudo, demonstra a força que os fãs – mesmo os não americanos – possuem e são capazes de realizar. Nada mais posso acrescentar além de parabéns.

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