quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Vovó Saiu do Armário – Comédia caricata espanhola tem boa intenção, mas falha na execução

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Diz o ditado que de boa intenção, o inferno está cheio. No mundo cinematográfico também é assim: tem muito filme por aí com ótimas ideias, mas cujas execuções, o “vamos ver” da coisa, desandanda a tal ponto, que nem mesmo a boa intenção salva. É o caso de ‘Vovó Saiu do Armário’, nova comédia espanhola que estreou na Netflix.



Eva (Ingrid García Jonsson) é uma jovem espanhola prestes a se casar com o escocês rico Stuart (Leander Vyvey), pois acha que precisa disso para ter estabilidade na vida, afinal, sua própria mãe a deixara para ser cuidada pela avó, Sofía (Verónica Forqué). Um dia, Sofía telefona para a neta dizendo que irá se casar com sua melhor amiga, Celia (Rosa Maria Sardà), e daí a confusão está armada! Eva acha um absurdo o casamento e viaja até a ilha de Lanzarote para convencer as duas a desistir da ideia, pois iria estragar seus planos de matrimônio com a família conservadora do noivo. E ela não é a única da família a ser contra…

Como dá para ver pela própria sinopse, o argumento é bastante problemático, e o resultado é ainda mais polêmico. Com o intuito de abrir a mente dos espectadores através do riso, ‘Vovó Saiu do Armário’ busca levantar o debate sobre a tolerância à orientação sexual dos outros, especialmente dos mais velhos. Porém, o que o filme na verdade constrói é uma sufocante armadilha em que todos os personagens que circundam o universo das duas senhoras simplesmente se acham no direito de palpitar na vida delas e demovê-las de sua decisão, de modo que, através da capa da comédia as duas protagonistas sofrem tantos tolhimentos por parte de suas famílias, que chega um ponto do longa que incomoda de verdade. Caramba, não era para ser comédia?

A construção dos personagens, a relação entre eles e suas motivações são completamente irrisórias e absurdas. Tirando a protagonista Eva, que ganha algum background, todos os outros aparecem na história do nada, se autoexplicando, mencionando episódios anteriores não vistos pelo espectador. Não bastasse isso, as atuações são completamente caricatas e enfadonhas; os personagens parecem terem sido tirados do guia dos moradores da Espanha, de modo que tem o árabe, o preto, o que só fala inglês, o português, a mulher madura descolada, a autista, o padre moderninho etc. Um novelão ruim que só!

Também no aspecto técnico a produção fica desgovernada. A edição do longa é completamente desleixada, com uma chuva de cenas intercaladas por outras para depois voltarem onde estavam antes, sem fazerem o menor sentido. Tudo isso agravado pela total falta de continuidade. Sério, não tem. As cenas terminam com a tela preta, para depois entrar o novo frame, sem conexão com o que veio antes. Totalmente confuso e amador. Irritante.

Vovó Saiu do Armário’ tinha tudo para ser um ótimo filme, mas não é. Salvam-se apenas a boa intenção do longa de Ángeles Reiné e as paisagens de tirar o fôlego da ilha de Lanzarote, em Porto, Portugal.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Eva (Ingrid García Jonsson) é uma jovem espanhola prestes a se casar com o escocês rico Stuart (Leander Vyvey), pois acha que precisa disso para ter estabilidade na vida, afinal, sua própria mãe a deixara para ser cuidada pela avó, Sofía (Verónica Forqué). Um dia, Sofía telefona para a neta dizendo que irá se casar com sua melhor amiga, Celia (Rosa Maria Sardà), e daí a confusão está armada! Eva acha um absurdo o casamento e viaja até a ilha de Lanzarote para convencer as duas a desistir da ideia, pois iria estragar seus planos de matrimônio com a família conservadora do noivo. E ela não é a única da família a ser contra…

Como dá para ver pela própria sinopse, o argumento é bastante problemático, e o resultado é ainda mais polêmico. Com o intuito de abrir a mente dos espectadores através do riso, ‘Vovó Saiu do Armário’ busca levantar o debate sobre a tolerância à orientação sexual dos outros, especialmente dos mais velhos. Porém, o que o filme na verdade constrói é uma sufocante armadilha em que todos os personagens que circundam o universo das duas senhoras simplesmente se acham no direito de palpitar na vida delas e demovê-las de sua decisão, de modo que, através da capa da comédia as duas protagonistas sofrem tantos tolhimentos por parte de suas famílias, que chega um ponto do longa que incomoda de verdade. Caramba, não era para ser comédia?

A construção dos personagens, a relação entre eles e suas motivações são completamente irrisórias e absurdas. Tirando a protagonista Eva, que ganha algum background, todos os outros aparecem na história do nada, se autoexplicando, mencionando episódios anteriores não vistos pelo espectador. Não bastasse isso, as atuações são completamente caricatas e enfadonhas; os personagens parecem terem sido tirados do guia dos moradores da Espanha, de modo que tem o árabe, o preto, o que só fala inglês, o português, a mulher madura descolada, a autista, o padre moderninho etc. Um novelão ruim que só!

Também no aspecto técnico a produção fica desgovernada. A edição do longa é completamente desleixada, com uma chuva de cenas intercaladas por outras para depois voltarem onde estavam antes, sem fazerem o menor sentido. Tudo isso agravado pela total falta de continuidade. Sério, não tem. As cenas terminam com a tela preta, para depois entrar o novo frame, sem conexão com o que veio antes. Totalmente confuso e amador. Irritante.

Vovó Saiu do Armário’ tinha tudo para ser um ótimo filme, mas não é. Salvam-se apenas a boa intenção do longa de Ángeles Reiné e as paisagens de tirar o fôlego da ilha de Lanzarote, em Porto, Portugal.

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