quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | Vox Lux – Natalie Portman protagoniza a decadência de uma estrela

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Certos filmes nasceram para dividir o público em dois grupos: o dos que amaram a história e vão defendê-la até o fim e dos que sentiram que desperdiçaram seu tempo e não desejam rever a produção nem por um decreto. Isso aconteceu com Mãe!, de Darren Aronofsky, por exemplo – e, ao que tudo indica, também será o caminho de Vox Lux, apesar de ter sido aclamado pela crítica na Mostra ItalianaCom nomes como Natalie Portman e Jude Law no elenco, e narração off de Willem Dafoe, o novo longa de Brady Cobert (que também dirigiu e roteirizou A Infância de um Líder) definitivamente não tem uma forma que agrada a todos; no entanto, ao capturarmos sua mensagem, difícil não vê-lo como genial.

Com os créditos finais já na abertura, Vox Lux já revela que não pretende ser um filme como os outros. Dividido em três atos – Gênesis, Regenêsis e Final -, ele conta a história de Celeste (Raffey Cassidy na adolescência e Natalie Portman na fase adulta), uma menina que se tornou uma estrela da música após sobreviver a um tiroteio em massa no colégio em que estudava. Tudo começou quando, em uma cerimônia fúnebre em homenagem aos alunos assassinados, a adolescente resolveu cantar uma música que fez junto com sua irmã Eleanor (Stacy Martin) e virou sucesso absoluto por conseguir emocionar a todos. Assim, mesmo sem ser uma cantora pronta – diferentemente da irmã mais velha, que tinha verdadeiro talento -, Celeste entra em uma jornada de preparação, junto com o agente sem nome vivido por Jude Law, para virar uma verdadeira popstar.



A premissa parece simples e já conhecida de filmes que também mostram o caminho de uma cantora rumo ao estrelato. Porém, para contar essa história, Vox Lux faz uso de vários elementos que marcaram o século XXI – tanto que não é por acaso que ele começa pouco antes da virada do milênio, de 99 para 2000. Tiroteios de adolescentes no colégio, atentado ao World Trade Center, uma estrela em decadência após uma série de escândalos (como aconteceu com famosas como Britney Spears e Lindsay Lohan) são alguns exemplos dos acontecimentos que fazem parte do longa e da trajetória de Celeste. E por mais que, algumas vezes, eles pareçam ter sido inseridos no enredo sem função alguma, ajudam a formar o perfil da protagonista – que, na fase adulta, aparece na pele de uma Natalie Portman estridente e mimada.

Por falar nela, vale lembrar que não faltaram comparações com a produção que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz em 2011. Quando Vox Lux foi anunciado, o público apelidou o filme de “Cisne Negro 2” por mostrar Portman, mais uma vez, em um papel que exigia uma performance artística – e também pela caracterização em uma das cenas, que contou com plumas pretas que lembravam o figurino do longa de Aronofsky. No entanto, Celeste só nos faz recordar o jeito introvertido e focado de Nina na adolescência, já que se torna uma adulta com personalidade difícil e extremamente irresponsável com sua carreira.

Aqui, no lugar do estilo clássico do balé, Natalie surpreende ao aparecer com um visual à la Lady Gaga em sua fase inicial e passos ousados no palco, de um jeito bem diferente do que estamos acostumados a vê-la – mas, como sempre, mostra que é uma atriz versátil e dá o tom exato à personagem. Sua performance chega a parecer caricata e incomoda diversas vezes, mas essa é justamente a intenção do diretor. Ao apresentar uma estrela que nasceu na tragédia e foi fabricada em meio às transformações do século XXI, ele quebra nossa expectativa de ver Celeste se tornar uma artista profunda e com algo a dizer ao nos mostrar – depois de uma longa passagem de tempo – uma adulta mimada e vazia, que parece não ter muito a ensinar à filha adolescente Albertine (também vivida pela ótima Raffey Cassidy) e nem a passar para o seu público.

E aproveitando essa atmosfera como pano de fundo, assim como Birdman, Vox Lux também traz críticas aos jornalistas que falam mal do trabalho de um artista (“É que eles não produziram nada do que se orgulhassem“, diz Eleanor à irmã em um dos seus momentos de crise após uma entrevista), mas também não poupa a própria música pop quando diz que ela foi feita para as pessoas não pensarem. Nessas horas, lembrar que a cantora Sia faz parte do filme com a composição das canções originais faz ainda mais sentido, já que ela é um dos pontos fora da curva nesse cenário musical em que está inserida e que é criticado no longa. Com o rosto escondido durante as apresentações e uma vida pessoal bem privada, a intérprete de Chandelier pode ser considerada o oposto da protagonista Celeste.

Assim, com uma aura dark do início ao fim – muito por conta da narração, do figurino e da fotografia -, Vox Lux termina com uma alucinante apresentação musical, em que o espectador poderia facilmente ser representado pelas reações confusas de Eleanor e Albertine na plateia. Porém, ainda que o desfecho deixe uma grande sensação de interrogação e que o longa como um todo demore a ser digerido, não sou capaz de discordar da frase que a personagem de Natalie Portman diz em um dos momentos finais: “Eles queriam um show, e eu dei um show“.  Aplausos.

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Com os créditos finais já na abertura, Vox Lux já revela que não pretende ser um filme como os outros. Dividido em três atos – Gênesis, Regenêsis e Final -, ele conta a história de Celeste (Raffey Cassidy na adolescência e Natalie Portman na fase adulta), uma menina que se tornou uma estrela da música após sobreviver a um tiroteio em massa no colégio em que estudava. Tudo começou quando, em uma cerimônia fúnebre em homenagem aos alunos assassinados, a adolescente resolveu cantar uma música que fez junto com sua irmã Eleanor (Stacy Martin) e virou sucesso absoluto por conseguir emocionar a todos. Assim, mesmo sem ser uma cantora pronta – diferentemente da irmã mais velha, que tinha verdadeiro talento -, Celeste entra em uma jornada de preparação, junto com o agente sem nome vivido por Jude Law, para virar uma verdadeira popstar.

A premissa parece simples e já conhecida de filmes que também mostram o caminho de uma cantora rumo ao estrelato. Porém, para contar essa história, Vox Lux faz uso de vários elementos que marcaram o século XXI – tanto que não é por acaso que ele começa pouco antes da virada do milênio, de 99 para 2000. Tiroteios de adolescentes no colégio, atentado ao World Trade Center, uma estrela em decadência após uma série de escândalos (como aconteceu com famosas como Britney Spears e Lindsay Lohan) são alguns exemplos dos acontecimentos que fazem parte do longa e da trajetória de Celeste. E por mais que, algumas vezes, eles pareçam ter sido inseridos no enredo sem função alguma, ajudam a formar o perfil da protagonista – que, na fase adulta, aparece na pele de uma Natalie Portman estridente e mimada.

Por falar nela, vale lembrar que não faltaram comparações com a produção que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz em 2011. Quando Vox Lux foi anunciado, o público apelidou o filme de “Cisne Negro 2” por mostrar Portman, mais uma vez, em um papel que exigia uma performance artística – e também pela caracterização em uma das cenas, que contou com plumas pretas que lembravam o figurino do longa de Aronofsky. No entanto, Celeste só nos faz recordar o jeito introvertido e focado de Nina na adolescência, já que se torna uma adulta com personalidade difícil e extremamente irresponsável com sua carreira.

Aqui, no lugar do estilo clássico do balé, Natalie surpreende ao aparecer com um visual à la Lady Gaga em sua fase inicial e passos ousados no palco, de um jeito bem diferente do que estamos acostumados a vê-la – mas, como sempre, mostra que é uma atriz versátil e dá o tom exato à personagem. Sua performance chega a parecer caricata e incomoda diversas vezes, mas essa é justamente a intenção do diretor. Ao apresentar uma estrela que nasceu na tragédia e foi fabricada em meio às transformações do século XXI, ele quebra nossa expectativa de ver Celeste se tornar uma artista profunda e com algo a dizer ao nos mostrar – depois de uma longa passagem de tempo – uma adulta mimada e vazia, que parece não ter muito a ensinar à filha adolescente Albertine (também vivida pela ótima Raffey Cassidy) e nem a passar para o seu público.

E aproveitando essa atmosfera como pano de fundo, assim como Birdman, Vox Lux também traz críticas aos jornalistas que falam mal do trabalho de um artista (“É que eles não produziram nada do que se orgulhassem“, diz Eleanor à irmã em um dos seus momentos de crise após uma entrevista), mas também não poupa a própria música pop quando diz que ela foi feita para as pessoas não pensarem. Nessas horas, lembrar que a cantora Sia faz parte do filme com a composição das canções originais faz ainda mais sentido, já que ela é um dos pontos fora da curva nesse cenário musical em que está inserida e que é criticado no longa. Com o rosto escondido durante as apresentações e uma vida pessoal bem privada, a intérprete de Chandelier pode ser considerada o oposto da protagonista Celeste.

Assim, com uma aura dark do início ao fim – muito por conta da narração, do figurino e da fotografia -, Vox Lux termina com uma alucinante apresentação musical, em que o espectador poderia facilmente ser representado pelas reações confusas de Eleanor e Albertine na plateia. Porém, ainda que o desfecho deixe uma grande sensação de interrogação e que o longa como um todo demore a ser digerido, não sou capaz de discordar da frase que a personagem de Natalie Portman diz em um dos momentos finais: “Eles queriam um show, e eu dei um show“.  Aplausos.

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