domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Wasp Network – Trama interessante e ótimo elenco não são o bastante para salvar o filme

YouTube video

Geralmente, pode-se dizer que um grande elenco e uma premissa interessante são sinônimos de um grande filme. Afinal, o que poderia dar errado em uma obra com uma história legal e excelentes atuações. Pois bem, Wasp Network está aí para servir de exemplo.

É importante destacar que o filme está longe de ser uma tragédia por completo, e alguns de seus pontos positivos serão abordados à frente. Mas é certo que estamos diante de uma obra que decepciona o espectador. E o maior problema está no roteiro final (que é diferente da premissa) e, principalmente, na montagem. Adaptação para os cinemas do livro “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, de Fernando Morais, Wasp Network é quase uma colcha de retalhos. O roteiro de Olivier Assayas e a montagem Simon Jacquet conduzem uma obra irregular e que parece mal pensada. Um exemplo claro disso é quando, já passado 1/3 da trama, o filme inicia do nada uma narração em off muito explicativa. Fica a clara impressão de que o cineasta percebeu que não conseguiria explicar os fatos em cena e decide usar uma narração no lugar. Não é nada natural e soa bem didático. 



Um dos trabalhos mais notórios de Assayas, Carlos foi lançado como uma minissérie da HBO, mas também teve exibições especiais em cinemas com sua versão de 5h30. Ao assistir Wasp Network e seus furos ou pontas soltas, parece claro que a obra se sairia melhor se tivesse mais tempo para contar aquela história. Infelizmente, não é o caso.

Assista também:
YouTube video


A trama gira em torno da Rede Vespa, um grupo de espiões cubanos que vão para os Estados Unidos com o objetivo de se infiltrar em movimentos contra o regime de Fidel Castro. Édgar Ramírez, Penélope Cruz, Leonardo Sbaraglia, Wagner Moura, Ana de Armas e Gael García Bernal formam o talentoso e internacional elenco da produção.

Ramírez é quem tem mais tempo em cena e volta a entregar uma atuação complexa e cativante, embora menos potente do que a vista em Carlos. Moura mostra mais uma vez seu talento apresentando um personagem misterioso e que possui certo magnetismo, não só com relação aos demais personagens, mas também com relação ao público. Mas o grande destaque é mesmo Penélope Cruz. A atriz possui poucas cenas, mas sempre se faz o centro das atenções quando está presente, com uma carga dramática e determinação cativantes.

Produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira através de RT Features, Wasp Network é uma obra complexa do ponto de vista político. E é bom que seja assim. Embora a maioria dos personagens seja formada por pessoas ligadas ao governo de Castro, a obra traça um panorama mais amplo, mostrando as dificuldades e radicalismos do regime. O filme busca um retrato mais completo, sem heróis ou vilões.

Se Assayas tem dificuldade em explicar como funcionava de fato da Rede Vespa, precisando de uma narração para fazê-lo, por outro lado, ele continua dirigindo muito bem cenas de tensão. Uma sequência particular de atentados terroristas a hotéis em Cuba é de prender a respiração. Com o risco de soar repetitivo, é muito do que vemos em Carlos. O cineasta também consegue mostrar bem como a relação Cuba e Estados Unidos, especialmente nos anos 90, pouco após a queda da União Soviética, envolvia questões muito complexas de interesse de todo o continente. A trama, por exemplo, se expande a locais como El Salvador, Porto Rico, Colômbia e Venezuela.

Assayas é um grande diretor e roteirista, mas aqui parece ter sido prejudicado por uma certa pressa em fazer o filme acontecer. A produção começou no final de dezembro de 2018 e o longa fez sua estreia no Festival de Veneza de agosto do ano seguinte. É pouquíssimo tempo para uma produção deste tamanho, com elenco internacional e gravações em diversos países. É impressionante que tenham conseguido concluir o projeto, mas fica sempre a dúvida se o mesmo não seria melhor acabado com um pouquinho mais de tempo para se pensar. 

A falta de informações, o excesso de personagens, a narração e outras técnicas de montagem ultrapassadas (como a utilização exagerada de cartelas e mapas como transição) fazem de Wasp Network uma obra muito irregular. Talvez, o filme mais fraco de toda brilhante carreira de Olivier Assayas.

Filme visto durante a cobertura da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

YouTube video

Mais notícias...

Siga-nos!

2,000,000FãsCurtir
372,000SeguidoresSeguir
1,620,000SeguidoresSeguir
195,000SeguidoresSeguir
162,000InscritosInscrever

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

MATÉRIAS

CRÍTICAS

Crítica | Wasp Network – Trama interessante e ótimo elenco não são o bastante para salvar o filme

Geralmente, pode-se dizer que um grande elenco e uma premissa interessante são sinônimos de um grande filme. Afinal, o que poderia dar errado em uma obra com uma história legal e excelentes atuações. Pois bem, Wasp Network está aí para servir de exemplo.

É importante destacar que o filme está longe de ser uma tragédia por completo, e alguns de seus pontos positivos serão abordados à frente. Mas é certo que estamos diante de uma obra que decepciona o espectador. E o maior problema está no roteiro final (que é diferente da premissa) e, principalmente, na montagem. Adaptação para os cinemas do livro “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, de Fernando Morais, Wasp Network é quase uma colcha de retalhos. O roteiro de Olivier Assayas e a montagem Simon Jacquet conduzem uma obra irregular e que parece mal pensada. Um exemplo claro disso é quando, já passado 1/3 da trama, o filme inicia do nada uma narração em off muito explicativa. Fica a clara impressão de que o cineasta percebeu que não conseguiria explicar os fatos em cena e decide usar uma narração no lugar. Não é nada natural e soa bem didático. 

Um dos trabalhos mais notórios de Assayas, Carlos foi lançado como uma minissérie da HBO, mas também teve exibições especiais em cinemas com sua versão de 5h30. Ao assistir Wasp Network e seus furos ou pontas soltas, parece claro que a obra se sairia melhor se tivesse mais tempo para contar aquela história. Infelizmente, não é o caso.

A trama gira em torno da Rede Vespa, um grupo de espiões cubanos que vão para os Estados Unidos com o objetivo de se infiltrar em movimentos contra o regime de Fidel Castro. Édgar Ramírez, Penélope Cruz, Leonardo Sbaraglia, Wagner Moura, Ana de Armas e Gael García Bernal formam o talentoso e internacional elenco da produção.

Ramírez é quem tem mais tempo em cena e volta a entregar uma atuação complexa e cativante, embora menos potente do que a vista em Carlos. Moura mostra mais uma vez seu talento apresentando um personagem misterioso e que possui certo magnetismo, não só com relação aos demais personagens, mas também com relação ao público. Mas o grande destaque é mesmo Penélope Cruz. A atriz possui poucas cenas, mas sempre se faz o centro das atenções quando está presente, com uma carga dramática e determinação cativantes.

Produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira através de RT Features, Wasp Network é uma obra complexa do ponto de vista político. E é bom que seja assim. Embora a maioria dos personagens seja formada por pessoas ligadas ao governo de Castro, a obra traça um panorama mais amplo, mostrando as dificuldades e radicalismos do regime. O filme busca um retrato mais completo, sem heróis ou vilões.

Se Assayas tem dificuldade em explicar como funcionava de fato da Rede Vespa, precisando de uma narração para fazê-lo, por outro lado, ele continua dirigindo muito bem cenas de tensão. Uma sequência particular de atentados terroristas a hotéis em Cuba é de prender a respiração. Com o risco de soar repetitivo, é muito do que vemos em Carlos. O cineasta também consegue mostrar bem como a relação Cuba e Estados Unidos, especialmente nos anos 90, pouco após a queda da União Soviética, envolvia questões muito complexas de interesse de todo o continente. A trama, por exemplo, se expande a locais como El Salvador, Porto Rico, Colômbia e Venezuela.

Assayas é um grande diretor e roteirista, mas aqui parece ter sido prejudicado por uma certa pressa em fazer o filme acontecer. A produção começou no final de dezembro de 2018 e o longa fez sua estreia no Festival de Veneza de agosto do ano seguinte. É pouquíssimo tempo para uma produção deste tamanho, com elenco internacional e gravações em diversos países. É impressionante que tenham conseguido concluir o projeto, mas fica sempre a dúvida se o mesmo não seria melhor acabado com um pouquinho mais de tempo para se pensar. 

A falta de informações, o excesso de personagens, a narração e outras técnicas de montagem ultrapassadas (como a utilização exagerada de cartelas e mapas como transição) fazem de Wasp Network uma obra muito irregular. Talvez, o filme mais fraco de toda brilhante carreira de Olivier Assayas.

Filme visto durante a cobertura da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

YouTube video

Siga-nos!

2,000,000FãsCurtir
372,000SeguidoresSeguir
1,620,000SeguidoresSeguir
195,000SeguidoresSeguir
162,000InscritosInscrever

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

MATÉRIAS

CRÍTICAS