segunda-feira, março 18, 2024

Crítica | Wasp Network – Trama interessante e ótimo elenco não são o bastante para salvar o filme

Geralmente, pode-se dizer que um grande elenco e uma premissa interessante são sinônimos de um grande filme. Afinal, o que poderia dar errado em uma obra com uma história legal e excelentes atuações. Pois bem, Wasp Network está aí para servir de exemplo.

É importante destacar que o filme está longe de ser uma tragédia por completo, e alguns de seus pontos positivos serão abordados à frente. Mas é certo que estamos diante de uma obra que decepciona o espectador. E o maior problema está no roteiro final (que é diferente da premissa) e, principalmente, na montagem. Adaptação para os cinemas do livro “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, de Fernando Morais, Wasp Network é quase uma colcha de retalhos. O roteiro de Olivier Assayas e a montagem Simon Jacquet conduzem uma obra irregular e que parece mal pensada. Um exemplo claro disso é quando, já passado 1/3 da trama, o filme inicia do nada uma narração em off muito explicativa. Fica a clara impressão de que o cineasta percebeu que não conseguiria explicar os fatos em cena e decide usar uma narração no lugar. Não é nada natural e soa bem didático. 

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Um dos trabalhos mais notórios de Assayas, Carlos foi lançado como uma minissérie da HBO, mas também teve exibições especiais em cinemas com sua versão de 5h30. Ao assistir Wasp Network e seus furos ou pontas soltas, parece claro que a obra se sairia melhor se tivesse mais tempo para contar aquela história. Infelizmente, não é o caso.

A trama gira em torno da Rede Vespa, um grupo de espiões cubanos que vão para os Estados Unidos com o objetivo de se infiltrar em movimentos contra o regime de Fidel Castro. Édgar Ramírez, Penélope Cruz, Leonardo Sbaraglia, Wagner Moura, Ana de Armas e Gael García Bernal formam o talentoso e internacional elenco da produção.

Ramírez é quem tem mais tempo em cena e volta a entregar uma atuação complexa e cativante, embora menos potente do que a vista em Carlos. Moura mostra mais uma vez seu talento apresentando um personagem misterioso e que possui certo magnetismo, não só com relação aos demais personagens, mas também com relação ao público. Mas o grande destaque é mesmo Penélope Cruz. A atriz possui poucas cenas, mas sempre se faz o centro das atenções quando está presente, com uma carga dramática e determinação cativantes.

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Produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira através de RT Features, Wasp Network é uma obra complexa do ponto de vista político. E é bom que seja assim. Embora a maioria dos personagens seja formada por pessoas ligadas ao governo de Castro, a obra traça um panorama mais amplo, mostrando as dificuldades e radicalismos do regime. O filme busca um retrato mais completo, sem heróis ou vilões.

Se Assayas tem dificuldade em explicar como funcionava de fato da Rede Vespa, precisando de uma narração para fazê-lo, por outro lado, ele continua dirigindo muito bem cenas de tensão. Uma sequência particular de atentados terroristas a hotéis em Cuba é de prender a respiração. Com o risco de soar repetitivo, é muito do que vemos em Carlos. O cineasta também consegue mostrar bem como a relação Cuba e Estados Unidos, especialmente nos anos 90, pouco após a queda da União Soviética, envolvia questões muito complexas de interesse de todo o continente. A trama, por exemplo, se expande a locais como El Salvador, Porto Rico, Colômbia e Venezuela.

Não deixe de assistir:

Assayas é um grande diretor e roteirista, mas aqui parece ter sido prejudicado por uma certa pressa em fazer o filme acontecer. A produção começou no final de dezembro de 2018 e o longa fez sua estreia no Festival de Veneza de agosto do ano seguinte. É pouquíssimo tempo para uma produção deste tamanho, com elenco internacional e gravações em diversos países. É impressionante que tenham conseguido concluir o projeto, mas fica sempre a dúvida se o mesmo não seria melhor acabado com um pouquinho mais de tempo para se pensar. 

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A falta de informações, o excesso de personagens, a narração e outras técnicas de montagem ultrapassadas (como a utilização exagerada de cartelas e mapas como transição) fazem de Wasp Network uma obra muito irregular. Talvez, o filme mais fraco de toda brilhante carreira de Olivier Assayas.

Filme visto durante a cobertura da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

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