Álex Pina é o principal responsável pelo estrondoso sucesso de ‘La Casa de Papel’, que se tornou a série de língua não-inglesa mais assistida da plataforma da Netflix. Depois desse inegável resultado, o produtor espanhol parece ter ganhado carta branca para criar todo tipo de série, e seu mais novo trabalho, ‘White Lines’, acaba de chegar na Netflix.
Zoe Walker (Laura Haddock) é uma mulher de trinta e dois anos de Manchester, Inglaterra, cujo irmão mais velho, Axel Collins (Tom Rhys Harries) foi encontrado morto em Ibiza vinte anos depois de ter deixado a família para trás., nos anos 1990. A sensação de abandono ainda é muito forte em Zoe, mas, em nome do amor que tem ao irmão, Zoe decide ir para a misteriosa ilha espanhola em busca da verdade: quem matou Axel Collins, o DJ mais famoso dos últimos tempos? Em sua investigação, a puritana Zoe vai se deparar com o submundo fantabuloso de uma ilha onde sem limites.
Já por aí dá para sentir o quanto o enredo de ‘White Lines’ é vazio. Com um argumento fraquíssimo e enjoado, o roteiro de Álex Pina apresenta diversos problemas e não se sustenta (e tampouco sustenta o interesse do público). A motivação (a busca pelo assassino de Axel) permeia o roteiro enquanto os personagens se isentam de culpa e Zoe mergulha no frenesi de Ibiza; o ídolo Axel é um cara esnobe e egoísta, um misto de Freddy Mercury soberbo com Pequeno Príncipe; os personagens, fúteis e desinteressantes, se apegam a uma realidade infantil e distante do espectador. Os diálogos muitas vezes têm falas tão simplórias, que parecem tiradas de um manual de como escrever seu roteiro (exemplo, Zoe desabafando com a psicóloga, falando “ai eu me arrependo das coisas que fiz na noite passada”, daí a psicóloga “o que você fez na noite passada, Zoe?” e entra um flashback da noite anterior. Aff.) Com a colaboração de David Barrocal e Esther Martínez Lobato (que também colaboraram em ‘La Casa de Papel’) o roteiro ainda faz uma releitura bem cafona de Romeu e Julieta e do complexo de Édipo, além de imprimir um filtro sépia para as filmagens na tentativa de dar um ar exótico à trama.
Há alguns pontos positivos. Um deles é a trilha sonora, que provavelmente levou boa parte do orçamento, pois inclui duas músicas dos Gipsy Kings; uma versão de “Special”, do Radiohead; a versão original que inspirou “Festa no Apê”, do Latino, entre outras. As paisagens e tomadas também são de tirar o fôlego, com as inacreditáveis praias de areias branquíssimas e águas cristalinas de Ibiza.
O que salva a série é o personagem Boxer, vivido pelo ator português Nuno Lopes. Seu personagem – misterioso, perigoso e charmoso – é, de longe, o único interessante na trama, ao ponto de protagonizar o momento ápice dessa primeira temporada, entre o fim do episódio 5 e o 7. Sua história lembra os romances de literatura hot. É um ator para ficar de olho, até porque ele já participou de produções brasileiras, como o longa ‘Joaquim’.
‘White Lines’ é uma série chatíssima, mas que ao menos responde todas as perguntas no último capítulo. Considerando que são 10 episódios de 50 minutos cada, é muito investimento de tempo para pouco resultado, uma vez que só se salva a trilha sonora, as locações e o personagem Boxer. Nem de longe lembra qualquer coisa de ‘La Casa de Papel’ ou de ‘Vis a Vis’, os dois maiores sucessos de Álex Pina.