domingo , 23 março , 2025

Crítica | Willa Fitzgerald entrega a MELHOR performance da carreira no suspense ‘Desconhecidos’


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JT Mollner começou sua carreira no cenário de longas-metragens com o pouco conhecido filme de faroeste ‘Outlaws and Angels’, que chegou aos cinemas em 2016. Porém, não seria até oito anos depois que Mollner chamaria a atenção do público e da crítica com um ambicioso projeto de intitulado Desconhecidos – um poderoso suspense que nos intriga desde sua concepção até o momento em que os créditos de encerramento aparecem nas telas.

Ficando responsável pela direção e pelo roteiro, Mollner arquiteta uma narrativa não-cronológica que é montada com irretocável perfeição e que, por seu caráter propositalmente anacrônico, permite que uma simples narrativa de sobrevivência se transforme em um thriller recheado de reviravoltas e com personagens arquetípicos que se beneficiam de um elenco estelar. A trama é centrada em uma jovem que apenas conhecemos pelo nome de a Dama (Willa Fitzgerald), cuja primeira sequência a coloca em fuga de um perigoso homem armado, o Demônio (Kyle Gallner), que adota medidas drásticas para capturá-la. Nós não sabemos o que, de fato, está acontecendo – mas rezamos para que a Dama não seja pega pelo suposto antagonista.



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Como mencionado, não há uma linha temporal a ser seguida – e esse é o aspecto técnico e criativo de maior sucesso da produção. Afinal, o modo como o enredo é apresentado nos faz acredita que o personagem interpretado por Gallner é o vilão e a protagonista encarnada por Fitzgerald é vítima de trágicas circunstâncias, ainda mais considerando a forma como ambos são apresentados: o Demônio, envolto em um ímpeto furioso, se dopa com cocaína à medida que dirige sem controle por uma estrada deserta, enquanto a Dama, permeada com profundas cicatrizes, faz o possível para continuar correndo. Entretanto, conforme somos apresentados aos outros capítulos da história, percebemos que nem tudo é o que parece ser – e que as ilusões construídas por Mollner são logo estilhaçadas em mil pedaços.

Ambos os personagens se conheceram por acaso e resolveram ir até um motel na região rural de Oregon para transarem. Assim que chegam lá, a Dama mostra uma predileção por jogos sexuais de roleplay que envolvem sadomasoquismo, deixando se perder em meio à falta de controle até revelar suas verdadeiras intenções. Ela é, na verdade, uma psicótica serial killer conhecida como Dama Elétrica – e utiliza a natureza promíscua e previsível de seus alvos para coletar mais e mais vítimas. Após sedá-lo com uma forte dose de cetamina, ela tenta matá-lo, mas é surpreendida com um suspiro de defesa que a compele a fugir, sendo caçada pelo Demônio em um arco de gato e rato que deixa um rastro de sangue por onde passam – e que culmina com uma inesperada e anticlimática conclusão que reflete a efemeridade da própria existência.


Homem com espingarda em floresta, camisa xadrez vermelha.

Mollner sabe de que forma remodelar uma trama que não tem qualquer indício de originalidade, transmutando-a em uma instigante e caótica jornada que passa em um piscar de olhos através de sólidos 96 minutos – e não é apenas no modo como comanda as câmeras, como também nas incursões imagéticas que deixam bem claro o tom da obra. Aliando-se à enclausurante fotografia de Giovanni Ribisi, cujo escopo épico é reduzido a fim de dar destaque às relações entre as personagens, o cineasta demonstra uma preferência pelo “constante perigo”, traduzido pelo uso excessivo de tons vermelhos em todas as cenas – seja nas luzes neon, na peruca da Dama ou até mesmo na picape do Demônio. Ademais, a cíclica base de que se dispõe é funcional para garantir um aproveitamento completo por parte dos espectadores, mesmo nos momentos mais verborrágicos.

Gallner está fabuloso como o Demônio, divertindo-se em um papel que não exige muitas falas e permite que ele brinque com uma variedade de expressões que varia do medo ao ódio, da desesperança à subserviência mandatória. Porém, é Fitzgerald quem rouba todos os holofotes – e aqui incluo sua aplaudível química ao lado do co-protagonista: conhecida por seu trabalho em ‘Scream’ e em ‘A Queda da Casa de Usher’, a atriz demonstra um comprometimento arrepiante ao se entregar de corpo e alma à melhor performance da carreira, trazendo todos os traços de calculismo e frieza a uma mixórdia reverberante de falsas emoções para conseguir o que deseja (quando, na verdade, não se importa com ninguém além de si mesma e de seus desejos condenáveis). E, como a cereja do bolo, temos a presença de Barbara Hershey e de Ed Begley Jr. como um casal de hippies que infelizmente cruza caminho com a Dama.

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Desconhecidos poderia ser apenas mais um thriller descartável, mas supera todas as expectativas ao se sagrar uma das melhores produções do gênero este ano – não só pelo modo como rearranja clichês do gênero em uma pseudo pré-disposição de elementos, como por se aproveitar de irretocáveis e inebriantes atuações para alcançar um sucesso bem-vindo e memorável.

desconhecidos 1


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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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JT Mollner começou sua carreira no cenário de longas-metragens com o pouco conhecido filme de faroeste ‘Outlaws and Angels’, que chegou aos cinemas em 2016. Porém, não seria até oito anos depois que Mollner chamaria a atenção do público e da crítica com um ambicioso projeto de intitulado Desconhecidos – um poderoso suspense que nos intriga desde sua concepção até o momento em que os créditos de encerramento aparecem nas telas.

Ficando responsável pela direção e pelo roteiro, Mollner arquiteta uma narrativa não-cronológica que é montada com irretocável perfeição e que, por seu caráter propositalmente anacrônico, permite que uma simples narrativa de sobrevivência se transforme em um thriller recheado de reviravoltas e com personagens arquetípicos que se beneficiam de um elenco estelar. A trama é centrada em uma jovem que apenas conhecemos pelo nome de a Dama (Willa Fitzgerald), cuja primeira sequência a coloca em fuga de um perigoso homem armado, o Demônio (Kyle Gallner), que adota medidas drásticas para capturá-la. Nós não sabemos o que, de fato, está acontecendo – mas rezamos para que a Dama não seja pega pelo suposto antagonista.

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Como mencionado, não há uma linha temporal a ser seguida – e esse é o aspecto técnico e criativo de maior sucesso da produção. Afinal, o modo como o enredo é apresentado nos faz acredita que o personagem interpretado por Gallner é o vilão e a protagonista encarnada por Fitzgerald é vítima de trágicas circunstâncias, ainda mais considerando a forma como ambos são apresentados: o Demônio, envolto em um ímpeto furioso, se dopa com cocaína à medida que dirige sem controle por uma estrada deserta, enquanto a Dama, permeada com profundas cicatrizes, faz o possível para continuar correndo. Entretanto, conforme somos apresentados aos outros capítulos da história, percebemos que nem tudo é o que parece ser – e que as ilusões construídas por Mollner são logo estilhaçadas em mil pedaços.

Ambos os personagens se conheceram por acaso e resolveram ir até um motel na região rural de Oregon para transarem. Assim que chegam lá, a Dama mostra uma predileção por jogos sexuais de roleplay que envolvem sadomasoquismo, deixando se perder em meio à falta de controle até revelar suas verdadeiras intenções. Ela é, na verdade, uma psicótica serial killer conhecida como Dama Elétrica – e utiliza a natureza promíscua e previsível de seus alvos para coletar mais e mais vítimas. Após sedá-lo com uma forte dose de cetamina, ela tenta matá-lo, mas é surpreendida com um suspiro de defesa que a compele a fugir, sendo caçada pelo Demônio em um arco de gato e rato que deixa um rastro de sangue por onde passam – e que culmina com uma inesperada e anticlimática conclusão que reflete a efemeridade da própria existência.

Homem com espingarda em floresta, camisa xadrez vermelha.

Mollner sabe de que forma remodelar uma trama que não tem qualquer indício de originalidade, transmutando-a em uma instigante e caótica jornada que passa em um piscar de olhos através de sólidos 96 minutos – e não é apenas no modo como comanda as câmeras, como também nas incursões imagéticas que deixam bem claro o tom da obra. Aliando-se à enclausurante fotografia de Giovanni Ribisi, cujo escopo épico é reduzido a fim de dar destaque às relações entre as personagens, o cineasta demonstra uma preferência pelo “constante perigo”, traduzido pelo uso excessivo de tons vermelhos em todas as cenas – seja nas luzes neon, na peruca da Dama ou até mesmo na picape do Demônio. Ademais, a cíclica base de que se dispõe é funcional para garantir um aproveitamento completo por parte dos espectadores, mesmo nos momentos mais verborrágicos.

Gallner está fabuloso como o Demônio, divertindo-se em um papel que não exige muitas falas e permite que ele brinque com uma variedade de expressões que varia do medo ao ódio, da desesperança à subserviência mandatória. Porém, é Fitzgerald quem rouba todos os holofotes – e aqui incluo sua aplaudível química ao lado do co-protagonista: conhecida por seu trabalho em ‘Scream’ e em ‘A Queda da Casa de Usher’, a atriz demonstra um comprometimento arrepiante ao se entregar de corpo e alma à melhor performance da carreira, trazendo todos os traços de calculismo e frieza a uma mixórdia reverberante de falsas emoções para conseguir o que deseja (quando, na verdade, não se importa com ninguém além de si mesma e de seus desejos condenáveis). E, como a cereja do bolo, temos a presença de Barbara Hershey e de Ed Begley Jr. como um casal de hippies que infelizmente cruza caminho com a Dama.

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Desconhecidos poderia ser apenas mais um thriller descartável, mas supera todas as expectativas ao se sagrar uma das melhores produções do gênero este ano – não só pelo modo como rearranja clichês do gênero em uma pseudo pré-disposição de elementos, como por se aproveitar de irretocáveis e inebriantes atuações para alcançar um sucesso bem-vindo e memorável.

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