Quando lançou o primeiro ‘X-Men‘ em 2000, o diretor Bryan Singer conseguiu renovar os filmes dos super-heróis e conquistou a crítica e o público, nos brindando com uma sequência ainda melhor que o original em 2003.
O diretor conseguiu reunir um elenco de primeira em filmes que pregava a defesa das minorias – os mutantes poderiam ser muito bem vistos como os homossexuais, que enfrentam problemas com uma sociedade preconceituosa e intolerante. Prova disso é que o diretor e um dos protagonistas (Ian McKellen) são assumidamente gays. E é a urgência de um assunto tão delicado e importante que fazia desse filme o início de uma poderosa franquia.
Com a saída de Singer da franquia, Brett Ratner assumiu o terceiro filme e nos entregou uma aventura divertida, mas aquém dos filmes anteriores.
Com os astros ficando cada vez mais caros (Halle Berry pediu um cachê milionário para continuar na franquia após ganhar um Oscar), a Fox decidiu inovar a franquia e chamou o fantástico diretor Matthew Vaughn para comandar ‘X-Men: Primeira Classe‘, o auge da franquia.
Com um plano ambicioso em mãos, a Fox decidiu reunir as duas gerações no megalomaníaco ‘X-Men: Dias de um Futuro Esquecido‘, uma saída inteligente para criar um reboot da franquia e poder reapresentar os mutantes famosos ainda jovens, dando espaço para ‘X-Men: Apocalipse‘. A decisão não agradou alguns fãs, aqueles mais ligados aos atores que viveram os personagens em suas primeiras versões.
Toda a história que havia sido contada até ‘X-Men: O Confronto Final’ é esquecida nesse novo filme, um passatempo divertido que não consegue reintroduzir os personagens de uma maneira tão eficiente quanto na trilogia inicial. Ou seja: seria melhor manter os atores originais e não mexer em time que estava ganhando, principalmente se não tiver certeza de que está criando algo melhor.
Apocalipse é o primeiro e mais poderoso mutante do universo X-Men, e acumulou os poderes de muitos outros mutantes, tornando-se imortal e invencível. Ao acordar depois de milhares de anos, ele está desiludido com o mundo em que se encontra e recruta uma equipe de mutantes poderosos, incluindo um Magneto desanimado (Michael Fassbender), para purificar a humanidade e criar uma nova ordem mundial, sobre a qual ele reinará. Como o destino da Terra está na balança, Raven (Jennifer Lawrence), com a ajuda do Professor Xavier (James McAvoy), deve levar uma equipe de jovens X-Men para parar o seu maior inimigo e salvar a humanidade da destruição completa.
A premissa começa de maneira brilhante, apresentando a origem do vilão no Egito antigo, mais de 3000 anos antes de Cristo. Com cenas muito bem dirigidas e efeitos mirabolantes, a sequência inicial é um deleite visual. Após os créditos iniciais, o visual carnavalesco do vilão e a falta de urgência da história prejudica o andamento do filme, chegando a cansar o espectador.
O grande ponto negativo reside no vilão e em suas motivações, nunca exploradas pelo roteiro de maneira inteligente ou convincente. Enquanto os outros filmes traziam uma trama que abordava temas inteligentes, como a intolerância, este novo filme se contenta apenas em entreter, sem grandes pretensões.
A história irregular nunca decola e prejudica a reinicialização da franquia e a atuação dos novos atores.
Quem se destaca no novo elenco é Sophie Turner, que brilha como uma poderosa Jean Grey, e Tye Sheridan, um descolado Ciclope. Alexandra Shipp (a Tempestade) e Olivia Munn (Psylocke) entregam suas melhores atuações, mas tem personagens rasas com pouca importância na trama.
Oscar Isaac, que interpreta o vilão, tem sua atuação prejudicada pela maquiagem duvidosa tão criticada pelos fãs quando o primeiro trailer foi lançado.
O destaque dos reminescentes fica por conta de Jennifer Lawrence, que cresceu mais que sua personagem e agora retorna praticamente em todas as suas cenas como sua forma humana, afinal, para que pagar um cachê milionário para a atriz e deixá-la com sua maquiagem azul? Apesar do motivo ser explicado, fica visível a vontade dos produtores em vender mais ingressos com o star power da atriz.
James McAvoy e Michael Fassbender continuam brilhando como Professor X e Magneto, sendo o maior acerto deste novo casting.
Dentre todos os astros, o principal destaque é o Mercúrio vivido por Evan Peters. Sua cena nesse filme é ainda mais brilhante que a de ‘Dias de um Futuro Esquecido‘, embalada por uma trilho sonora oitentista sensacional. A cena mostra que Bryan Singer é um diretor visionário e talentoso, mas errou a mão no novo filme ao perder o tom da produção, que transita entre o dark e o alegórico.
O filme ainda guarda uma surpresa ou outra, como a participação especial do mutante mais feroz dos cinemas em uma sequência cheia de violência, como os fãs sempre sonharam.
‘X-Men: Apocalipse‘ é um filme divertido, mas não consegue empolgar e manter a qualidade e importância dos filmes anteriores da franquia. Sobra ação e falta roteiro, reapresentando os personagens queridos do público de maneira superfula e pouco interessante.
É uma tristeza ver uma franquia com tanto potencial se perder em meio a tramas novelescas estilo ‘Malhação‘.