sábado , 23 novembro , 2024

Critica | Yesterday – Apresenta um mundo sem Beatles, sem bom roteiro ou personagens

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A melhor definição para a nova obra de Danny Boyle (Quem Quer Ser um Milionário?), com roteiro de Richard Curtis (Questão de Tempo), é um pitch de elevador sedutor, o qual, no entanto, não consegue decolar da premissa inicial e torna-se um engodo. Se tivéssemos falando de uma startup, Yesterday seria aquela empresa a falir no primeiro ano de atividade e dar prejuízo aos esperançosos investidores da brilhante – porém fracassada – ideia.

Com um argumento lúdico, Yesterday segue o personagem Jack Malik (Himesh Patel), um representante da geração que acreditou que devia seguir os seus sonhos, mas sem trabalhar duro para ser bem-sucedido. Quase aos 30 anos, Jack mora na casa dos pais (Meera Syal e Sanjeev Bhaskar), não assume compromissos sérios e largou o trabalho de tempo integral para tentar a vida como músico, com bicos em pequenos eventos, enquanto trabalha em meio período no controle de uma empilhadora. 



Após mais uma derrota musical, Jack decide desistir da sua carreira e, ao voltar de bicicleta para casa desesperançoso, sofre um acidente ao mesmo tempo em que ocorre um apagão mundial de 12 minutos. Ao acordar sem os dois dentes da frente e celebrar a sua recuperação, ele percebe que os seus amigos não reconhecem as músicas dos Beatles. Para verificar que não trata-se de uma piada, ele recorre ao Google. Ao digitar “The Beatles” todos os resultados o direcionam ao inseto beetle (besouro, em português). 

Os discos desapareceram das prateleiras e Jack tem apenas a sua memória – não obliterada como o resto da humanidade – para ajudá-lo a trazer as músicas dos Beatles de volta ao planeta Terra. Obviamente, com um argumento sobre o desaparecimento da banda mais famosa do mundo e toda sua influência, Yesterday começa como uma adorável viagem fantasiosa, mas não chega muito longe. 

Tomando para si o talento de George, John, Paul e Ringo, Jack começa a tocar Let It Be, I Wanna Hold Your Hand, entre outras composições como próprias. De início, ver as pessoas emocionadas ao ouvir pela primeira vez Yesterday é uma sensação inebriante, uma pequena amostra de como o filme poderia ser conduzido. Os olhos de Ellie (Lily James) emocionada com a música é um dos melhores momentos, em contrapartida o romance de infância com o protagonista é uma forçada narrativa para juntar duas pessoas separadas pelo fato de não existir química entre elas. 

Com a habilidade de criar emocionantes e contemplativas histórias de amor, Richard Curtis deixou sua criatividade e malemolência com as palavras fora do roteiro de Yesterday. Em Questão de Tempo (2013), o roteirista igualmente partia da premissa do mágico para criar um conto de amor à simplicidade apaixonante do nosso cotidiano, tal como a magia da fama e anonimato em Um Lugar Chamado Notting Hill (1999). 

Apesar do currículo genial de ambos os envolvidos, o roteiro e a direção linear tornam Yesterday uma homenagem aos garotos de Liverpool com algumas cenas emocionantes, mas derrapa na sua qualidade quanto uma comédia romântica. Embora Boyle tenha criado o fantástico Trainspotting (1996) e engajado milhares de espectadores à história de amor indiana Quem Quer Ser um Milionário? (2008), Yesterday causa pouco impacto ao apoiar a trajetória em um romance sem faíscas e a questionável amizade de Ellie – até o musical Across the Universe (2007) é mais ousado em catapultar sentimentos. 

Isso porque Ellie é apenas uma observadora, sendo motorista e ouvindo as lamúrias de Jack sem ser a pessoa que, de fato, o impulsiona a seguir seus sonhos ou toma iniciativas. Mais uma vez, Curtis tenta mostrar que as coisas simples da vida são mais importantes, como essa professora de matemática que prefere passar a vida toda na cidadezinha Suffolk, na Inglaterra, ao explorar o mundo, mesmo que não soe verdadeiro. 

Diferente dos protagonistas, os personagens coadjuvantes alimentam o tom cômico do filme, tal como o assistente Rocky (Joel Fry), semelhante ao Spike (Rhys Ifans) de Um Lugar Chamado Notting Hill, mas sem sua presença marcante. Assim como a empresária sanguessuga Debra Hammer (Kate McKinnon) e todo o panorama de vendas e marketing em torno da indústria musical. Além de contar com a presença de Ed Sheeran como ele mesmo, mas em uma versão mais egocêntrica, afinal ele tem a magnífica ideia de trocar Hey Jude por Hey Dude

Com a fama e dinheiro, Jack encontra-se preso na farsa de ter usurpado o trabalho de outras pessoas. Afinal, ele não sabe como justificar suas composições, uma vez que nunca esteve nos lugares que descreve ou, muito menos, sentiu o amor ou a dor transmitidos em suas canções. A partir de um surpreendente encontro, Jack faz uma escolha deveras simples para amplitude das questões envolvidas e nos entrega um fim condescendente. Yesterday, portanto, causa uma frustração ao vermos as músicas dos Beatles em uma embalagem apenas trivial. 

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Com um argumento lúdico, Yesterday segue o personagem Jack Malik (Himesh Patel), um representante da geração que acreditou que devia seguir os seus sonhos, mas sem trabalhar duro para ser bem-sucedido. Quase aos 30 anos, Jack mora na casa dos pais (Meera Syal e Sanjeev Bhaskar), não assume compromissos sérios e largou o trabalho de tempo integral para tentar a vida como músico, com bicos em pequenos eventos, enquanto trabalha em meio período no controle de uma empilhadora. 

Após mais uma derrota musical, Jack decide desistir da sua carreira e, ao voltar de bicicleta para casa desesperançoso, sofre um acidente ao mesmo tempo em que ocorre um apagão mundial de 12 minutos. Ao acordar sem os dois dentes da frente e celebrar a sua recuperação, ele percebe que os seus amigos não reconhecem as músicas dos Beatles. Para verificar que não trata-se de uma piada, ele recorre ao Google. Ao digitar “The Beatles” todos os resultados o direcionam ao inseto beetle (besouro, em português). 

Os discos desapareceram das prateleiras e Jack tem apenas a sua memória – não obliterada como o resto da humanidade – para ajudá-lo a trazer as músicas dos Beatles de volta ao planeta Terra. Obviamente, com um argumento sobre o desaparecimento da banda mais famosa do mundo e toda sua influência, Yesterday começa como uma adorável viagem fantasiosa, mas não chega muito longe. 

Tomando para si o talento de George, John, Paul e Ringo, Jack começa a tocar Let It Be, I Wanna Hold Your Hand, entre outras composições como próprias. De início, ver as pessoas emocionadas ao ouvir pela primeira vez Yesterday é uma sensação inebriante, uma pequena amostra de como o filme poderia ser conduzido. Os olhos de Ellie (Lily James) emocionada com a música é um dos melhores momentos, em contrapartida o romance de infância com o protagonista é uma forçada narrativa para juntar duas pessoas separadas pelo fato de não existir química entre elas. 

Com a habilidade de criar emocionantes e contemplativas histórias de amor, Richard Curtis deixou sua criatividade e malemolência com as palavras fora do roteiro de Yesterday. Em Questão de Tempo (2013), o roteirista igualmente partia da premissa do mágico para criar um conto de amor à simplicidade apaixonante do nosso cotidiano, tal como a magia da fama e anonimato em Um Lugar Chamado Notting Hill (1999). 

Apesar do currículo genial de ambos os envolvidos, o roteiro e a direção linear tornam Yesterday uma homenagem aos garotos de Liverpool com algumas cenas emocionantes, mas derrapa na sua qualidade quanto uma comédia romântica. Embora Boyle tenha criado o fantástico Trainspotting (1996) e engajado milhares de espectadores à história de amor indiana Quem Quer Ser um Milionário? (2008), Yesterday causa pouco impacto ao apoiar a trajetória em um romance sem faíscas e a questionável amizade de Ellie – até o musical Across the Universe (2007) é mais ousado em catapultar sentimentos. 

Isso porque Ellie é apenas uma observadora, sendo motorista e ouvindo as lamúrias de Jack sem ser a pessoa que, de fato, o impulsiona a seguir seus sonhos ou toma iniciativas. Mais uma vez, Curtis tenta mostrar que as coisas simples da vida são mais importantes, como essa professora de matemática que prefere passar a vida toda na cidadezinha Suffolk, na Inglaterra, ao explorar o mundo, mesmo que não soe verdadeiro. 

Diferente dos protagonistas, os personagens coadjuvantes alimentam o tom cômico do filme, tal como o assistente Rocky (Joel Fry), semelhante ao Spike (Rhys Ifans) de Um Lugar Chamado Notting Hill, mas sem sua presença marcante. Assim como a empresária sanguessuga Debra Hammer (Kate McKinnon) e todo o panorama de vendas e marketing em torno da indústria musical. Além de contar com a presença de Ed Sheeran como ele mesmo, mas em uma versão mais egocêntrica, afinal ele tem a magnífica ideia de trocar Hey Jude por Hey Dude

Com a fama e dinheiro, Jack encontra-se preso na farsa de ter usurpado o trabalho de outras pessoas. Afinal, ele não sabe como justificar suas composições, uma vez que nunca esteve nos lugares que descreve ou, muito menos, sentiu o amor ou a dor transmitidos em suas canções. A partir de um surpreendente encontro, Jack faz uma escolha deveras simples para amplitude das questões envolvidas e nos entrega um fim condescendente. Yesterday, portanto, causa uma frustração ao vermos as músicas dos Beatles em uma embalagem apenas trivial. 

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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