segunda-feira , 25 novembro , 2024

Daft Punk | Celebrando a carreira e o legado de uma das duplas mais importantes da música

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1997. Paris, França.

Quando ‘Homework’, o aclamado álbum de estreia da dupla Daft Punk, foi lançado, ninguém poderia imaginar o impacto que o ato musical formado por Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter teria. Afinal, eles já despontavam no cenário eletrônico europeu ao insurgirem como pioneiros do French house ainda no começo dos anos 1990, mascarando-se através de um misterioso alter-ego que se valia do poder dos sintetizadores e bebia do deep house, do Chicago house e do techno. Dezoito anos depois de terem se formado, Homem-Christo e Bangalter chocaram o mundo mais uma vez ao anunciarem sua dissociação, deixando para trás apenas quatro álbuns de estúdio, uma icônica trilha sonora e influências que marcaram as mais diversas gerações.



A verdade é que o electro-dance music, popularmente conhecido como EDM, não teria a explosiva aceitação do público se não fosse pelo duo. A artista sueca Robyn, dona de um dos melhores álbuns de todos os tempos (‘Body Talk’), jamais teria dado vida aos seus hits “Dancing On My Own” e “Call Your Girlfriend”; “Hung Up” e toda a construção em setlist de ‘Confessions on a Dancefloor’ nunca veria a luz do dia; Lady Gaga não poderia promover uma revolução estética e performática da música eletrônica no final dos anos 2000. E, bom, já deu para ter uma ideia de como o cenário fonográfico não seria o mesmo caso os apaixonados e aplaudíveis artistas não tivessem se reunido em uma rave no EuroDisney e formado a base de seu primeiro single, “The New Wave” (cujo lançamento limitado em 1994 deixou a faixa um tanto quanto inacessível ao menos até o início da era digital).

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No final do século passado, a indústria estava tomada pelas incursões vibrantes do Eurodance – e coube a Daft Punk remodelar esse cenário. É claro que reviver o house não era uma tarefa muito fácil, mas o espetacular resultado gerou frutos inenarráveis, desde as sutis críticas ao establishment à total irreverência estilística que era moldada às obrigatoriedades dos convencionalismos (algo bastante similar ao que Madonna faria em 1998 com o impecável ‘Ray of Light’, que seria responsável por trazer o eletrônico aos Estados Unidos). Porém, antes dela, o grupo se reunia com nomes como Spike Jonze e Roman Coppola para videoclipes que iam de encontro ao esperado e que colocavam-no no centro dos holofotes.

Daft Punk invadiu as pistas de dança e as playlists ao redor do mundo ao mostrar que elementos condenados pelo tradicionalismo eram apenas mal interpretados. O pesado e constante uso de progressões repetitivas, sintetizadores e autotune se tornaram marca de uma imagética sonora robótica, mecânica, da mesma forma como Marinetti presidira com o Manifesto Futurista e toda sua exaltação sobre os avanços tecnológicos e o urbano. A diferença é que os artistas se viam em um crescente alavancamento da globalização e de suas consequências – positivas ou negativas; manter-se rente à originalidade era uma questão de sobrevivência, não importasse a recepção pela academia e pelos ouvintes.

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À medida que as narrativas sonoras caíam na mesmice, a dupla percebeu que não teria problemas em homenagear suas grandes influências, como Nile Rodgers e Giorgio Moroder, e em criar um pastiche celebratório para as contraculturas dos anos 1970 e 1980. Por esse motivo, é difícil colocar suas inflexões artísticas em apenas um rótulo, visto que o estilo das faixas varia desde o acid house até o funk – bem como a incorporação extensiva de samples. O lirismo formulaico deu lugar à verborragia instrumental e a uma espécie de ready-made desconstruído e ressignificado em contextos diferenciados, como a cíclica “Around the World” e a electro-disco “One More Time”. Inspirados pela plasticidade do cyber-punk, Daft Punk almejou a uma declaração pungente e memorável, como visto na clássica “Harder, Better, Faster, Stronger” e na unidimensionalidade de “Technologic”.

A fama além-mar alcançou um patamar ainda maior quando o duo foi contratado pela Walt Disney Studios para ficar responsável pela trilha sonora do filme Tron: O Legado, lançado em 2010. Combinando elementos orquestrais com eletrônica, o resultado é similar aos trabalhos anteriores dos artistas e, ao mesmo tempo, demonstra uma partida drástica do que nos apresentaram no passado – e que viria inclusive a influenciar as egrégias de ‘Random Access Memories’, considerado por inúmeros especialistas como o melhor álbum da carreira (cujo sucesso é refletido nas múltiplas estatuetas do Grammy, incluindo uma de Álbum do Ano). Ao aliarem-se com nomes como The Weeknd e Pharrell Williams, Daft Punk provou que se encaixava do modo mais inesperado tanto às subculturas quanto ao mainstream.

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Uma das maiores contribuições que a dupla trouxe para a música foi a contínua defesa da liberdade criativa. Como Bangalter comentou em uma entrevista ao Yahoo em 2007, “vivemos em uma sociedade em que o dinheiro é o que as pessoas querem, então elas não conseguem ter controle. Nós escolhemos. Controle é liberdade. […] Controle é controlar seu destino sem controlar outras pessoas”. E foi esse viés artístico que, no final das contas, transformaram-na na representação máxima do passado, do presente e do futuro.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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A verdade é que o electro-dance music, popularmente conhecido como EDM, não teria a explosiva aceitação do público se não fosse pelo duo. A artista sueca Robyn, dona de um dos melhores álbuns de todos os tempos (‘Body Talk’), jamais teria dado vida aos seus hits “Dancing On My Own” e “Call Your Girlfriend”; “Hung Up” e toda a construção em setlist de ‘Confessions on a Dancefloor’ nunca veria a luz do dia; Lady Gaga não poderia promover uma revolução estética e performática da música eletrônica no final dos anos 2000. E, bom, já deu para ter uma ideia de como o cenário fonográfico não seria o mesmo caso os apaixonados e aplaudíveis artistas não tivessem se reunido em uma rave no EuroDisney e formado a base de seu primeiro single, “The New Wave” (cujo lançamento limitado em 1994 deixou a faixa um tanto quanto inacessível ao menos até o início da era digital).

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No final do século passado, a indústria estava tomada pelas incursões vibrantes do Eurodance – e coube a Daft Punk remodelar esse cenário. É claro que reviver o house não era uma tarefa muito fácil, mas o espetacular resultado gerou frutos inenarráveis, desde as sutis críticas ao establishment à total irreverência estilística que era moldada às obrigatoriedades dos convencionalismos (algo bastante similar ao que Madonna faria em 1998 com o impecável ‘Ray of Light’, que seria responsável por trazer o eletrônico aos Estados Unidos). Porém, antes dela, o grupo se reunia com nomes como Spike Jonze e Roman Coppola para videoclipes que iam de encontro ao esperado e que colocavam-no no centro dos holofotes.

Daft Punk invadiu as pistas de dança e as playlists ao redor do mundo ao mostrar que elementos condenados pelo tradicionalismo eram apenas mal interpretados. O pesado e constante uso de progressões repetitivas, sintetizadores e autotune se tornaram marca de uma imagética sonora robótica, mecânica, da mesma forma como Marinetti presidira com o Manifesto Futurista e toda sua exaltação sobre os avanços tecnológicos e o urbano. A diferença é que os artistas se viam em um crescente alavancamento da globalização e de suas consequências – positivas ou negativas; manter-se rente à originalidade era uma questão de sobrevivência, não importasse a recepção pela academia e pelos ouvintes.

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À medida que as narrativas sonoras caíam na mesmice, a dupla percebeu que não teria problemas em homenagear suas grandes influências, como Nile Rodgers e Giorgio Moroder, e em criar um pastiche celebratório para as contraculturas dos anos 1970 e 1980. Por esse motivo, é difícil colocar suas inflexões artísticas em apenas um rótulo, visto que o estilo das faixas varia desde o acid house até o funk – bem como a incorporação extensiva de samples. O lirismo formulaico deu lugar à verborragia instrumental e a uma espécie de ready-made desconstruído e ressignificado em contextos diferenciados, como a cíclica “Around the World” e a electro-disco “One More Time”. Inspirados pela plasticidade do cyber-punk, Daft Punk almejou a uma declaração pungente e memorável, como visto na clássica “Harder, Better, Faster, Stronger” e na unidimensionalidade de “Technologic”.

A fama além-mar alcançou um patamar ainda maior quando o duo foi contratado pela Walt Disney Studios para ficar responsável pela trilha sonora do filme Tron: O Legado, lançado em 2010. Combinando elementos orquestrais com eletrônica, o resultado é similar aos trabalhos anteriores dos artistas e, ao mesmo tempo, demonstra uma partida drástica do que nos apresentaram no passado – e que viria inclusive a influenciar as egrégias de ‘Random Access Memories’, considerado por inúmeros especialistas como o melhor álbum da carreira (cujo sucesso é refletido nas múltiplas estatuetas do Grammy, incluindo uma de Álbum do Ano). Ao aliarem-se com nomes como The Weeknd e Pharrell Williams, Daft Punk provou que se encaixava do modo mais inesperado tanto às subculturas quanto ao mainstream.

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Uma das maiores contribuições que a dupla trouxe para a música foi a contínua defesa da liberdade criativa. Como Bangalter comentou em uma entrevista ao Yahoo em 2007, “vivemos em uma sociedade em que o dinheiro é o que as pessoas querem, então elas não conseguem ter controle. Nós escolhemos. Controle é liberdade. […] Controle é controlar seu destino sem controlar outras pessoas”. E foi esse viés artístico que, no final das contas, transformaram-na na representação máxima do passado, do presente e do futuro.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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