Descobrir-se na vida e navegar por mudanças já não é mais uma jornada apenas narrada em comédias dramáticas teens como Oitava Série, Quase 18 ou O Verão da Minha Vida.
E o novato Cooper Raiff está aqui para provar isso e faz de seu segundo filme, Cha Cha Real Smooth – O Próximo Passo, a oportunidade perfeita para explorar as mazelas de ser um jovem adulto recém formado na faculdade e sem um horizonte bem definido diante dos seus olhos.
No filme que acaba de chegar no Brasil pelo streaming da Apple TV+, o cineasta de apenas 23 anos explora sua própria faixa etária em uma comédia doce, suave e sensível. Ao lado de dois nomes bem conhecidos em Hollywood, Dakota Johnson e Leslie Mann, ele faz do seu filme um clássico Sundance. Talvez seja cuidadosamente planejado para se encaixar nessa forma, mas ainda assim é inevitável não se encantar pelo seu coming of age às avessas.
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Além de dirigir e roteirizar, Raiff também estrela essa peculiar história em que um jovem perdido e um tanto sem rumo acaba desenvolvendo uma amizade com uma mulher “mais velha” (Dakota Johnson tem apenas 32 anos, capaz!) e sua filha autista. Como alguém que não parece encontrar o seu lugar, ele invariavelmente descobrirá que ser animador de bar mitzvahs pode ser a profissão que lhe encaixe melhor. E entre festinhas de aniversário e uma aproximação perigosa com uma mulher comprometida, Andrew vai aprender a navegar pelo sentimento do primeiro amor – dessa vez no auge dos seus 22 anos.
E com uma família um pouco disfuncional, mas regada de amor, ele ainda se torna a clássica figura adulta que, à medida que enfrenta os seus próprios dilemas no amor e na profissional, é também o contraste com seu irmãozinho mais novo, um garoto de 13 anos cheio de dúvidas, mas que parece ter muito mais para lhe ensinar do que ele poderia esperar. E assim, Cha Cha Real Smooth se desabrocha diante dos nossos olhos como uma delicada comédia não-romântica, daquelas que nos embala nos arcos de seus personagens, ainda que seus passos sejam duvidosos. Aqui, Raiff nos faz amar as imperfeições e discrepâncias de seus protagonistas, nos fazendo enxergar neles resquícios de nós mesmos. Quem nunca se sentiu insatisfeito em sua profissão? Quem nunca se sentiu confuso? Quem nunca teve medo de não ser amado? Tais retóricas são o alicerce de seu filme, que de quebra ainda explora o autismo por uma percepção sutil e realista.
E com uma trilha sonora adaptada que abre o longa ao som de Lupe Fiasco, percorrendo por bandas teens e indies, a dramédia promove o riso sem forçar e sem perder a sensibilidade que percorre as dores dos seus principais protagonistas. E com personagens tão carismáticos – principalmente o de Raiff -, não tem como o filme não ser um acerto. De sabor agridoce e com um final que deixa à deriva os apaixonados mais inveterados, Cha Cha Real Smooth entrega o desfecho que o público precisa, promovendo uma experiência aconchegante e acalentadora.
Fazendo um constante contraste de gerações entre todos os personagens, a comédia é ainda uma reflexão sobre como todos nós – de certa forma – estamos passando por algum tipo de amadurecimento. Explorando ainda o autismo com responsabilidade e carinho, o filme nos presenteia com uma inusitada e cativante amizade entre um quase adulto e uma pré-adolescente pura demais para esse mundo tão sagaz e perverso. E sob o encanto e charme de Raiff, Cha Cha Real Smooth nos toma pela mão e nos faz apaixonar pelo otimismo, bom-humor e paixão de um garotão que – à duras penas – descobrirá que crescer é um processo que nunca tem fim.