segunda-feira , 23 dezembro , 2024

‘De Cabeça Erguida’: Entrevistamos a atriz francesa Catherine Deneuve

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O CinePOP entrevistou a grande atriz francesa Catherine Deneuve, que chega aos cinemas brasileiros no dia 17 de setembro com o drama ‘De Cabeça Erguida (La Tête Haute),  da premiada diretora e roteirista Emmanuelle Bercot (Ela Vai).

Seleção Oficial e filme de abertura do Festival de Cannes deste ano, o drama foi um dos destaques do Festival Varilux de Cinema Francês deste ano.



Confira:

 

Assista também:
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Você ficou surpresa quando Emmanuelle Bercot lhe propôs trabalhar de novo antes mesmo do lançamento de “Ela Vai”?

Surpresa, sim, pois não sabia que já tinha terminado esse roteiro, mas feliz, pois “Ela Vai” tinha sido uma linda aventura… Além dos seus filmes, é uma mulher que me agrada, de quem gosto muito. Tenho muita estima e admiração por ela. Gosto da relação dela com as pessoas, gosto da relação com seu filho, com a vida, com o cinema. Gosto da capacidade de trabalho que ela tem, sua intensidade e sua simplicidade… É uma diretora que não deixa nada de fora quando está no set, que trabalha muito e com quem podemos realmente contar…

 

O que foi o mais excitante para você? Trabalhar de novo com ela? Interpretar esse personagem de juíza da infância?

Primeiro, trabalhar de novo com ela, e num projeto totalmente diferente do anterior, e também reencontrar sua equipe, Guillaume [Schiffman], seu diretor de fotografia, Pierre André, seu engenheiro de som… Segundo, estar num papel como esse, de uma juíza, mas uma juíza que… não julga! Uma juíza que ouve, que tenta achar o que há de melhor para esse jovem perdido que está diante dela. Quando fui ao Palácio de Justiça, fiquei chocada com a perseverança, a indulgência, a compreensão infinita desses juízes e desses educadores, sobretudo lidando com crianças que podem ser terríveis…

 

Você tem a fama de preferir a imaginação à “pesquisa em campo”. Foi você que quis ir observar o que acontecia no Tribunal da infância?

Rapidamente, eu e Emmanuelle concordamos que seria bom ir observar o que acontecia e como acontecia. Para sentir o tom, a voz, como as pessoas se expressavam e se comportavam, pois o perigo ao fazer o papel de um juiz é ilustrar a função em vez de encarnar uma pessoa… Gostei muito do roteiro, o papel me agradava muito, mas após reflexão, não achei tão evidente assim. É um pouco pergunta-resposta, pergunta-resposta… São diálogos bem reais, bem técnicos. Eu precisava ver como acontecia na realidade. Durante várias semanas assisti a diferentes sessões, diferentes audiências. Me lembro de uma sessão com dois garotos e uma garota que não queriam voltar a ficar com o pai, e a mãe estava lá, claro. Também havia os conselheiros, os advogados e o juiz. Posso dizer que entendíamos muito bem o que estava em jogo, as feridas, os dramas… Minha grande surpresa foi constatar a importância que se dá aos adolescentes, e o tempo dedicado a eles. Chegamos à conclusão de que moramos num país bem civilizado! Uma das forças do filme é chamar atenção para o trabalho feito por essas pessoas, sua perseverança, sua paciência. Fiquei chocada com as boas intenções que as animam, com a imensa capacidade de escuta que têm…

 

Você diria que ter ido a campo influenciou a maneira como fez o personagem?

Certamente. Ouvir os juízes se exprimindo também, os conselheiros desses adolescentes defendê-los dessa maneira, foi muito surpreendente e até impressionante. Não digo que pensei nisso em cada tomada da filmagem, mas com certeza estava impregnada disso. Emmanuelle, que tinha ficado marcada por uma juíza da infância agressiva, queria sempre me levar a ter mais autoridade, mais firmeza… Eu dizia a ela: “Não posso ter ares de policial o tempo todo!” Ao mesmo tempo, graças à maneira como ela montou as cenas, jogando com as trocas silenciosas e os olhares, sente-se que há uma escuta, uma grande atenção, sem que haja complacência…

 

Como definiria seu personagem?

 

Emmanuelle me contou essa história que seu tio educador tinha contado, quando a juíza tinha dito a ele sobre um jovem delinquente do qual os dois cuidavam: “Você é a mãe e eu sou o pai dele!” O personagem da juíza é meio isso. Digamos que para ficar nos clichês habituais, essa juíza é seu pai de vez em quando, já que é ela que pune – embora, quando ela decide enviar Malony à prisão, tenha sido porque ele não entenderia se não o fizesse, já que ele rompeu o contrato que tinham e também para protegê-lo dele mesmo. Ela se conduz como um pai mas é uma mulher, então tem reações de mulher, de mãe. Ela sabe ouvi-lo e sentir quando ele vai desabar, quando está à beira das lágrimas sem nem poder dizer a que ponto ficou impossível para ele…

 

Não seria, em vez de uma composição em que se poderia crer, mais um personagem que, com essa mistura de autoridade natural e benevolência é bem próxima de você?

Como, justamente, há nesses diálogos muitos fatos, datas, menções jurídicas, e como ela joga essas coisas todas na cara do pobre garoto sem rodeios, eu não podia me identificar muito… Ao mesmo tempo, é verdade, eu sentia tudo o que ela dizia a ele. Seu comportamento não era estranho para mim… só que não tenho certeza se seria capaz de dizer o que ela dizia com tanta firmeza. Emmanuelle fazia questão disso e ela tinha razão. O difícil para mim foi fazer de uma vez só todas essas cenas que, no filme, acontecem durante vários anos. No roteiro, víamos esse garoto evoluir com o tempo, se tornar um adolescente, um jovem rapaz. E minhas cenas com ele vinham decorar, pontuar o trajeto. Mas quando foi preciso filmar todas essas cenas seguidas, manter esse tom todos os dias, foi outra coisa! Foi algo que não tinha percebido antes da filmagem. Tinha que estar no mesmo tom durante várias semanas apesar de, às vezes, eu ter vontade de respirar. Mas me pediam para aguentar…

 

O que a impressiona em Rod Paradot?

Quando vi seus testes, fiquei impressionada com essa fragilidade, essa falta de confiança e, ao mesmo tempo, essa dureza aparente, essa raiva surda… Ele é formidável no filme. Com seu rosto ainda infantil, sua palidez, ele é comovente… Sei que sofreu, que Emmanuelle também sofreu, que ela não deu descanso a ele, mas o resultado é incrível. As cenas em que, subitamente, sua violência, sua raiva, sua dor explodem são muito fortes…

 

Você encontrou Benoît Magimel com quem já tinha filmado em “Os Ladrões”…

Benoît é muito comovente. Ele tem uma sensibilidade e uma intensidade peculiares que fazem desse homem ferido, cujo percurso e o que o liga à juíza vamos entendendo aos poucos, um belo personagem. Tão justo, e com que paciência também! Pessoas com tanta paciência e abnegação são tão admiráveis… Gosto muito de todas as nossas cenas, com os subentendidos, as trocas de olhares que Emmanuelle soube usar.

 

Em compensação, foi a primeira vez que você filmou com Sara Forestier…

 

O que ela fez com esse personagem, que não é o mais fácil, é impressionante.

Sara é uma grande atriz, uma atriz que ousa. Nos ensaios ela fez propostas ainda mais sombrias. Ela realmente ousou em muitas coisas, e se sentia em total confiança com Emmanuelle…

 

Em ‘Ela Vai’, você sempre estava em movimento e a câmera também, que a seguia. Nesse, está sempre sentada…

É, sou uma mulher tronco! [Risos]

 

…Sentimos que há direções que tendem a ser mais comedidas, mais impostas…

É, mas Emmanuelle filmou com várias câmeras e fez muitos planos, tanto que na montagem ela conseguiu, com muita vitalidade, destacar o que acontece nessa sala…

 

Para você, qual é o trunfo principal dela?

Seu talento… mesmo se é uma palavra que engloba tudo. Mesmo assim, é sua forma de talento. Seus roteiros são realmente trabalhados. Na leitura, não se diz: “Está bom, mas isso deveria ser revisto”. Tanto que ela ainda trabalha, mesmo depois que todo mundo aceitou o filme. Ela decide tudo, ela está em todas as frentes. Se quer ir fazer uma verificação e não lhe dão a possibilidade, ela dirá: “Tudo bem, vou fazer mesmo assim”. Ela se dá meios de fazer o que quer e acho que, para ela, deve ser também uma grande satisfação. Nesse filme, ela realmente trabalhou como queria. Não precisamos nos fazer perguntas falsas. Se fazemos, é porque devemos fazê-lo. Ela nunca para de trabalhar. Antes, durante, depois. Deve ser cansativo para ela. Tenho admiração por sua energia, sua intensidade, seu rigor também… Fiquei impressionada com seu trabalho nesse filme. Sempre há um ponto de vista, é sempre bom, sempre justo, sempre verdadeiro. Há algo muito poderoso. Ao mesmo tempo, é um filme luminoso, positivo…

 

Assista ao trailer:

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Seleção Oficial e filme de abertura do Festival de Cannes deste ano, o drama foi um dos destaques do Festival Varilux de Cinema Francês deste ano.

Confira:

 

Você ficou surpresa quando Emmanuelle Bercot lhe propôs trabalhar de novo antes mesmo do lançamento de “Ela Vai”?

Surpresa, sim, pois não sabia que já tinha terminado esse roteiro, mas feliz, pois “Ela Vai” tinha sido uma linda aventura… Além dos seus filmes, é uma mulher que me agrada, de quem gosto muito. Tenho muita estima e admiração por ela. Gosto da relação dela com as pessoas, gosto da relação com seu filho, com a vida, com o cinema. Gosto da capacidade de trabalho que ela tem, sua intensidade e sua simplicidade… É uma diretora que não deixa nada de fora quando está no set, que trabalha muito e com quem podemos realmente contar…

 

O que foi o mais excitante para você? Trabalhar de novo com ela? Interpretar esse personagem de juíza da infância?

Primeiro, trabalhar de novo com ela, e num projeto totalmente diferente do anterior, e também reencontrar sua equipe, Guillaume [Schiffman], seu diretor de fotografia, Pierre André, seu engenheiro de som… Segundo, estar num papel como esse, de uma juíza, mas uma juíza que… não julga! Uma juíza que ouve, que tenta achar o que há de melhor para esse jovem perdido que está diante dela. Quando fui ao Palácio de Justiça, fiquei chocada com a perseverança, a indulgência, a compreensão infinita desses juízes e desses educadores, sobretudo lidando com crianças que podem ser terríveis…

 

Você tem a fama de preferir a imaginação à “pesquisa em campo”. Foi você que quis ir observar o que acontecia no Tribunal da infância?

Rapidamente, eu e Emmanuelle concordamos que seria bom ir observar o que acontecia e como acontecia. Para sentir o tom, a voz, como as pessoas se expressavam e se comportavam, pois o perigo ao fazer o papel de um juiz é ilustrar a função em vez de encarnar uma pessoa… Gostei muito do roteiro, o papel me agradava muito, mas após reflexão, não achei tão evidente assim. É um pouco pergunta-resposta, pergunta-resposta… São diálogos bem reais, bem técnicos. Eu precisava ver como acontecia na realidade. Durante várias semanas assisti a diferentes sessões, diferentes audiências. Me lembro de uma sessão com dois garotos e uma garota que não queriam voltar a ficar com o pai, e a mãe estava lá, claro. Também havia os conselheiros, os advogados e o juiz. Posso dizer que entendíamos muito bem o que estava em jogo, as feridas, os dramas… Minha grande surpresa foi constatar a importância que se dá aos adolescentes, e o tempo dedicado a eles. Chegamos à conclusão de que moramos num país bem civilizado! Uma das forças do filme é chamar atenção para o trabalho feito por essas pessoas, sua perseverança, sua paciência. Fiquei chocada com as boas intenções que as animam, com a imensa capacidade de escuta que têm…

 

Você diria que ter ido a campo influenciou a maneira como fez o personagem?

Certamente. Ouvir os juízes se exprimindo também, os conselheiros desses adolescentes defendê-los dessa maneira, foi muito surpreendente e até impressionante. Não digo que pensei nisso em cada tomada da filmagem, mas com certeza estava impregnada disso. Emmanuelle, que tinha ficado marcada por uma juíza da infância agressiva, queria sempre me levar a ter mais autoridade, mais firmeza… Eu dizia a ela: “Não posso ter ares de policial o tempo todo!” Ao mesmo tempo, graças à maneira como ela montou as cenas, jogando com as trocas silenciosas e os olhares, sente-se que há uma escuta, uma grande atenção, sem que haja complacência…

 

Como definiria seu personagem?

 

Emmanuelle me contou essa história que seu tio educador tinha contado, quando a juíza tinha dito a ele sobre um jovem delinquente do qual os dois cuidavam: “Você é a mãe e eu sou o pai dele!” O personagem da juíza é meio isso. Digamos que para ficar nos clichês habituais, essa juíza é seu pai de vez em quando, já que é ela que pune – embora, quando ela decide enviar Malony à prisão, tenha sido porque ele não entenderia se não o fizesse, já que ele rompeu o contrato que tinham e também para protegê-lo dele mesmo. Ela se conduz como um pai mas é uma mulher, então tem reações de mulher, de mãe. Ela sabe ouvi-lo e sentir quando ele vai desabar, quando está à beira das lágrimas sem nem poder dizer a que ponto ficou impossível para ele…

 

Não seria, em vez de uma composição em que se poderia crer, mais um personagem que, com essa mistura de autoridade natural e benevolência é bem próxima de você?

Como, justamente, há nesses diálogos muitos fatos, datas, menções jurídicas, e como ela joga essas coisas todas na cara do pobre garoto sem rodeios, eu não podia me identificar muito… Ao mesmo tempo, é verdade, eu sentia tudo o que ela dizia a ele. Seu comportamento não era estranho para mim… só que não tenho certeza se seria capaz de dizer o que ela dizia com tanta firmeza. Emmanuelle fazia questão disso e ela tinha razão. O difícil para mim foi fazer de uma vez só todas essas cenas que, no filme, acontecem durante vários anos. No roteiro, víamos esse garoto evoluir com o tempo, se tornar um adolescente, um jovem rapaz. E minhas cenas com ele vinham decorar, pontuar o trajeto. Mas quando foi preciso filmar todas essas cenas seguidas, manter esse tom todos os dias, foi outra coisa! Foi algo que não tinha percebido antes da filmagem. Tinha que estar no mesmo tom durante várias semanas apesar de, às vezes, eu ter vontade de respirar. Mas me pediam para aguentar…

 

O que a impressiona em Rod Paradot?

Quando vi seus testes, fiquei impressionada com essa fragilidade, essa falta de confiança e, ao mesmo tempo, essa dureza aparente, essa raiva surda… Ele é formidável no filme. Com seu rosto ainda infantil, sua palidez, ele é comovente… Sei que sofreu, que Emmanuelle também sofreu, que ela não deu descanso a ele, mas o resultado é incrível. As cenas em que, subitamente, sua violência, sua raiva, sua dor explodem são muito fortes…

 

Você encontrou Benoît Magimel com quem já tinha filmado em “Os Ladrões”…

Benoît é muito comovente. Ele tem uma sensibilidade e uma intensidade peculiares que fazem desse homem ferido, cujo percurso e o que o liga à juíza vamos entendendo aos poucos, um belo personagem. Tão justo, e com que paciência também! Pessoas com tanta paciência e abnegação são tão admiráveis… Gosto muito de todas as nossas cenas, com os subentendidos, as trocas de olhares que Emmanuelle soube usar.

 

Em compensação, foi a primeira vez que você filmou com Sara Forestier…

 

O que ela fez com esse personagem, que não é o mais fácil, é impressionante.

Sara é uma grande atriz, uma atriz que ousa. Nos ensaios ela fez propostas ainda mais sombrias. Ela realmente ousou em muitas coisas, e se sentia em total confiança com Emmanuelle…

 

Em ‘Ela Vai’, você sempre estava em movimento e a câmera também, que a seguia. Nesse, está sempre sentada…

É, sou uma mulher tronco! [Risos]

 

…Sentimos que há direções que tendem a ser mais comedidas, mais impostas…

É, mas Emmanuelle filmou com várias câmeras e fez muitos planos, tanto que na montagem ela conseguiu, com muita vitalidade, destacar o que acontece nessa sala…

 

Para você, qual é o trunfo principal dela?

Seu talento… mesmo se é uma palavra que engloba tudo. Mesmo assim, é sua forma de talento. Seus roteiros são realmente trabalhados. Na leitura, não se diz: “Está bom, mas isso deveria ser revisto”. Tanto que ela ainda trabalha, mesmo depois que todo mundo aceitou o filme. Ela decide tudo, ela está em todas as frentes. Se quer ir fazer uma verificação e não lhe dão a possibilidade, ela dirá: “Tudo bem, vou fazer mesmo assim”. Ela se dá meios de fazer o que quer e acho que, para ela, deve ser também uma grande satisfação. Nesse filme, ela realmente trabalhou como queria. Não precisamos nos fazer perguntas falsas. Se fazemos, é porque devemos fazê-lo. Ela nunca para de trabalhar. Antes, durante, depois. Deve ser cansativo para ela. Tenho admiração por sua energia, sua intensidade, seu rigor também… Fiquei impressionada com seu trabalho nesse filme. Sempre há um ponto de vista, é sempre bom, sempre justo, sempre verdadeiro. Há algo muito poderoso. Ao mesmo tempo, é um filme luminoso, positivo…

 

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