2021 está chegando ao fim – o que significa que está na hora de fazermos as tão aguardadas retrospectivas.
Para começar, montamos uma breve lista com os 21 melhores álbuns do ano – e garantimos que não foi uma tarefa nem um pouco fácil. Entre incríveis obras brasileiras que nos tiraram o fôlego e produções internacionais que mereciam maior reconhecimento, nossas escolhas variam desde o suprassumo do MPB até o pop-noir e a eletrônica.
Confira abaixo nossa lista e conte para nós qual foi seu álbum favorito de 2021:
21. DOCE 22, Luísa Sonza
“Um dos aspectos mais atraentes das faixas é a invejável capacidade de Sonza em unir instrumentos conflitantes entre si sem deixar que as progressões se acumulem em uma massa amorfa e indecifrável. Desde o começo da carreira, a cantora mostrou seu apreço por gêneros diferentes, incluindo as confessionais digressões das baladas, a jocosidade do rock-pop e a preferência estilística da clássica MPB. Em “penhasco.”, ela revela as mágoas que ainda carrega e utiliza a própria música em um exercício metapoético, entendendo o motivo de ter se machucado em versos consecutivos como “eu tive que desaprender a gostar tanto de você” e “sabe que se chamar eu vou”. A progressão, teatral para alguns e evocativa para outros, é movida pela transição potente do piano à percussão, arrancando os melhores vocais de Sonza em uma explosão sentimental.” – Thiago Nolla
20. STAR-CROSSED, Kacey Musgraves
Depois de ter conquistado o tão cobiçado prêmio de Álbum do Ano pelo irretocável ‘Golden Hour’, Kacey Musgraves retornou para o mundo da música sedenta por encantar os fãs com seus vocais angelicais e por narrativas relacionáveis e muito bem construídas. E foi então que nasceu ‘Star-Crossed’, sua quinta obra musical. Ainda mais pessoal que os discos anteriores, Musgraves misturou elementos como folk, rock, dance e música psicodélica para tratar de um tema muito delicado, o divórcio, criando um enredo inspirado na clássica tragédia shakespeariana ‘Romeu e Julieta’. Apresentando um novo lado de sua personalidade apaixonante, a cantora e compositora cumpriu com o prometido e conquistou seu lugar não apenas na nossa lista, mas em várias outras.
19. SOUR, Olivia Rodrigo
“Quando pensamos no ineditismo artístico, não falamos exatamente de histórias revolucionárias ou qualquer coisa do tipo – muito pelo contrário: sabemos que os enredos serão bastante similares e que o modo de contá-los é o que deve prevalecer. Aliando-se à Geffen Records, Olivia decide gerar uma íntima jornada adolescente, apelando para um simples e profundo diálogo com as angústias pelas quais jovens passam e que são, normalmente, descreditadas por adultos. Logo, é óbvio que iremos encontrar diversas reflexões amorosas sobre traição, namoros, decepções e um senso de sempre querer seguir em frente e almejar pela felicidade. O interessante é de que forma Rodrigo arquiteta cada uma das onze breves faixas, emulando diversas influências que variam desde o pop-punk de Avril Lavigne à rebeldia do rock de Joan Jett – as quais já marcam presença na track de abertura.” – T.N.
18. BACK OF MY MIND, H.E.R.
É muito estranho pensar que H.E.R., depois de conquistar o mundo com suas músicas incríveis, nunca tenha lançado um álbum completo. Isso é, até agora: depois de nos encantar com sua belíssima voz e com necessários versos que conversam com os temas explorados na atualidade. Guiado por canções como “Slide”, “Damage”, “Come Through” e vários outros, ‘Back of My Mind’ reflete o lado de uma artista que ainda tem muito a dizer. Como se não bastasse, o lirismo pungente da cantora e compositora é acompanhado por uma produção on point que conta com Tiara Thomas e Carl McCormick.
17. COR, ANAVITÓRIA
“Os melhores momentos de ‘Cor’ insurgem quando a dupla não se limita a construir algo simplista – como acontece com “Te amar é massa demais”. A obviedade do título é logo varrida para debaixo do tapete quando é-nos apresentada uma conflitante e apaixonante explosão de samba e bossa-nova que nos arremessa de volta para os anos 1920 do subúrbio carioca, enquanto abre espaço para inflexões à la Tom Jobim e Maria Gadú, com reflexos distantes à fase mais pé-no-chão de Elis Regina (e tais caracterizações explicam o motivo de ser um dos pontos altos da iteração). Já “Tenta acreditar” é um antro em que vulnerabilidade e teatralidade encontram um espectro em comum num circense e pessoal desabafo.” – T.N.
16. CHEMTRAILS OVER THE COUNTRY CLUB, Lana Del Rey
“Da mesma forma que arquiteta algo novo, por assim dizer, ela faz questão de mencionar a si própria em faixas como “Tulsa Jesus Freak”, movida pela paixão e pela devoção (talvez não de outro alguém para si própria, mas no movimento contrário, principalmente quando reverencia “Marina’s Apartment Complex”); na cândida “Wild at Heart”, ela se volta para Anna Nalick e para “Looking for America”, especialmente quando utiliza um evocativo coro para acompanhá-la no country-rock alternativo do qual se vale; em “Dark But Just a Game”, Del Rey abre as cartas para a sensualidade de “National Anthem” enquanto reverencia nomes como Janelle Monáe e até mesmo Kacey Musgraves. “Breaking Up Slowly”, mas é uma fenomenal track que merece toda a nossa atenção, une duas powerhouses com a química harmônica de Lana e de Nikki Lane para a vertente do rock clássico de The Animals (uma das muitas inspirações para a carreira da lead singer).” – T.N.
15. A TOUCH OF THE BEAT, Aly & AJ
“Composto por doze faixas, o monstruoso e poético título, ‘A Touch of the Beat Gets You Up on Your Feet Gets You Out and Then Into the Sun’, representa uma forte mudança no estilo apresentado aos fãs desde sua estreia nos anos 2000. Carregando apreço pelo costumeiro e mercadológico pop-rock ou pelo classicismo do nu-house, Aly e AJ resolveram apostar fichas em um nicho que começou a ser explorado ainda nas protuberâncias sessentistas do cenário europeu – o rock eletrônico ou synth-rock. É a partir daí que insurge a arquitetura principal da produção, alastrando-se ao longo de quase cinquenta minutos de forma a não cair na repetição e apresentar uma nostálgica e, ao mesmo tempo, original identidade sonora.” – T.N.
14. LOVE FOR SALE, Lady Gaga & Tony Bennett
“Sete anos mais tarde, os icônicos performers resolveram se juntar mais uma vez com um segundo álbum colaborativo, intitulado ‘Love for Sale’. Após as belíssimas homenagens feitas a nomes como George Gershwin, Cole Porter, Jerome Kern e Irving Berlin, Gaga e Bennett resolveram continuar o projeto de apresentar a universalidade do jazz ao público mais jovem com um tributo especial a Porter, separando doze faixas (na versão deluxe, vale lembrar) pinceladas com uma química apaixonantes e com um sabor agridoce que acompanha a despedida de Tony do cenário fonográfico após ser diagnosticado em 2016 com Alzheimer. Por essa razão e por tudo o que o cantor e compositor representa para a história, não podemos deixar de nos emocionar track a track, ainda que a construção e a progressão sejam divertidas e dançantes.” – T.N.
13. HEAUX TALES, Jazmine Sullivan
“O primeiro álbum completo de Jazmine Sullivan serviu como uma ótima sequência de suas iterações predecessoras. Descrito pela própria artista como a entrada mais obscura de sua carreira, ‘Heaux Tales’ traz o melhor do R&B sem perder a mão do que ela realmente pretende: investir esforços em uma espécie de construção conceitual que parte do significado do hip hop. Como se não bastasse, o EP conta com inúmeras colaborações que incluem Ari Lennox e H.E.R..” – T.N.
12. JUBILEE, Japanese Breakfast
“Se você sentiu falta, por enquanto, de um álbum que resgatasse a revolução arquitetada por Fiona Apple no ano passado, não tema: a banda independente Japanese Breakfast veio para saciar nossa sede. Comandado pelos vocais inesperados da lead singer Michelle Zauner, que inclusive mergulhou de cabeça no próprio livro de memórias ‘Crying in H Mart’, a mistura explosiva de art pop e lo-fi é o que transforma ‘Jubilee’ em uma obra como nenhuma outra – motivo pelo qual ocupa o quarto lugar da nossa lista.” – T.N.
11. ANCIENT DREAMS IN A MODERN LAND, MARINA
“De fato, quando pensamos que a performer sempre fez o que bem entendeu com a carreira, o compilado de originais se transforma em uma declamação antêmica de liberdade, em que ela se sente na obrigação de apoiar os marginalizados (“me queimou na fogueira, achou que eu era uma bruxa” talvez seja uma das constatações mais bem-vindas da iteração). Mas, quando o frenesi cansativo dessa austeridade é posto de lado, somos arrastados para pequenas joias musicais que tomam forma na balada “Highly Emotional People”, talvez uma ode à melancolia da amiga Lana Del Rey, talvez apenas um jeito elegante de dizer o que precisa.” – T.N.
10. HAPPIER THAN EVER, Billie Eilish
“Se há algo que fica claro com a chegada da nova obra é a homenagem que a performer faz a cada um dos artistas que a influenciaram desde as primeiras incursões artísticas com EPs que merecem mais reconhecimento do que tem. Inclinando-se inclusive para referências brasileiras, é notável como Billie não tem remorsos em fazer o que bem entender: em “Therefore I Am”, outro dos singles promocionais lançados em 2020, ela retoma o pop noir de “bad guy”, que a colocou no topo das paradas mundiais e lhe rendeu duas estatuetas do Grammy (Música do Ano e Canção do Ano), em uma narrativa que beira o metafísico sem perder a veia ácida (“não sou sua amiga ou qualquer coisa, droga; você acha que é o cara”). O mesmo teor trip-hop se estende para a deliciosa percussão de “Lost Cause”, outro dos vários ápices, que flerta com uma complexa sensualidade.” – T.N.
9. TE AMO LÁ FORA, Duda Beat
Duda Beat lançou seu primeiro álbum em 2018, ‘Sinto Muito’, aproveitando a efervescência do pop brasileiro para se transformar em um dos ícones da “sofrência” musical. Três anos mais tarde – e abraçando um amadurecimento muito bem vindo -, a cantora e compositora se lançou de cabeça em uma produção mais íntima e vibrante, ao mesmo tempo. Marcado pela explosiva naturalidade de “Meu Pisêro”, que se configura como uma das melhores faixas do ano, ‘Te Amo Lá Fora’ merece ser apreciado do começo ao fim dentro de uma pluralidade que abre espaço para o reggae, para o soft-rock e até mesmo para o dance.
8. BLUE WEEKEND, Wolf Alice
“Quatro anos depois de terem lançado seu último álbum, a banda inglesa Wolf Alice retornou sem muito alvoroço com a impecável produção ‘Blue Weekend’. Sem sombra de dúvida uma das obras mais subestimadas de 2021 e uma que merece entrar para a lista dos apaixonados por rock alternativo e indie pop, a construção das onze breves faixas representa o amadurecimento e a completa compreensão do que significa ser um artista na atualidade, contando com singles como “The Last Man on Earth” e “No Hard Feelings”.” – T.N.
7. 30, Adele
“Já tendo passado dos trinta anos, a única direção em que a performer poderia seguir era o do amadurecimento – da mesma maneira que vimos acontecer com nomes como Lady Gaga, Gwen Stefani e Taylor Swift. É claro que ‘30’, desde seu inesperado lançamento, já fomentava inúmeras expectativas e um dos comebacks mais aguardados da década, algo que Adele definitivamente cumpriu com enorme êxito. Seu quarto álbum de estúdio, estendendo-se por doze faixas de puro êxtase criativo, é uma carta de amor para si mesma e a representação do profundo processo de cura em que se lançou após o divórcio (uma drástica mudança para qualquer um que enfrente algo similar). Novamente se apoiando no soul, no pop e no jazz, a cantora explorou territórios ainda inóspitos dentro de sua carreira, mas sem deixar sua identidade de lado – o que significa vocais esplêndidos, versos de tirar o fôlego e uma produção aplaudível do começo ao fim.” – T.N.
6. MONTERO, Lil Nas X
Depois de ter parado o mundo com a colaboração “Old Town Road”, que quebrou inúmeros recordes de vendas e passou 18 semanas no topo da Hot 100 da Billboard, o rapper Lil Nas X se lançou de cabeça em seu debut oficial na indústria fonográfica e entregou o impecável ‘MONTERO’. Indescupavelmente abraçando tudo o que representa para as minorias sociais, o musicista se aliou a nomes como Doja Cat, Elton John e Megan Thee Stallion para uma jornada de tirar o fôlego, assinada pelo pop rap e por um sarcasmo ácido aplaudível.
5. DEATH BY ROCK AND ROLL, The Pretty Reckless
“Os momentos de extravagância explodem proposital e profusamente ao longo de doze belíssimas faixas – e o primeiro vislumbre dessa caprichosa inflexão dá-se em “Broomsticks”, uma espécie de interlúdio que se fecha em si mesmo, mas que, ao mesmo tempo, nos prepara para a narcótica viagem oitentista de “Witches Burn”, um dos ápices da produção que se guia pelos vocais de Taylor e que restringe a guitarra e o baixo ao atmosférico segundo plano. Na trama, a cantora vive uma mulher sem escrúpulos e que não será diminuída pelas outras pessoas e que tem um poder destrutivo cataclísmico – refletido por um abrangente e bem estruturado alcance vocal. “Turning Gold” abarca certos elementos do arabic pop para uma familiar e exultante arquitetura country-rock – que também revela um dos melhores pré-refrões já entregues pela banda através de versos que falam da inexorabilidade do tempo.” – T.N.
4. CALL ME IF YOU GET LOST, Tyler the Creator
Tyler the Creator é um dos artistas mais originais e aclamados da contemporaneidade – e seu retorno à música com ‘CALL ME IF YOU GET LOST’ veio seguido de perto por uma expectativa gigantesca. Mas Tyler não nos decepcionou e entregou o que podemos apenas encarar como a melhor entrada de sua exuberante discografia. O álbum, movido ao classicismo inigualável do hip hop, traz colaborações com Ty Dolla $ign, Lil Wayne e Pharrell Williams, trazendo referências inesperadas da poética de Charles Baudelaire e fundindo gêneros como pop, jazz, soul e reggae.
3. IF I CAN’T HAVE LOVE, I WANT POWER, Halsey
“Apesar do pouco material promocional divulgado – e isso não inclui qualquer single divulgado -, a artista chamou nossa atenção com a exibição da belíssima capa do CD, em que posava ao lado do filho recém-nascido em um cenário ressoante a ‘Game of Thrones’ e às pinturas renascentistas. Pouco depois, confirmou a produção de um filme que estrearia nos cinemas em IMAX, com a prévia de uma faixa que, até então, não havia visto a luz do dia. E nesta última sexta-feira, os fãs foram agraciados com o début do álbum, que conta com 13 faixas originais e que adota um tom assumidamente político e crítico em seu cerne, tratando de temas como feminismo, misoginia, disparidade de gênero e as mazelas do patriarcado tradicionalismo. Aliadas a um amadurecimento ideológico, as faixas são envolventes pela estrutura dissonante e pela ousadia fonográfica que se afasta dos preceitos mercadológicos e nos infunde com reflexões sobre a própria sociedade.” – T.N.
2. ÍNDIGO BORBOLETA ANIL, Liniker
“Em meio a tantos lançamentos nacionais e internacionais que pululam no cenário mainstream, o primeiro álbum solo de Liniker poderia passar longe dos nossos radares – e, mesmo que o faça, não deveria. Ao longo de quase 50 minutos de duração e apenas 11 faixas, a performer consegue arquitetar uma envolvente e explosiva narrativa sonora, não pensando duas vezes em prestar homenagens aos artistas que lhe inspiraram, desde a icônica Vanusa até a saudosa Amy Winehouse. Aqui, lidamos com uma amálgama frutífera e saborosa de inúmeros elementos que oscilam do black music e do reggae ao R&B e o MPB, destilando poesia em cada verso que constrói e entregando tudo de si em cada refrão.” – T.N.
1. DADDY’S HOME, St. Vincent
“St. Vincent demonstra que o passado tem lugar marcante em sua vida – sutilmente aludindo aos estilos que o próprio pai lhe apresentou quando criança, como revelou em diversas entrevistas promovendo a obra. “Down And Out Downtown” é uma elegia de empoderamento, um hino de independência e uma viagem tétrica, em que ela “estava voando pelo Empire State, então você me beijou e eu caí de novo”. Em “Laughing Man”, ela mostra uma versatilidade apaixonante e aplaudível que se alastra tanto para o ritmo frasal do blues quanto para um enredo à la John Cassavetes (que é inclusive reconhecido em um dos versos). “Somebody Like Me”, como a própria performer já explicou, é um cândido e íntimo retrato sobre a mútua ilusão do amor, perpassando pelos vários estágios de um relacionamento e pela construção de uma compreensão recíproca e profunda.” – T.N.