Morte no Nilo finalmente será lançado nos cinemas pelo mundo, incluindo no Brasil, no início de fevereiro de 2022. Isso é, se mais nada acontecer ao filme. Uma das produções mais polêmicas e problemáticas (de forma involuntária) dos últimos anos, Morte no Nilo é a mais nova adaptação em grande estilo de um texto da “rainha do suspense” Agatha Christie para o cinema, confeccionada pelas mãos do Shakespeareano Kenneth Branagh.
Esse universo interligado dos livros da autora contendo um de seus personagens mais famosos, o investigador Hercule Poirot, foi concatenado pelo cineasta Kenneth Branagh e o estúdio 20th Century Fox. E tudo começou numa produção de US$55 milhões, com grandes nomes no elenco como Michelle Pfeiffer, Judi Dench, Penélope Cruz e Daisy Ridley. Assassinato no Expresso do Oriente, o livro, foi lançado em 1934, e até então sua versão mais famosa no cinema era um filme de Sidney Lumet de 1976, com Albert Finney, Sean Connery, Ingrid Bergman e grande elenco. Na versão de Branagh, o próprio pega para si o protagonismo na pele de Poirot. O primeiro entrave, porém, do filme lançado em 2017 foi na figura polêmica de Johnny Depp – já na época começando seus problemas no casamento – num dos papeis chave do filme. A sensação estranha de termos o ator foi igualada por críticas mornas e uma bilheteria “apenas” satisfatória. O sinal verde estava dado, no entanto, para que Branagh fosse em frente com seu “Agathaverso”.
O passo seguinte do criador era escolher qual seria a próxima aventura de Poirot. A opção foi por Morte no Nilo, o décimo oitavo livro de Christie contendo o personagem – que na visão de Branagh iria continuar o décimo livro do detetive (Assassinato no Expresso do Oriente). O livro, lançado em 1937, igualmente já havia sido adaptado ao cinema, dessa vez por John Guillermin em 1978, dois anos depois do filme de Lumet – ambos distribuídos pela Paramount nos EUA. Nesta primeira versão de Morte no Nilo, figuras ilustres como Bette Davis, David Niven, Maggie Smith e Angela Lansburry desfilavam em tela. A principal mudança, no entanto, foi Albert Finney substituído por Peter Ustinov, que viria a ficar conhecido como a face de Poirot no cinema.
Uma série de “tropeços” adiaram a estreia da tão aguardada nova versão de Morte no Nilo. O primeiro obstáculo (e mais óbvio) foi a pandemia – que adiou grande parte dos filmes que seriam lançados em 2020 para 2021. Antes disso, a Disney havia comprado a 20th Century Fox, o que deixou incerto o destino de muitos filmes. No fim das contas, todos vem sendo lançados com o novo selo do “20th Century Studios”. Mas a principal controvérsia envolvendo Morte no Nilo, que novamente conta com um elenco deslumbrante, envolve justamente um de seus membros. O jovem Armie Hammer, um dos atores protagonistas do longa, foi o centro de um escândalo envolvendo abuso sexual, comportamento predatório e até mesmo canibalismo. É disso que o acusam algumas vítimas. O ator, que era casado, viu sua vida profissional aos poucos ruir, o que resultou no desligamento de alguns projetos e afastamento dos holofotes. Para piorar, um tempo depois outro membro do elenco começou a vazar na mídia seu comportamento errático. Letitia Wright, a Shuri do blockbuster Pantera Negra se mostrou uma negacionista anti-vacina. Quem diria que uma heroína das telas se mostraria uma vilã em tão pouco tempo.
Dessa forma, o novo filme de Kenneth Branagh parecia amaldiçoado, sem que talvez pudesse ver as telonas algum dia. Mas eis que surge a luz no fim do túnel com a promessa de lançamento em fevereiro. A trama em partes lembra a estrutura de Assassinato no Expresso do Oriente. Temos um grupo diverso de pessoas, de diferentes etnias e classes sociais, a bordo de um transporte por um local exótico do mundo. No filme anterior, era um trem em Istambul. Aqui, um barco a vapor cruzando o rio Nilo, no Egito. Em ambos um passageiro misterioso, que guarda inúmeros segredos, é assassinado. Todos são suspeitos. E apenas Hercule Poirot poderá desvendar o crime.
Pensando em como Kenneth Branagh poderia continuar seu planejado Agathaverso no cinema, resolvemos dar nossos palpites sobre o eventual terceiro filme desta franquia, reformulada pela Fox e agora nas mãos da Disney. A casa do Mickey não costuma jogar para perder e adora fazer suas propriedades gerarem dinheiro. Mas a continuidade deste universo dependerá muito da recepção e resultado de Morte no Nilo. O qual estamos torcendo para dar certo e assim podermos ver mais investigações do Poirot-Branagh. É claro também que os realizadores podem escolher outro livro como base, um que ainda não tenha sido adaptado às telas, afinal são 47 ao todo contando as aventuras do detetive. Aqui, porém, iremos abordar os que merecem novas roupagens, assim como o cineasta vem fazendo.
Assassinato num Dia de Sol
Intitulado originalmente Evil Under the Sun (algo como “o mal debaixo do sol”), este é outro dos livros de Agatha Christie protagonizado por Poirot que já se tornou um filme para o cinema. Dirigido por Guy Hamilton (007 Contra Goldfinger), o longa foi lançado em 1982 e este ano completa 40 anos de sua estreia. Esse é também o segundo filme em que Poirot foi interpretado por Peter Ustinov, construindo assim sua própria continuidade nas telonas. Na trama passada numa ilha paradisíaca, em um hotel no Mediterrâneo, Arlena Marshall (papel de Diana Rigg) é uma figura polêmica, que logo se torna alvo do ódio de todos ao redor. Seja por se recusar a fazer um show, impedir o lançamento de um livro ou por seu caso nem um pouco escondido com Patrick, um sujeito casado, bem debaixo do nariz da esposa. É claro que a moça logo aparece morta, e cabe a Poirot investigar quem foi o culpado do ato neste local paradisíaco. Além do assassinato, o caso envolve também joias falsificadas.
Treze à Mesa
Aqui temos uma produção lançada três anos depois de Assassinato num Dia de Sol, que conta novamente com a presença de Peter Ustinov na pele de Poirot, marcando assim o terceiro filme consecutivo do ator no papel. Diferentemente dos dois anteriores, no entanto, a estreia de Treze à Mesa (ou Thirteen at Dinner) ocorreu não nos cinemas, mas sim diretamente no canal de TV norte-americano CBS. Na trama, uma atriz é acusada de matar o próprio marido. A principal suspeita deste novo mistério é interpretada pela vencedora do Oscar Faye Dunaway (Chinatown), o principal nome de destaque no elenco. Uma curiosidade aqui é que temos o nome de David Suchet no elenco, ator que assim como Ustinov igualmente ficaria conhecido como um dos intérpretes de Poirot mais lembrados pelo público. No caso de Suchet, o ator viveu Poirot numa série de TV iniciada em 1989.
A Extravagância do Morto
Logo no ano seguinte de Treze à Mesa, em 1986, um novo filme protagonizado pelo Poirot de Peter Ustinov chegava novamente à rede CBS, com produção da Warner Bros. Television. Lançado em janeiro e com o título original Dead Man’s Folly, essa é uma das tramas mais curiosas e originais de uma das aventuras do detetive. Aqui, a história se desenrola num “Murder Hunt”, um jogo que simula um mistério de assassinato, do qual o detetive Hercule Poirot foi chamado para servir de consultor. Porém, o pior acontece, e sim você acertou, durante a “brincadeira” alguém é morto de verdade, tornando assim tudo bem real.
Tragédia em Três Atos
No mesmo ano do item acima, um segundo filme protagonizado pelo Poirot de Ustinov ia ao ar pela mesma CBS em parceria com a Warner, apenas oito meses após a estreia de A Extravagância do Morto. Dava para ver que o canal estava apostando verdadeiramente em seu Agathaverso nas telinhas. Ou seria Poirot-verso? Dessa vez, o grande detetive belga é convidado por um amigo para ir até o México, em Acapulco. Mas esse não é um episódio de Chaves, e assim, durante um jantar com os novos amigos, o detetive precisa entrar em ação quando alguns convidados começar a cair mortos, envenenados. O nome mais conhecido deste elenco, além de Ustinov, é o de Tony Curtis, que interpreta no longa um famoso ator e um dos convidados.
Encontro Marcado com a Morte
Após três filmes nas telonas (sendo dois com Peter Ustinov) e três lançados na TV na década de 1980, parecia que o destino do grande Hercule Poirot seria mesmo as telinhas. Eis que surge este Encontro Marcado com a Morte (Appointment with Death), o retorno triunfal do Poirot de Ustinov nas telonas. Ou quase. Explico. Sim, Poirot voltava aos cinemas em 1988 – porém, como nem tudo são flores, seu resgate ocorria pelas mãos da produtora picareta Cannon Films, especializada em filmes de ação. Aposto que você não sabia dessa. Mas a Cannon Films, dos israelenses Yoram Globus e Menahem Golan, levou o classudo detetive Hercule Poirot, de Agatha Christie, aos cinemas. Tinha que ser na década de 1980. Na trama, uma matriarca dominadora termina morta em uma viagem de férias em Jerusalém, no Mar Morto. No elenco, um dos chamarizes é a presença de Carrie Fisher, a eterna Princesa Leia de Star Wars.