domingo , 22 dezembro , 2024

‘Destino Insólito’ | Os 20 Anos do NAUFRÁGIO de Madonna e Guy Ritchie nas telas

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A cada ano ganhamos obras cinematográficas que terminam ecoando na eternidade. A arte é subjetiva e está o tempo todo em constante mudança e movimento. É isso que faz dela tão maravilhosa. Por exemplo, dos primórdios da sétima arte, temos produções adoradas até hoje, como Drácula (1931), O Mágico de Oz (1939) e Casablanca (1942). Com centenas de filmes lançados a cada ano, é natural que apenas alguns conquistem destaque absoluto, geralmente impulsionados pelo sucesso de crítica ou público (bilheteria). É natural também que tendamos a prestar atenção em obras que tragam nomes de peso da cultura envolvidos, como realizadores e elenco. Mas o que serve como chamariz, pode atrair atenção de forma negativa igualmente se o resultado não for, digamos, muito satisfatório.

E assim como a cada ano o público é brindado com obras cinematográficas que se tornam sucesso, abraçadas por crítica e público, o caminho inverso também pode ocorrer, com produções que igualmente teimam em deixar o consciente coletivo, embora neste caso o desejo geral, inclusive dos envolvidos, é que fossem esquecidos. Estamos falando de filmes que se tornam fracasso de crítica e público, se tornando motivo de piada e que, infelizmente, de forma cruel podem ser responsáveis pelo fim de uma carreira. No entanto, quando falamos de uma das artistas mais consagradas do mundo da música, que não necessita verdadeiramente de uma carreira como atriz para ganhar seus milhões de dólares, a chacota se torna mais aceitável.



Como já deu para perceber o assunto desta matéria é a atrocidade cinematográfica conhecida como Destino Insólito (Swept Away), filme que pôs fim na carreira de Madonna como atriz e estremeceu seu casamento com o diretor inglês Guy Ritchie. O filme está completando 20 anos de lançamento em 2022 e aqui iremos revisitar essa mancada homérica.

“Mama don’t Preach”. Madonna deve ter feito exatamente esta cara quando viu o resultado de ‘Destino Insólito’.

Comecemos do início, apresentando as partes envolvidas. O cineasta inglês Guy Ritchie começou sua carreira dirigindo videoclipes e curtas ainda em 1995. Sua estreia nos cinemas em longas-metragens ocorreu de forma bombástica com os dois pés na porta em 1998, com lançou a comédia criminal super estilosa Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes. O filme foi sucesso de crítica e se tornaria um cult instantâneo. Na época, é preciso lembrar que todos estavam tentando encontrar o novo “Quentin Tarantino” e Guy Ritchie foi rapidamente alçado a este posto, devido à narrativa fragmentada e a gama de personagens exóticos. No entanto, Ritchie consistia mais em estilo visual e ação do que narrativa e conteúdo. Logo em seu segundo trabalho, Snatch: Porcos e Diamantes (2000), o diretor conseguia atrair ao seu elenco grandes astros badalados de Hollywood, como Brad Pitt e Benicio Del Toro, dando um ar mais internacional a seus thrillers britânicos.

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Assim, com o resultado mais que positivo de seus dois filmes, Guy Ritchie já era um dos diretores mundiais mais badalados no início dos anos 2000. Corta para Madonna, que dispensa apresentações. A Material Girl se consolidou na mesma época da MTV americana, mais ou menos por volta de 1984, e com o canal de TV fez uma simbiose favorável para suas carreiras. A MTV se popularizou por causa de Madonna e vice-versa. E nos anos 80 mesmo a cantora estrelava comédias de sucesso como Procura-se Susan Desesperadamente (1985) e Quem é Esta Garota (1987). Mas nem tudo eram flores e Madonna também encararia fracassos como a pseudo aventura romântica de época Surpresa de Shanghai (1986), a qual estrelou ao lado de seu então marido, o notório bad boy da época Sean Penn, e que refletia bem seu relacionamento conturbado, para dizer no mínimo, com ele no período.

Na década de 90, Madonna estrelou em filmes como o thriller erótico Corpo em Evidência (1992) – tido como “clone” de Instinto Selvagem – e o musical Evita (1996), que gerou certa controvérsia por sua escalação. Justamente por isso, foram quatro anos até Madonna aceitar a participação em um filme como protagonista novamente. E quando aceitou, escolheu um projeto que falava sobre maternidade, um tema muito pessoal para a cantora há 22 anos – pois sua primeira filha havia nascido três anos antes. Sobrou pra Você (2000) é uma comédia romântica que traz Madonna decidindo ter um filho com o melhor amigo gay. No mesmo ano do lançamento, a cantora atava o nó com o diretor Guy Ritchie.

Destino Insólito’ foi o maior projeto audiovisual da dupla Madonna e Guy Ritchie.

Dois anos depois, marido e mulher resolvem lançar seu primeiro filme juntos. Mas Destino Insólito não foi a primeira colaboração profissional entre Guy Ritchie e Madonna. No ano de 2001, há 21 anos, o cineasta dirigiu a Rainha do Pop em seu clipe What It Feels Like For a Girl, além de escalar a esposa no comercial da BMW intitulado Star que comandou. Mas em se falando de longa-metragem, o primeiro e único projeto da dupla foi Destino Insólito.

Como muitos devem saber, o filme é a versão americana de uma produção italiana de 1974 intitulada por aqui Por um Destino Insólito (um título mais enxuto para o gigantesco ‘Travolti da un insolito destino nell’azzurro mare d’agosto’). Escrito e dirigida por Lina Wertmüller, cineasta italiana que foi a primeira mulher da história a receber a honraria de uma indicação no Oscar de melhor direção, Por um Destino Insólito aborda a questão da diferença social de classes, e fala sobre ricos e pobres, patrões e empregados. Passado a bordo de um barco de férias pelo Mediterrâneo, o roteiro traz como protagonistas a dondoca socialite Raffaella Lanzetti (papel de Mariangela Melato), e o funcionário da embarcação, o humilde Gennarino (papel do veterano Giancarlo Giannini). Após uma tempestade em alto mar, a dupla é separada do resto dos tripulantes e se tornam náufragos numa ilha deserta. Agora, a cadeia hierárquica foi severamente alterada, já que dinheiro de nada serve nesta nova dinâmica em que se encontram. Graças a seus recursos, como a pesca para alimentação, e o fogo para aquecer e comer, o sujeito se torna o líder desta sociedade de dois.

A versão original italiana é de 1974, protagonizada por Mariangela Melato e Giancarlo Giannini.

Vinte oito anos depois de Por um Destino Insólito, o diretor Guy Ritchie resolveu criar sua própria versão para esta história, adaptando ele mesmo o texto de Wertmüller. A grande diferença que podemos sentir logo de cara nas narrativas de ambos os filmes, não é tanto culpa de Ritchie, mas sim da maneira como o grande público pelo mundo consome produções cinematográficas, em especial americanas, ao contrário, digamos, de produções europeias. É claro que os filmes europeus também têm sua cota de besteirol popular. Quando falamos de Destino Insólito, por exemplo, notamos que Ritchie precisou caprichar nas tintas na hora de criar os ricos esnobes a bordo do iate. O que o diretor traz são caricaturas de classe burguesa, para que não haja dúvida de sua qualidade odiosa. Ao contrário, Wertmüller sabia que a situação por si só já gera tensão suficiente sem que seja necessário sublinhar. Sabemos quem são os patrões ricos e quem são os empregados pobres. A construção está nas relações e na dinâmica.

Quando se perdem na ilha, os personagens de Wertmüller entendem o que está acontecendo, e o empregado entende seu rancor interno por aquela ser a patroa. Com Ritchie, o empregado tem outros motivos para odiar a dondoca insuportável. E nós também. O que soa é que a personagem de Madonna, Amber, que ocupa a vaga de Melato, está acima de qualquer redenção por lhe faltar características humanas e identificáveis.

Com produção da Sony Pictures, o objetivo é que o filme atingisse um grande público e a presença de Madonna deveria se encarregar de arrebanhar os espectadores, dentre os quais muitos de seus fãs. Para o papel masculino protagonista, Ritchie cria um forte laço com o filme original, escalando o italiano Adriano Giannini, filho de Giancarlo da produção italiana. E o elenco conta ainda com participações de Elizabeth Banks, Bruce Greenwood e Jeanne Tripplehorn, num papel recusado por Jennifer Aniston.

Madonna e Adriano Giannini, filho do ator original, não conseguem reproduzir a química e a dinâmica da obra italiana.

A pré-estreia mundial de Destino Insólito ocorreu no dia 8 de outubro de 2002, sendo lançado em grande circuito nos EUA logo após, no dia 11 de outubro do mesmo ano. Com um orçamento de US$10 milhões, o longa viu de volta aos cofres do estúdio apenas US$598 mil na América do Norte e um total de US$1.036 milhão mundial, garantindo assim seu fracasso financeiro retumbante. Com os críticos a coisa não melhorou muito, sendo massacrado na época e constando atualmente com irrisórios 5% de aprovação no Rotten Tomatoes, avaliados por 78 corajosos jornalistas.

Destino Insólito não funciona como comédia, nem como drama e muito menos como romance. Sobram apenas as belas e paradisíacas imagens das locações de dias ensolarados e o mar, que sempre é uma moldura confiável. Como esperado, o filme foi muito lembrado no Framboesa de Ouro, levando 5 de suas 7 nomeações: Pior Filme, pior atriz (Madonna – empatada com a “cria” Britney Spears por Crossroads – Amigas para Sempre), pior casal (Madonna e Giannini), pior diretor (Ritchie) e pior refilmagem ou sequência. Além de indicações para pior ator (Giannini) e pior roteiro (Ritchie). Mas não para por aí, em 2005 foi indicado para o pior filme dos primeiros 25 anos da premiação, em 2010 foi lembrado com indicações para pior filme da década e pior atriz da década para Madonna. Ufa. Que currículo!

Pensa só, se hoje temos críticas sociais do nível de Parasita (2019) e Entre Facas e Segredos (2019), há vinte anos o que era feito no gênero era algo do nível de Destino Insólito. A estrela Madonna, que havia acabado de chegar de sua turnê mundial Drowned World Tour em 2001 antes de rodar o longa, nunca mais se recuperaria e se aposentaria (até o momento) como atriz no cinema. Madonna promete, no entanto, sua autobiografia, a qual deve escrever e dirigir. Será que vai dar bom?

A carreira de Guy Ritchie sofreu dano e podia ter parado por ali, mas se recuperou e se reestabeleceu. O diretor segue prestigiado, com sucessos como a franquia Sherlock Holmes, com Robert Downey Jr., e o live-action de Aladdin para a Disney. O relacionamento com Madonna, no entanto, viria ao fim em 2008.

Para Guy Ritchie e quem sabe até Madonna, talvez a pior ferida em relação ao filme tenha sido a resposta de Lina Wertmüller, falecida em 2021. A diretora do original teria supostamente, após uma exibição particular de Destino Insólito promovida pelo estúdio, deixado a sala gritando: “O que fizeram com o meu filme? Por que fizeram isso?”. Nenhum filme deveria ter tal recepção. Mas acontece.

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A cada ano ganhamos obras cinematográficas que terminam ecoando na eternidade. A arte é subjetiva e está o tempo todo em constante mudança e movimento. É isso que faz dela tão maravilhosa. Por exemplo, dos primórdios da sétima arte, temos produções adoradas até hoje, como Drácula (1931), O Mágico de Oz (1939) e Casablanca (1942). Com centenas de filmes lançados a cada ano, é natural que apenas alguns conquistem destaque absoluto, geralmente impulsionados pelo sucesso de crítica ou público (bilheteria). É natural também que tendamos a prestar atenção em obras que tragam nomes de peso da cultura envolvidos, como realizadores e elenco. Mas o que serve como chamariz, pode atrair atenção de forma negativa igualmente se o resultado não for, digamos, muito satisfatório.

E assim como a cada ano o público é brindado com obras cinematográficas que se tornam sucesso, abraçadas por crítica e público, o caminho inverso também pode ocorrer, com produções que igualmente teimam em deixar o consciente coletivo, embora neste caso o desejo geral, inclusive dos envolvidos, é que fossem esquecidos. Estamos falando de filmes que se tornam fracasso de crítica e público, se tornando motivo de piada e que, infelizmente, de forma cruel podem ser responsáveis pelo fim de uma carreira. No entanto, quando falamos de uma das artistas mais consagradas do mundo da música, que não necessita verdadeiramente de uma carreira como atriz para ganhar seus milhões de dólares, a chacota se torna mais aceitável.

Como já deu para perceber o assunto desta matéria é a atrocidade cinematográfica conhecida como Destino Insólito (Swept Away), filme que pôs fim na carreira de Madonna como atriz e estremeceu seu casamento com o diretor inglês Guy Ritchie. O filme está completando 20 anos de lançamento em 2022 e aqui iremos revisitar essa mancada homérica.

“Mama don’t Preach”. Madonna deve ter feito exatamente esta cara quando viu o resultado de ‘Destino Insólito’.

Comecemos do início, apresentando as partes envolvidas. O cineasta inglês Guy Ritchie começou sua carreira dirigindo videoclipes e curtas ainda em 1995. Sua estreia nos cinemas em longas-metragens ocorreu de forma bombástica com os dois pés na porta em 1998, com lançou a comédia criminal super estilosa Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes. O filme foi sucesso de crítica e se tornaria um cult instantâneo. Na época, é preciso lembrar que todos estavam tentando encontrar o novo “Quentin Tarantino” e Guy Ritchie foi rapidamente alçado a este posto, devido à narrativa fragmentada e a gama de personagens exóticos. No entanto, Ritchie consistia mais em estilo visual e ação do que narrativa e conteúdo. Logo em seu segundo trabalho, Snatch: Porcos e Diamantes (2000), o diretor conseguia atrair ao seu elenco grandes astros badalados de Hollywood, como Brad Pitt e Benicio Del Toro, dando um ar mais internacional a seus thrillers britânicos.

Assim, com o resultado mais que positivo de seus dois filmes, Guy Ritchie já era um dos diretores mundiais mais badalados no início dos anos 2000. Corta para Madonna, que dispensa apresentações. A Material Girl se consolidou na mesma época da MTV americana, mais ou menos por volta de 1984, e com o canal de TV fez uma simbiose favorável para suas carreiras. A MTV se popularizou por causa de Madonna e vice-versa. E nos anos 80 mesmo a cantora estrelava comédias de sucesso como Procura-se Susan Desesperadamente (1985) e Quem é Esta Garota (1987). Mas nem tudo eram flores e Madonna também encararia fracassos como a pseudo aventura romântica de época Surpresa de Shanghai (1986), a qual estrelou ao lado de seu então marido, o notório bad boy da época Sean Penn, e que refletia bem seu relacionamento conturbado, para dizer no mínimo, com ele no período.

Na década de 90, Madonna estrelou em filmes como o thriller erótico Corpo em Evidência (1992) – tido como “clone” de Instinto Selvagem – e o musical Evita (1996), que gerou certa controvérsia por sua escalação. Justamente por isso, foram quatro anos até Madonna aceitar a participação em um filme como protagonista novamente. E quando aceitou, escolheu um projeto que falava sobre maternidade, um tema muito pessoal para a cantora há 22 anos – pois sua primeira filha havia nascido três anos antes. Sobrou pra Você (2000) é uma comédia romântica que traz Madonna decidindo ter um filho com o melhor amigo gay. No mesmo ano do lançamento, a cantora atava o nó com o diretor Guy Ritchie.

Destino Insólito’ foi o maior projeto audiovisual da dupla Madonna e Guy Ritchie.

Dois anos depois, marido e mulher resolvem lançar seu primeiro filme juntos. Mas Destino Insólito não foi a primeira colaboração profissional entre Guy Ritchie e Madonna. No ano de 2001, há 21 anos, o cineasta dirigiu a Rainha do Pop em seu clipe What It Feels Like For a Girl, além de escalar a esposa no comercial da BMW intitulado Star que comandou. Mas em se falando de longa-metragem, o primeiro e único projeto da dupla foi Destino Insólito.

Como muitos devem saber, o filme é a versão americana de uma produção italiana de 1974 intitulada por aqui Por um Destino Insólito (um título mais enxuto para o gigantesco ‘Travolti da un insolito destino nell’azzurro mare d’agosto’). Escrito e dirigida por Lina Wertmüller, cineasta italiana que foi a primeira mulher da história a receber a honraria de uma indicação no Oscar de melhor direção, Por um Destino Insólito aborda a questão da diferença social de classes, e fala sobre ricos e pobres, patrões e empregados. Passado a bordo de um barco de férias pelo Mediterrâneo, o roteiro traz como protagonistas a dondoca socialite Raffaella Lanzetti (papel de Mariangela Melato), e o funcionário da embarcação, o humilde Gennarino (papel do veterano Giancarlo Giannini). Após uma tempestade em alto mar, a dupla é separada do resto dos tripulantes e se tornam náufragos numa ilha deserta. Agora, a cadeia hierárquica foi severamente alterada, já que dinheiro de nada serve nesta nova dinâmica em que se encontram. Graças a seus recursos, como a pesca para alimentação, e o fogo para aquecer e comer, o sujeito se torna o líder desta sociedade de dois.

A versão original italiana é de 1974, protagonizada por Mariangela Melato e Giancarlo Giannini.

Vinte oito anos depois de Por um Destino Insólito, o diretor Guy Ritchie resolveu criar sua própria versão para esta história, adaptando ele mesmo o texto de Wertmüller. A grande diferença que podemos sentir logo de cara nas narrativas de ambos os filmes, não é tanto culpa de Ritchie, mas sim da maneira como o grande público pelo mundo consome produções cinematográficas, em especial americanas, ao contrário, digamos, de produções europeias. É claro que os filmes europeus também têm sua cota de besteirol popular. Quando falamos de Destino Insólito, por exemplo, notamos que Ritchie precisou caprichar nas tintas na hora de criar os ricos esnobes a bordo do iate. O que o diretor traz são caricaturas de classe burguesa, para que não haja dúvida de sua qualidade odiosa. Ao contrário, Wertmüller sabia que a situação por si só já gera tensão suficiente sem que seja necessário sublinhar. Sabemos quem são os patrões ricos e quem são os empregados pobres. A construção está nas relações e na dinâmica.

Quando se perdem na ilha, os personagens de Wertmüller entendem o que está acontecendo, e o empregado entende seu rancor interno por aquela ser a patroa. Com Ritchie, o empregado tem outros motivos para odiar a dondoca insuportável. E nós também. O que soa é que a personagem de Madonna, Amber, que ocupa a vaga de Melato, está acima de qualquer redenção por lhe faltar características humanas e identificáveis.

Com produção da Sony Pictures, o objetivo é que o filme atingisse um grande público e a presença de Madonna deveria se encarregar de arrebanhar os espectadores, dentre os quais muitos de seus fãs. Para o papel masculino protagonista, Ritchie cria um forte laço com o filme original, escalando o italiano Adriano Giannini, filho de Giancarlo da produção italiana. E o elenco conta ainda com participações de Elizabeth Banks, Bruce Greenwood e Jeanne Tripplehorn, num papel recusado por Jennifer Aniston.

Madonna e Adriano Giannini, filho do ator original, não conseguem reproduzir a química e a dinâmica da obra italiana.

A pré-estreia mundial de Destino Insólito ocorreu no dia 8 de outubro de 2002, sendo lançado em grande circuito nos EUA logo após, no dia 11 de outubro do mesmo ano. Com um orçamento de US$10 milhões, o longa viu de volta aos cofres do estúdio apenas US$598 mil na América do Norte e um total de US$1.036 milhão mundial, garantindo assim seu fracasso financeiro retumbante. Com os críticos a coisa não melhorou muito, sendo massacrado na época e constando atualmente com irrisórios 5% de aprovação no Rotten Tomatoes, avaliados por 78 corajosos jornalistas.

Destino Insólito não funciona como comédia, nem como drama e muito menos como romance. Sobram apenas as belas e paradisíacas imagens das locações de dias ensolarados e o mar, que sempre é uma moldura confiável. Como esperado, o filme foi muito lembrado no Framboesa de Ouro, levando 5 de suas 7 nomeações: Pior Filme, pior atriz (Madonna – empatada com a “cria” Britney Spears por Crossroads – Amigas para Sempre), pior casal (Madonna e Giannini), pior diretor (Ritchie) e pior refilmagem ou sequência. Além de indicações para pior ator (Giannini) e pior roteiro (Ritchie). Mas não para por aí, em 2005 foi indicado para o pior filme dos primeiros 25 anos da premiação, em 2010 foi lembrado com indicações para pior filme da década e pior atriz da década para Madonna. Ufa. Que currículo!

Pensa só, se hoje temos críticas sociais do nível de Parasita (2019) e Entre Facas e Segredos (2019), há vinte anos o que era feito no gênero era algo do nível de Destino Insólito. A estrela Madonna, que havia acabado de chegar de sua turnê mundial Drowned World Tour em 2001 antes de rodar o longa, nunca mais se recuperaria e se aposentaria (até o momento) como atriz no cinema. Madonna promete, no entanto, sua autobiografia, a qual deve escrever e dirigir. Será que vai dar bom?

A carreira de Guy Ritchie sofreu dano e podia ter parado por ali, mas se recuperou e se reestabeleceu. O diretor segue prestigiado, com sucessos como a franquia Sherlock Holmes, com Robert Downey Jr., e o live-action de Aladdin para a Disney. O relacionamento com Madonna, no entanto, viria ao fim em 2008.

Para Guy Ritchie e quem sabe até Madonna, talvez a pior ferida em relação ao filme tenha sido a resposta de Lina Wertmüller, falecida em 2021. A diretora do original teria supostamente, após uma exibição particular de Destino Insólito promovida pelo estúdio, deixado a sala gritando: “O que fizeram com o meu filme? Por que fizeram isso?”. Nenhum filme deveria ter tal recepção. Mas acontece.

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