domingo , 22 dezembro , 2024

Desventuras em Série | Há 5 anos, série da Netflix chegava ao fim; Relembre a temporada de encerramento!

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Querido leitor,

Há cinco anos, chegávamos ao fim de uma saga. Mas diferente de outras jornadas às quais você pode estar acostumado, esta definitivamente não foi uma agradável de se acompanhar, visto que trouxe para o centro de todas as nossas atenções os infortúnios e os perigos que cercearam a vida de três órfãos bondosos que foram levados a realizarem alguns atos contestáveis para protegerem a si mesmos e salvarem os últimos resquícios de sua família – uma associação secreta mais complexa do que davam-lhe crédito e da qual seus falecidos pais participavam.



Desventuras em Série realmente é uma série que faz jus ao seu nome, insurgindo como uma árida – palavra que aqui significa “tortuosa”, “complicada” – produção em que, diferente do filme homônimo lançado anos atrás, buscou relativizar alguns temas profundos através de tramas teatrais, diálogos propositalmente autoexplicativos e explicações extradiegéticas narradas com bastante precisão por um mentor-personagem que delineia suas reflexões sobre a inexorabilidade do destino e de suas abruptas quedas. É claro que, enquanto a primeira temporada morria na praia ofuscada pela beleza inegável e subestimada do longa-metragem assinado por Brad Silberling, a segunda já avançava alguns poucos passos para uma conjuntura mais original, erguida com mais esmero e firmeza – e tudo se concentraria no ano final, a aguardada conclusão de um dos shows com maior expectativa da Netflix.

Talvez Barry Sonnenfeld tenha erroneamente subestimado seu público ao optar por uma sequência episódica pautada na zona de conforto – ou talvez o showrunner tenha aproveitado o início de 2019 para não se preocupar muito com o resultado final da terceira iteração. Ao contrário do que poderíamos imaginar, os últimos sete episódios, decisivos e bastante importantes para o último tour-de-force dos Baudelaire, parecem crus, entregues às pressas para fãs sedentos por uma coleção que esperavam desde 2003 e que só chegaria a seus braços em 2017. Nem mesmo a acidez e a angústia excessivas, marcas da série desde Mau Começo’, ganham o protagonismo esperado, abandonando elementos aplaudíveis dos romances originais assinados por Daniel Handler como Lemony Snicket em prol de um desnecessário melodrama.

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De fato, a canastrice do roteiro e das atuações, inclinando-se claramente para uma perspectiva novelesca e um tanto “enrolada”, por assim dizer, é compreensível em alguns pontos, incluindo na caracterização de Conde Olaf (Neil Patrick Harris) e de Esmé Squalor (Lucy Punch), os dois principais antagonistas que, desde as primeiras aparições, não carregam escrúpulo algum para conseguirem o que desejam – e talvez a tendência psicótica de Esmé seja ainda mais envolvente que a teatralidade de seu par romântico. Mesmo dividindo a cena, ambos delineiam entre si uma química inegável que se sustenta até o penúltimo episódio, culminando em um intragável series finale.

Diferente dos episódios anteriores, a temporada começa com O Escorregador de Gelo’, em que Violet (Malina Weissman) e Klaus (Louis Hynes) se veem em uma situação de vida ou morte, trancados em uma caravana em alta velocidade, sem freios, e dirigindo-se à beira de um precipício mortal, enquanto a irmã mais nova Sunny (Presley Smith) permanece enclausurada pela vis e gananciosas mãos de Olaf e sua trupe, ambos se dirigindo para o topo do Monte Fraught para darem continuidade a um plano diabólico. Comandado por seus mentores de outrora, o Homem com Barba Mas sem Cabelo e a Mulher com Cabelo Mas sem Barba, a fortuna dos Baudelaire torna-se um pequeno grão de areia em meio à infinidade de famílias abastadas e aos inúmeros incêndios que podem causar para desmantelar o que restou da CSC, a organização da qual os nossos heróis participavam.

Já a partir daí, as coisas começam a re-convergir e a manter relações com os capítulos anteriores. Carmelita Spats (Kitana Turnbull), a insuportável e mimada garota protegida pela corrupta direção da Escola Preparatória Prufrock, retorna de modo triunfante – e irritante, é óbvio – para ajudar Olaf e Esmé a raptar um grupo de escoteiras, forçando-as a trabalhar para eles e queimando suas casas e matando seus pais para terem acesso à fortuna que cada uma delas carrega. Porém, mesmo com a interessante cena de sequestro, essa subtrama se perde com o final de A Gruta Gorgônea’, em que um dos capangas de Olaf o trai mais uma vez em um arco de redenção inesperado e leva as prisioneiras para sua liberdade, nos deixando com diversas perguntas que não são respondidas e que reafirmam que certas escolhas precisavam de maior atenção para não serem esquecidas ou varridas para debaixo do tapete.

Violet e Klaus eventualmente cruzam caminho com Quigley Quagmire (Dylan Kingwell), o irmão de Isadora e Duncan que havia sido considerado morto após o criminoso incêndio de sua mansão. Entretanto, após conseguir se salvar, ele também se aventurou em jornada por respostas acerca do misterioso CSC até encontrar os irmãos Baudelaire e os três unirem forças para conseguirem o que desejam. No caso – e unicamente neste momento -, o prospecto pessimista acomete os personagens e os coloca em caminhos diferentes, separados por uma brincadeira de mau gosto do Destino apenas para nunca mais se encontrarem, exceto por um auxílio indireto que se desenrola até os minutos finais da aventura.

O conjunto formado por A Gruta Gorgônea’ reside no mesmo patamar que A Cidade Sinistra dos Corvos’ e O Lago das Sanguessugas’. Não apenas pela falta de cautela com os risíveis efeitos especiais, mas também pela história monótona e pela introdução de personagens unidimensionais, sem qualquer complexidade que realmente nos auxilie a mergulhar mais profundamente no universo construído com tanto esmero por Handler. Aqui, Sonnenfeld e seu time criativo realizam dois episódios preguiçosos que nem mesmo fazem jus ao título em questão ou ao romance do qual partem – o local principal é mais citado do que realmente colocado no tempo cronológico presente, e os únicos momentos em que a gruta dá as caras são tão memoráveis quanto um pedaço de madeira.

Em O Penúltimo Perigo’, diversos rostos familiares retornam para um último julgamento contra Olaf e seus horrendos crimes contra os Baudelaire – e um deles insurge na fofa, protetora e por vezes irritante personalidade maternal da Juíza Strauss (Joan Cusack), responsável por realizar a última reunião entre os membros da CSC antes que os incendiários alcancem um patamar indestrutível e destruam os esforços benevolentes e voluntários da associação “heroica”, por assim dizer. Porém, há pouco que também consiga se salvar em meio a tantos deslizes: com exceção da impecável direção de arte, que sem sombra de dúvida merece comparação com O Elevador Ersatz’ em seu quesito fabulesco e fantástico, os acontecimentos se desenrolam de forma corrida, sem qualquer tipo de ritmo e com pontuações a priori irreverentes, mas que não fazem sentido nem mesmo para o escopo que nos é apresentado.

É em O Fim’ que tudo piora exponencialmente. É claro que Warlburton faz um trabalho interessante ao lado de nomes que foram citados ao longo da série e colocados em segundo plano até as aguardadas revelações – realizadas também frouxamente e com triste decepção por parte do público. A louvada Beatrice Baudelaire (Morena Baccarin) faz uma aparição interessante e envolvente mesmo em seu pouco tempo de cena, cuja explicação reside no inegável carisma da atriz. Mesmo assim, nos encontramos em um pano de fundo finalizado às pressas, com erros técnicos bobos e que mostram o descuido por parte do time artístico – respaldado por atuações tão falsas que chegam a doer.

A terceira e última temporada de Desventuras em Série preocupou-se mais com fanservice do que com uma produção que fizesse jus ao material original, aclamado por sua rebeldia narrativa e por não respaldar em convencionalismos do gênero. Além do potencial desperdiçado, que poderia se manter no crescendo entre as duas primeiras iterações, essa não é uma resolução satisfatória o suficiente – e o mais decepcionante é que não haverá uma outra oportunidade de levar os romances ao meio audiovisual de novo (ao menos por um longo tempo).

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Querido leitor,

Há cinco anos, chegávamos ao fim de uma saga. Mas diferente de outras jornadas às quais você pode estar acostumado, esta definitivamente não foi uma agradável de se acompanhar, visto que trouxe para o centro de todas as nossas atenções os infortúnios e os perigos que cercearam a vida de três órfãos bondosos que foram levados a realizarem alguns atos contestáveis para protegerem a si mesmos e salvarem os últimos resquícios de sua família – uma associação secreta mais complexa do que davam-lhe crédito e da qual seus falecidos pais participavam.

Desventuras em Série realmente é uma série que faz jus ao seu nome, insurgindo como uma árida – palavra que aqui significa “tortuosa”, “complicada” – produção em que, diferente do filme homônimo lançado anos atrás, buscou relativizar alguns temas profundos através de tramas teatrais, diálogos propositalmente autoexplicativos e explicações extradiegéticas narradas com bastante precisão por um mentor-personagem que delineia suas reflexões sobre a inexorabilidade do destino e de suas abruptas quedas. É claro que, enquanto a primeira temporada morria na praia ofuscada pela beleza inegável e subestimada do longa-metragem assinado por Brad Silberling, a segunda já avançava alguns poucos passos para uma conjuntura mais original, erguida com mais esmero e firmeza – e tudo se concentraria no ano final, a aguardada conclusão de um dos shows com maior expectativa da Netflix.

Talvez Barry Sonnenfeld tenha erroneamente subestimado seu público ao optar por uma sequência episódica pautada na zona de conforto – ou talvez o showrunner tenha aproveitado o início de 2019 para não se preocupar muito com o resultado final da terceira iteração. Ao contrário do que poderíamos imaginar, os últimos sete episódios, decisivos e bastante importantes para o último tour-de-force dos Baudelaire, parecem crus, entregues às pressas para fãs sedentos por uma coleção que esperavam desde 2003 e que só chegaria a seus braços em 2017. Nem mesmo a acidez e a angústia excessivas, marcas da série desde Mau Começo’, ganham o protagonismo esperado, abandonando elementos aplaudíveis dos romances originais assinados por Daniel Handler como Lemony Snicket em prol de um desnecessário melodrama.

De fato, a canastrice do roteiro e das atuações, inclinando-se claramente para uma perspectiva novelesca e um tanto “enrolada”, por assim dizer, é compreensível em alguns pontos, incluindo na caracterização de Conde Olaf (Neil Patrick Harris) e de Esmé Squalor (Lucy Punch), os dois principais antagonistas que, desde as primeiras aparições, não carregam escrúpulo algum para conseguirem o que desejam – e talvez a tendência psicótica de Esmé seja ainda mais envolvente que a teatralidade de seu par romântico. Mesmo dividindo a cena, ambos delineiam entre si uma química inegável que se sustenta até o penúltimo episódio, culminando em um intragável series finale.

Diferente dos episódios anteriores, a temporada começa com O Escorregador de Gelo’, em que Violet (Malina Weissman) e Klaus (Louis Hynes) se veem em uma situação de vida ou morte, trancados em uma caravana em alta velocidade, sem freios, e dirigindo-se à beira de um precipício mortal, enquanto a irmã mais nova Sunny (Presley Smith) permanece enclausurada pela vis e gananciosas mãos de Olaf e sua trupe, ambos se dirigindo para o topo do Monte Fraught para darem continuidade a um plano diabólico. Comandado por seus mentores de outrora, o Homem com Barba Mas sem Cabelo e a Mulher com Cabelo Mas sem Barba, a fortuna dos Baudelaire torna-se um pequeno grão de areia em meio à infinidade de famílias abastadas e aos inúmeros incêndios que podem causar para desmantelar o que restou da CSC, a organização da qual os nossos heróis participavam.

Já a partir daí, as coisas começam a re-convergir e a manter relações com os capítulos anteriores. Carmelita Spats (Kitana Turnbull), a insuportável e mimada garota protegida pela corrupta direção da Escola Preparatória Prufrock, retorna de modo triunfante – e irritante, é óbvio – para ajudar Olaf e Esmé a raptar um grupo de escoteiras, forçando-as a trabalhar para eles e queimando suas casas e matando seus pais para terem acesso à fortuna que cada uma delas carrega. Porém, mesmo com a interessante cena de sequestro, essa subtrama se perde com o final de A Gruta Gorgônea’, em que um dos capangas de Olaf o trai mais uma vez em um arco de redenção inesperado e leva as prisioneiras para sua liberdade, nos deixando com diversas perguntas que não são respondidas e que reafirmam que certas escolhas precisavam de maior atenção para não serem esquecidas ou varridas para debaixo do tapete.

Violet e Klaus eventualmente cruzam caminho com Quigley Quagmire (Dylan Kingwell), o irmão de Isadora e Duncan que havia sido considerado morto após o criminoso incêndio de sua mansão. Entretanto, após conseguir se salvar, ele também se aventurou em jornada por respostas acerca do misterioso CSC até encontrar os irmãos Baudelaire e os três unirem forças para conseguirem o que desejam. No caso – e unicamente neste momento -, o prospecto pessimista acomete os personagens e os coloca em caminhos diferentes, separados por uma brincadeira de mau gosto do Destino apenas para nunca mais se encontrarem, exceto por um auxílio indireto que se desenrola até os minutos finais da aventura.

O conjunto formado por A Gruta Gorgônea’ reside no mesmo patamar que A Cidade Sinistra dos Corvos’ e O Lago das Sanguessugas’. Não apenas pela falta de cautela com os risíveis efeitos especiais, mas também pela história monótona e pela introdução de personagens unidimensionais, sem qualquer complexidade que realmente nos auxilie a mergulhar mais profundamente no universo construído com tanto esmero por Handler. Aqui, Sonnenfeld e seu time criativo realizam dois episódios preguiçosos que nem mesmo fazem jus ao título em questão ou ao romance do qual partem – o local principal é mais citado do que realmente colocado no tempo cronológico presente, e os únicos momentos em que a gruta dá as caras são tão memoráveis quanto um pedaço de madeira.

Em O Penúltimo Perigo’, diversos rostos familiares retornam para um último julgamento contra Olaf e seus horrendos crimes contra os Baudelaire – e um deles insurge na fofa, protetora e por vezes irritante personalidade maternal da Juíza Strauss (Joan Cusack), responsável por realizar a última reunião entre os membros da CSC antes que os incendiários alcancem um patamar indestrutível e destruam os esforços benevolentes e voluntários da associação “heroica”, por assim dizer. Porém, há pouco que também consiga se salvar em meio a tantos deslizes: com exceção da impecável direção de arte, que sem sombra de dúvida merece comparação com O Elevador Ersatz’ em seu quesito fabulesco e fantástico, os acontecimentos se desenrolam de forma corrida, sem qualquer tipo de ritmo e com pontuações a priori irreverentes, mas que não fazem sentido nem mesmo para o escopo que nos é apresentado.

É em O Fim’ que tudo piora exponencialmente. É claro que Warlburton faz um trabalho interessante ao lado de nomes que foram citados ao longo da série e colocados em segundo plano até as aguardadas revelações – realizadas também frouxamente e com triste decepção por parte do público. A louvada Beatrice Baudelaire (Morena Baccarin) faz uma aparição interessante e envolvente mesmo em seu pouco tempo de cena, cuja explicação reside no inegável carisma da atriz. Mesmo assim, nos encontramos em um pano de fundo finalizado às pressas, com erros técnicos bobos e que mostram o descuido por parte do time artístico – respaldado por atuações tão falsas que chegam a doer.

A terceira e última temporada de Desventuras em Série preocupou-se mais com fanservice do que com uma produção que fizesse jus ao material original, aclamado por sua rebeldia narrativa e por não respaldar em convencionalismos do gênero. Além do potencial desperdiçado, que poderia se manter no crescendo entre as duas primeiras iterações, essa não é uma resolução satisfatória o suficiente – e o mais decepcionante é que não haverá uma outra oportunidade de levar os romances ao meio audiovisual de novo (ao menos por um longo tempo).

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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