terça-feira , 5 novembro , 2024

Dica de Filme | ‘Megarrromântico’, estrelado por Rebel Wilson, usa as fórmulas das rom-coms a seu favor

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Comédias românticas costumam seguir uma fórmula: dois protagonistas de mundos diferentes se cruzam e se lançam numa jornada tragicômica até perceberem que são o amor verdadeiro um do outro e finalmente ficarem juntos – ou então percebem que podem construir algo em cima disso. Porém, a narrativa bastante conhecida não é a única “regra” a ser seguida. Inúmeros coadjuvantes também insurgem pelo caminho – seja o melhor amigo gay, a inexplicável arqui-inimiga ou a insuportável chefe. Isso sem falar nas construções estéticas que grande parte dos diretores abraça com o maior carinho possível para entregar ao público aquilo que já conhecem e que, mesmo assim, consegue emocionar ou nos tirar da nossa cruel realidade.

Em parte, Garry Marshall é o guru do gênero, tendo encabeçado uma das rom-coms mais famosas de todos os tempos, Uma Linda Mulher. Além de ter dado uma nova perspectiva para esse tipo de história, seus convencionalismos foram recriados inúmeras vezes até saturarem a indústria cinematográfica contemporânea, com poucas exceções (como Simplesmente Acontece’, que sem dúvida alguma reinventou essas narrativas fabulescas demais). Logo, é interessante quando um longa-metragem resolve ou tirar sarro de todos esses clichês ou usá-los a seu favor – e o mote em questão é o que move Megarrromântico, produção original da Netflix que, apesar de soar tão datado quanto obras predecessoras, tem as melhores intenções possíveis e usa as fórmulas a seu favor.

O filme gira em torno de Natalie (Rebel Wilson), uma arquiteta desencantada com o amor e que repudia as comédias românticas por serem extremamente forçadas e falsas. Porém, sua vida muda quando, durante um assalto, ela bate a cabeça com força e acorda em uma realidade paralela movida por todos as fórmulas das rom-coms – já iniciando com breves constatações de como a infeliz e caótica cidade de Nova York parece ter se transformando em um microcosmos irretocavelmente perfeito. Ela então percebe que precisa se utilizar de tudo aquilo que sempre odiou para voltar para seu cotidiano miserável e conhecido – incluindo se apaixonar pelo garanhão multimilionário Blake (Liam Hemsworth), ver o seu melhor amigo se casar com uma supermodelo que na verdade é embaixadora de ioga e realizar cada uma das icônicas cenas que tanto nos enchem os olhos pelo excesso de melodrama.

Como é possível imaginar, Megarrromântico é propositalmente clichê e faz bom uso de tudo o que já vimos no cinema para entregar-se a uma divertida comédia. Entretanto, diferente de seus papéis anteriores, Wilson passa longe de até mesmo tangenciar a canastrice, buscando uma performance que condiz com a realidade na qual se encontra. De forma resumida, ela brilha mais do que lhe damos crédito, apesar de eventualmente ceder aos convencionalismos que tanto odeia – mas não de modo proposital, e sim sem perceber (aliás, sem os próprios diretor e roteiristas perceberem).

Um dos pontos fortes do longa é a forma como as personalidades do mundo real são muito contraditórias às do mundo do cinema – e tal constatação já marca uma metalinguagem sensível e que não nos força a compreensão. Whitney (Betty Gilpin), assistente e grande amiga de Natalie, transforma-se em uma cruel e impiedosa arquiteta que simplesmente despreza a protagonista, porque “duas mulheres não podem ter afeição uma pela outra nas comédias românticas” e devem se odiar; o taciturno vizinho Donny (Brandon Scott Jones) torna-se o obrigatório estereótipo do confidente gay afeminado, que aparece em todo lugar quanto a heroína mais precisa; o melhor amigo Josh (Adam Devine), que sempre permaneceu na friendzone, acaba sendo a alma gêmea de Natalie até ser tarde demais e ele resolver se casar outra mulher, Isabella (Priyanka Chopra).

Porém, não é apenas nesse âmbito que o filme consegue manter seu escopo propositalmente clichê. O diretor Todd Strauss-Schulson faz um ótimo uso e uma inesperada “continuação” de sua obra anterior, Terror nos Bastidores, na qual leva um grupo de adolescentes para dentro de um filme de terror pautado em todas as construções que conhecemos. Aqui, ele capta a essência dos projetos rom-coms: em diversos momentos, há um excesso de simetria nos ápices do “romance” entre Natalie e Blake e em cenas que a personagem de Wilson descobre que sua vida está muito melhor do que normalmente é. A utilização de pontos brilhantes para refletir a magia e o onirismo da realidade paralela é constante e, por vezes, saturada demais até mesmo para a mensagem que a narrativa deseja nos entregar – isso sem comentar o prospecto nada original do roteiro que, conforme chega à conclusão, reafirma as próprias críticas que arquiteta.

Os deslizes estruturais talvez também ocorrem pela quantidade desnecessária de referências a outras produções cinematográficas. Algumas mais óbvias, como De Repente 30 e Uma Linda Mulher, até funcionam, mas a continuidade dessas “menções honrosas” transforma o longa-metragem em uma confusa mixórdia – ora, temos construções parecidas desde iterações como A Proposta’ até A Sogra, que volta e meia servem de base e de preenchimento para que o público caminhe junto com a história até o final. Entretanto, é inegável dizer que, em um escopo mais geral, essas escolhas funcionam – mais pelo seu elenco e pela última virada no roteiro que qualquer outra coisa.

Megarrromântico é uma sátira prática e funcional liderada por um elenco repleto de química e que se entrega a atuações bastante aprazíveis. Os equívocos existem e acabam falando mais alto do que deveriam, mas mesmo assim é certo que o público e até os fãs devotos das comédias românticas vão gostar (e bastante) da obra.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Em parte, Garry Marshall é o guru do gênero, tendo encabeçado uma das rom-coms mais famosas de todos os tempos, Uma Linda Mulher. Além de ter dado uma nova perspectiva para esse tipo de história, seus convencionalismos foram recriados inúmeras vezes até saturarem a indústria cinematográfica contemporânea, com poucas exceções (como Simplesmente Acontece’, que sem dúvida alguma reinventou essas narrativas fabulescas demais). Logo, é interessante quando um longa-metragem resolve ou tirar sarro de todos esses clichês ou usá-los a seu favor – e o mote em questão é o que move Megarrromântico, produção original da Netflix que, apesar de soar tão datado quanto obras predecessoras, tem as melhores intenções possíveis e usa as fórmulas a seu favor.

O filme gira em torno de Natalie (Rebel Wilson), uma arquiteta desencantada com o amor e que repudia as comédias românticas por serem extremamente forçadas e falsas. Porém, sua vida muda quando, durante um assalto, ela bate a cabeça com força e acorda em uma realidade paralela movida por todos as fórmulas das rom-coms – já iniciando com breves constatações de como a infeliz e caótica cidade de Nova York parece ter se transformando em um microcosmos irretocavelmente perfeito. Ela então percebe que precisa se utilizar de tudo aquilo que sempre odiou para voltar para seu cotidiano miserável e conhecido – incluindo se apaixonar pelo garanhão multimilionário Blake (Liam Hemsworth), ver o seu melhor amigo se casar com uma supermodelo que na verdade é embaixadora de ioga e realizar cada uma das icônicas cenas que tanto nos enchem os olhos pelo excesso de melodrama.

Como é possível imaginar, Megarrromântico é propositalmente clichê e faz bom uso de tudo o que já vimos no cinema para entregar-se a uma divertida comédia. Entretanto, diferente de seus papéis anteriores, Wilson passa longe de até mesmo tangenciar a canastrice, buscando uma performance que condiz com a realidade na qual se encontra. De forma resumida, ela brilha mais do que lhe damos crédito, apesar de eventualmente ceder aos convencionalismos que tanto odeia – mas não de modo proposital, e sim sem perceber (aliás, sem os próprios diretor e roteiristas perceberem).

Um dos pontos fortes do longa é a forma como as personalidades do mundo real são muito contraditórias às do mundo do cinema – e tal constatação já marca uma metalinguagem sensível e que não nos força a compreensão. Whitney (Betty Gilpin), assistente e grande amiga de Natalie, transforma-se em uma cruel e impiedosa arquiteta que simplesmente despreza a protagonista, porque “duas mulheres não podem ter afeição uma pela outra nas comédias românticas” e devem se odiar; o taciturno vizinho Donny (Brandon Scott Jones) torna-se o obrigatório estereótipo do confidente gay afeminado, que aparece em todo lugar quanto a heroína mais precisa; o melhor amigo Josh (Adam Devine), que sempre permaneceu na friendzone, acaba sendo a alma gêmea de Natalie até ser tarde demais e ele resolver se casar outra mulher, Isabella (Priyanka Chopra).

Porém, não é apenas nesse âmbito que o filme consegue manter seu escopo propositalmente clichê. O diretor Todd Strauss-Schulson faz um ótimo uso e uma inesperada “continuação” de sua obra anterior, Terror nos Bastidores, na qual leva um grupo de adolescentes para dentro de um filme de terror pautado em todas as construções que conhecemos. Aqui, ele capta a essência dos projetos rom-coms: em diversos momentos, há um excesso de simetria nos ápices do “romance” entre Natalie e Blake e em cenas que a personagem de Wilson descobre que sua vida está muito melhor do que normalmente é. A utilização de pontos brilhantes para refletir a magia e o onirismo da realidade paralela é constante e, por vezes, saturada demais até mesmo para a mensagem que a narrativa deseja nos entregar – isso sem comentar o prospecto nada original do roteiro que, conforme chega à conclusão, reafirma as próprias críticas que arquiteta.

Os deslizes estruturais talvez também ocorrem pela quantidade desnecessária de referências a outras produções cinematográficas. Algumas mais óbvias, como De Repente 30 e Uma Linda Mulher, até funcionam, mas a continuidade dessas “menções honrosas” transforma o longa-metragem em uma confusa mixórdia – ora, temos construções parecidas desde iterações como A Proposta’ até A Sogra, que volta e meia servem de base e de preenchimento para que o público caminhe junto com a história até o final. Entretanto, é inegável dizer que, em um escopo mais geral, essas escolhas funcionam – mais pelo seu elenco e pela última virada no roteiro que qualquer outra coisa.

Megarrromântico é uma sátira prática e funcional liderada por um elenco repleto de química e que se entrega a atuações bastante aprazíveis. Os equívocos existem e acabam falando mais alto do que deveriam, mas mesmo assim é certo que o público e até os fãs devotos das comédias românticas vão gostar (e bastante) da obra.

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