O início da última década ficou marcada por uma forte crise criativa no mercado dos filmes de terror, que investiu em muitas sequências de franquias cujo primeiro capítulo deu certo, mas que jamais conseguiram entregar o mesmo nível de qualidade nas continuações. Apostando nos sustos fáceis e nessa ideia de franquias, diversas bombas chegaram por aí trazendo sempre o mesmo estilo de terror – ou tentativa de terror.
Porém, com o crescimento da “rivalidade” entre as produtoras Blumhouse e A24, a parte final da última década começou a trazer novas produções com estilos diferentes de terror, ousando mais e proporcionando produções inovadoras e incríveis. Na sugestão de hoje, separamos cinco dos filmes de terror mais comentados dos últimos anos e indicamos em qual plataforma de streaming você pode conferi-los.
Midsommar – O Mal Não Espera A Noite (Amazon Prime Video)
esse terror é bem diferente da maioria, porque ele tem pouquíssimas cenas no escuro, usa e abusa de cores e trabalha bastante com o poder da sugestão, deixando para o espectador imaginar o que pode estar acontecendo ali. A trama conta a história de um casal em crise após a jovem (Florence Pugh) perder a irmã e os pais em uma situação bizarra. Traumatizada, ela se apoia no namorado, que já pensava em terminar o relacionamento, mas acaba “empurrando a situação com a barriga” por um sentimento de pena. Quando o rapaz decide ir para a Suécia com os amigos estudar um festival de solstício de uma comuna, a jovem acaba virando tema de debate. Depois de uma conversa, ela acaba se juntando ao grupo, contrariando a maioria dos amigos. Ao chegar no vilarejo, eles tem contanto com drogas e a outros convidados estrangeiros que vão dividir a experiência da comuna com eles pelos próximos dias. O problema é que as tradições dessa comunidade sueca são estranhas, envolvendo assassinatos, rituais de magia e até mesmo estupro. Logo, o grupo de amigos vai desaparecendo, deixando um clima muito incômodo no ar.
Além de trabalhar a direção de arte com visuais incríveis, cores fortes e cenas de pura psicodelia, o filme tem momentos de gore e trabalha uma questão interessantíssima: qual o limite do aceitável entre as “diferenças culturais” e bizarrice? Partindo dessa premissa, Ari Aster vai elevando ainda mais o nível de coisas terríveis que acontecem e o grupo vai aceitando.
A Bruxa (Globoplay)
Vendido como o filme que fez Stephen King se borrar de medo, A Bruxa é um filme que não tem nenhum jumpscare ou os sustos clássicos de aumento de volume repentinamente, mas investe em criar um clima de tensão acerca da dúvida que é brutal. Na trama, uma família camponesa perde seu bebê para uma bruxa em meio a uma grande crise familiar e financeira. Com o passar do tempo e com várias situações estranhas acontecendo, eles começam a desconfiar que sua filha mais velha (Anya Taylor-Joy) seja uma bruxa. Brincando com a incerteza do público sobre a menina ser apenas julgada pela realidade opressora da época ou dela realmente ter envolvimento com o sobrenatural, o filme é um terror psicológico incrível.
O Sacrifício do Cervo Sagrado (Amazon Prime Video)
Extremamente esquisito e desconfortável, esse filme do grego Yorgos Lanthimos é um clássica tragédia grega sobre um cirurgião de Ohio que perdeu um paciente há cerca de três anos. Sentindo culpa, ele passa a se encontrar com o filho do homem e começa a maneirar na bebida. A dupla desenvolve uma boa relação, até que o médico o convida a frequentar a casa da família, apresentando sua esposa e os filhos.
Porém, o desconforto é muito grande e a intimidade dos dois começa a incomodar. Então, essa fixação do garoto com o cirurgião começa a trazer situações terríveis para o lar da família, como sua mãe, viúva, investindo no médico casado e casos misteriosos de paralisia atingindo os filhos do rapaz. Yorgos constrói o filme baseado nesse desconforto e na série de absurdos que essa relação traz. A ambientação é esquálida, tal qual as personalidades dos protagonistas diante das bizarrices. É um terror sutil que reflete sobre aspectos problemáticos da sociedade e pode não agradar a todos, mas é impressionante.
Hereditário (HBO Max)
Considerado um dos filmes mais assustadores dos últimos anos, Hereditário mostra que os segredos de família nem sempre envolvem herança escondida. Nessa história, a matriarca de uma família comum se envolve com cultos satânicos e oferece a própria família para trazer de volta um antigo demônio. Quando ela morre, coisas sinistras começam a acontecer, fazendo da casa dos filhos e netos um verdadeiro inferno. Conforme a trama avança, problemas comuns se misturam ao caos demoníaco, mergulhando os membros em uma depressão profunda e sobrenatural. A história também chega a brincar com a possibilidade de tudo não passar de uma situação chatíssima de uma família problemática, mas logo fica impossível não assumir o sobrenatural da situação. Com uma caracterização tão absurda quanto o nível das atuações e uma direção segura que extrai o máximo do incômodo e do horror, Hereditário é uma obra-prima do terror atual.
O Farol (Amazon Prime Video)
Ambientado no finalzinho do século XIX, esse terror psicológico em preto e branco chamou bastante atenção em 2019 por sua excentricidade e recursos muito similares aos que eram utilizados nos clássicos do cinema mudo. A trama conta a história de Thomas (Willem Dafoe), o dono do farol que dá nome ao filme, cujos hábitos envolvem o alcoolismo e se trancar peladão no farol. Ele passa a conviver com um jovem misterioso chamado Ephraim (Robert Pattinson), que ostenta um passado obscuro. Juntos nessa ilha, os dois precisam se entender. No entanto, eles parecem caminhar rumo à loucura, em um terror psicológico de mão cheia, que faz uso da linguagem visual para criar um clima completamente incômodo e aterrorizante.
O fato de ter poucos personagens em cena só ajuda a construir a sensação de clausura e de falta de perspectiva de dois homens que não sabem se nutrem amor ou ódio um pelo outro. É um filme escatológico, tenso e assustador.