Lançado no fim do ano passado nos EUA, Saturday Night – A Noite Que Mudou a Comédia foi um daqueles filmes que acabou não conseguindo distribuidora aqui no Brasil, talvez por um receio do longa não atrair o público nacional, já que fala sobre um programa de TV dos EUA, que jamais teve apelo por aqui. Então, as únicas sessões dele no Brasil aconteceram na Mostra São Paulo 2024.
E quem teve a oportunidade de assistir o Saturday Night na Mostra, pôde atestar: é um filmaço! A trama gira ao redor da noite de estreia do Saturday Night Live, o programa de humor mais famoso e tradicional dos EUA. Ambientado em 1975, o longa conta, de forma não linear, como foram os caóticos 90 minutos que antecederam a estreia do programa, que não contava lá com muito prestígio ou fé da emissora de TV. Com todos já considerando o projeto um fracasso, ele chegou até mesmo a correr o risco de sequer ir ao ar.
O filme tem uma série de méritos, mas talvez o maior dele seja contar com a direção de Jason Reitman. Filho de Ivan Reitman, diretor que fez carreira ao lado dos maiores astros do SNL, Jason cresceu em meio aos atores que ele retrata nesta história, então ele traz ao filme uma visão praticamente familiar sobre o caos dos bastidores do programa. Não é algo que apenas contaram a ele, o diretor realmente viveu nesse meio, então é sensacional acompanhar a forma como ele aborda e interliga as diferentes personalidades desses personagens tão excêntricos, canalhas e divertidos.
O trabalho de iluminação do filme é outro espetáculo a parte. Apostando nas iluminações do estúdio de TV, o longa cria uma estética muito próxima e aconchegante para o público, ao mesmo tempo em que constrói uma narrativa frenética, cheia de passagens negativas e desastrosas. Tudo isso pela visão do produtor Lorne Michaels, que se recusa a deixar o programa ruir. Vale destacar a atuação simplesmente brilhante do jovem Gabriel LaBelle, que traz muita autenticidade ao Lorne.
Falando em atuações, o elenco do filme está afiadíssimo. Claro que ele vai dialogar melhor com quem está habituado ao elenco do programa original, mas até mesmo quem nunca assistiu vai conseguir reconhecer os nomes mais icônicos, por conta de um trabalho sensacional de caracterização. Destaque para Dylan O’Brien, que dá vida ao então galã Dan Aykroyd, e para Cory Michael Smith, que causou polêmica na gringa com sua versão de Chevy Chase. Mas quem rouba a cena mesmo é Matt Wood, que interpreta uma versão praticamente inatingível de John Belushi.
Não bastasse essa trinca impressionante, o filme ainda conta com nomes como J.K. Simmons, Willem Dafoe, Lamorne Morris, Rachel Sennott e Finn Wolfhard. Todos brilhando em seus respectivos papéis. Foi uma escolha de elenco certeira! E a química entre eles é potencializada pelo estilo de direção, que aposta em câmeras trêmulas e a marcação de tempo, dando um verdadeiro senso de urgência a essa situação, já que seriam apenas 90 minutos para decidir o futuro do programa, desde a escolha de quem participaria ou não, passando pela construção dos cenários, conversas com direção e até mesmo o processo de atrair público para assistir um programa desconhecido e sem apelo.
E para quem já trabalhou com televisão ou sonha com esse mundo da comunicação, Saturday Night é uma viagem divertidíssima pelos bastidores. Ele desmistifica muito do glamour que o imaginário popular construiu da televisão, passando pelos diferentes tipos de ego que constroem esse ambiente, pela excentricidade de seu profissionais e pela vontade da galera de fazer as coisas darem certo, mas também pela frieza que é exigida caso as coisas deem errado.
É um filme sensacional que chega ao Brasil diretamente para o catálogo do Amazon Prime Video. Uma adição incrível para o streaming e o filme ideal para ver nessas últimas horas do fim de semana. Esse clima de programa de auditório tem toda a cara do domingo à noite brasileiro, então é uma excelente pedida!