Hoje vivemos uma verdadeira guerra dos streamings – que de certa forma substituiu a guerra dos grandes estúdios nas salas de cinema. A Disney e a Warner, por exemplo, dois dos maiores estúdios de Hollywood, possuem suas próprias plataformas de streaming com a Disney+ e a HBO Max (em breve, apenas Max).
A extinta Fox, comprada pela Disney, e se tornando 20th Century Studios, migrou suas produções para a Star+, uma segunda plataforma da Toda-Poderosa casa do rato Mickey. O curioso é que as líderes de mercado, Netflix e a Amazon possuem também suas produções originais, que raramente vão aos cinemas, e começaram sua batalha por audiência nas telinhas mesmo. A Amazon foi além e comprou a MGM, e com o estúdio todo o seu acervo, é claro – o que inclui franquias como 007 e Rocky Balboa.
Algumas chegam atrasadas a esta corrida, como a Paramount, que lançou sua plataforma nos 45 do segundo tempo. E outras, sequer possuem uma plataforma própria, como a Columbia (Sony), e nem planejam ter. O que o estúdio faz é “emprestar” suas produções para quem oferecer mais – no momento elas estão indo justamente para a HBO Max. Já a Universal até possui uma plataforma nos EUA, o Peacock, mas no Brasil quem conseguiu um acordo de ouro com o estúdio foi o Telecine, uma plataforma de streaming cem por cento brasileira, pertencente ao grupo Globo. O Telecine possui não apenas o acervo mais recente de produções da Universal, como também da Paramount e até produções independentes. São justamente essas produções mais alternativas o foco desta nova matéria. Aqui, iremos apresentar alguns filmes bem interessantes disponíveis no catálogo do Telecine, que talvez nem todos conheçam, mas que devem descobrir. Conheça abaixo.
Marte Um
Um dos maiores sucessos de crítica do cinema nacional nos últimos anos, ‘Marte Um’ foi o escolhido para representar o Brasil no Oscar 2023 – mas terminou não passando pela pré-seleção. Escrito e dirigido pelo mineiro Gabriel Martins, o longa usa como cenário a pequena cidade do cineasta, Contagem, para o retrato de uma típica família negra de classe baixa de nosso país. O pai, Wellington (Carlos Francisco), é um porteiro que tem grandes planos para o filho mais novo, Deivinho (Cícero Lucas), se tornar jogador de futebol, mas o menino tem outra ideia sobre seu futuro e quer se dedicar à ciência.
‘Marte Um’ funciona como grande analogia social e critica a transição de governo pela qual o Brasil passou – com o sufocamento da cultura, da ciência e planos sociais em prol do militarismo. Fora isso, mas ainda no mesmo tópico, temos representado através da personagem Eunice (Camilla Damião) um apelo à causa LGBTQI+. A filha mais velha inicia um relacionamento com uma mulher e está tentando a aceitação da “família tradicional” sem causar muito choque. ‘Marte Um’ é um filme poético, sensível e repleto de nuances.
Emily – A Criminosa
Nos últimos anos, o público tem testemunhado a ascensão de Aubrey Plaza, oriunda do cinema independente norte-americano, mais voltada às comédias. Plaza já está na estrada há muito tempo, e desde 2009 vem aparecendo em filmes famosos. Há mais ou menos 10 anos, teve a oportunidade de protagonizar algumas obras, como ‘Sem Segurança Nenhuma’ e ‘Diário de uma Virgem’. Mas é inegável que sua popularidade aumentou muito de uns anos para cá, graças ao cult ‘Ingrid Vai para o Oeste’ (que diz muito sobre a geração “Instagram”) e em especial a série ‘White Lotus’, na qual Plaza brilhou na segunda temporada.
Recentemente, Aubrey Plaza pôde receber mais alguns elogios em uma performance dramática no filme ‘Emily – A Criminosa’, onde interpreta uma mulher cheia de dívidas e com dificuldade financeira, que termina envolvida em um esquema de golpes de cartão de crédito, desesperada, descendo até o submundo do crime.
Alice
Quem estrela este drama / thriller é Keke Palmer, vista recentemente em ‘Não! Não Olhe!‘, de Jordan Peele, também contido na grade de programação do streaming do Telecine. Aqui ela faz um papel bem diferente, como uma jovem escrava vivendo numa plantação, sofrendo nas mãos de seu senhor de engenho. É quando ela reúne forças e finalmente consegue escapar. No entanto, no melhor estilo ‘A Vila’ (2004), de M. Night Shyamalan, ela irá se deparar com uma realidade muito diferente do que imaginava, uma vez que ultrapasse a linha que divide a propriedade e as árvores. Bom, se você não quer saber mais nada do filme, pule o parágrafo abaixo para o próximo item – mesmo que o fato esteja no trailer.
O que acontece é que ela descobre que não estava vivendo no passado, e sim na década de 1970. E seu “senhor” é apenas um racista sádico, tentando emular uma época onde seus antepassados viviam como reis. Diante de tamanha atrocidade cometida contra ela, a protagonista decide retornar para se vingar. No mínimo curioso e bastante criativo.
As Vigilantes
Mesmo que os filmes nesta lista não agradem todos, a intenção é trazer longas com ideias criativas e fora da caixinha, que não são do conhecimento de todos. Agora temos outra produção bastante provocativa, cujo título original é “Asking for It”, o famoso “você pediu” ou “você estava pedindo”. Uma frase proferida no passado principalmente por machistas que acreditam que as mulheres sempre estavam provocando os homens. Bem, quem dera isso tivesse ficado no passado, pois muitos imbecis pensam assim até hoje.
Com um elenco de rostos conhecidos, vide Vanessa Hudgens, Kiersey Clemons, Alexandra Shipp e Gabourey Sidibe, todas interpretam mulheres parte de um grupo feminista de justiceiras, que atacam e se vingam de homens abusadores, espancadores e estupradores de mulheres. E adivinha quem interpreta o vilão? O vilão da vida real Ezra Miller, também conhecido como ‘Flash’, que no filme vive o líder de um grupo de machistas radicais, cuja intenção é “colocar as mulheres em seu lugar”. Isso resultará num confronto explosivo.
Benedetta
Exibido no prestigiado Festival de Cannes, esse é o novo trabalho do diretor holandês Paul Verhoeven, o mesmo responsável por sucessos como ‘Robocop – O Policial do Futuro’ e ‘Instinto Selvagem’. Em sua nova obra polêmica, o cineasta usa como cenário um convento de freiras na Itália do Século XVII. No local, se encontra a protagonista, a jovem freira que dá título ao filme, papel da belga Virginie Efira, que já havia trabalhado com Verhoeven em seu longa anterior, o igualmente polêmico ‘Elle’, com Isabelle Huppert. O diretor está desde 2000 sem filmar em Hollywood, quando entregou ‘O Homem sem Sombra’ – filme que na época não fez o sucesso imaginado, mas ressurgiu como obra cult subestimada.
Desta época para cá, Paul Verhoeven voltou para a Europa para filmar em países como a França, Alemanha, os Países Baixos e sua terra natal, a Holanda – foi de onde saíram filmes como ‘A Espiã’, ‘Traição’, ‘Elle’ e este ‘Benedetta’. Na trama de seu mais recente trabalho, a freira Benedetta começa a ter visões perturbadoras, que misturam religião e eroticismo. Ou seja, já deu para perceber que Verhoeven enfia novamente o dedo na ferida. Não bastasse isso, a chegada de uma outra jovem ao convento começa a despertar em Benedetta a vontade pelo pecado e a tentação de desejos libertinos – o fruto proibido do primeiro pecado.