007 – Sem Tempo para Morrer, o vigésimo quinto filme oficial da franquia mais duradora do cinema, tem estreia programada em nova data para o dia 30 de setembro de 2021 exclusivamente nos cinemas – após ser adiado do ano passado devido à pandemia. Como forma de irmos aquecendo os motores para esta nova superprodução que, como dito, faz parte de uma das maiores, mais tradicionais e queridas franquias cinematográficas da história da sétima arte, resolvemos criar uma nova série de matérias dissecando um pouco todos os filmes anteriores, trazendo a você inúmeras curiosidades e muita informação.
Desde a febre que se tornaram os filmes de espiões da década de 1960 graças ao sucesso fenomenal de 007 após A Chantagem Atômica (1965), a franquia não via um evento tão badalado quanto o que ocorreu no ano de 1983. Esse foi o ano marcado pelo duelo definitivo dos dois maiores James Bond do cinema: Roger Moore e Sean Connery. Sim, já havíamos tido um ano marcado com duas produções do agente secreto no cinema – quando 1967 trouxe Só Se Vive Duas Vezes e a paródia Cassino Royale. Mas agora era diferente, com dois filmes sérios sobre o espião. Começaremos com o 13º Filme da Franquia oficial da EON, Octopussy. Confira abaixo.
Leia também: Todas as Matérias Dossiê 007 – até o momento
Produção
A franquia 007 no cinema seguia pelos anos 1980, agora com seu segundo filme na década. Com isso, a EON produzia filmes do espião por três décadas agora. O dono da franquia Albert R. Broccoli, como dito anteriormente em outras matérias da coluna, cuidava dos filmes sozinho após a partida do ex-parceiro Harry Saltzman. Bem, não tão sozinho, já que trazia para perto como produtor e roteirista seu enteado Michael G. Wilson – que havia estreado como executivo em O Foguete da Morte e chegava a seu terceiro filme na série.
O filme anterior, Somente para Seus Olhos, foi uma investida mais sóbria e pé no chão para um filme de James Bond, após a franquia ter ido literalmente para o espaço em O Foguete da Morte – pegando carona no sucesso de Star Wars. E Somente para Seus Olhos fez sucesso, mas não se comparou ao blockbuster do citado filme espacial de 007. Assim, a opção era por deixar o próximo filme menos sério e sisudo, ao mesmo tempo sem ser fantasioso demais. Novamente um filme de James Bond pegava carona num sucesso recente do cinema. Aqui, a opção foi por criar uma aventura leve e descontraída, no clima do cinema de matinê. Já adivinhou? Isso mesmo, o próximo 007 seria criado, em partes, no clima de Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (1981), que havia dominado as bilheterias dois anos antes.
A escolha foi pelo último livro que autor Ian Fleming escreveu, Octopussy. Para a empreitada foi contratado novamente o diretor John Glen, em seu segundo filme consecutivo na direção da franquia. E para se aproximar do clima de matinê almejado pela produção, a trama usaria em suas cenas de ação locações exóticas como a Índia, lutas em cima e em baixo de um trem em movimento e James Bond se arriscando numa floresta contra a fauna local, enfrentando tigres e aranhas assassinas. Mas a maior epopeia da produção ainda estava por vir, na hora de escalar o protagonista…
James Bond
Com cinco filmes nas costas no papel de James Bond, Roger Moore já havia passado dos 50 anos e se encontrava, bem, velho para o papel. De fato, o ator estava com 56 anos e pronto para se aposentar do espião. Dito e feito, seu desligamento correu de forma suave. A produção, por outro lado, começou a correr para encontrar o próximo intérprete do agente secreto da Rainha. Como de costume, muitos atores foram testados pelo mundo, até que os produtores optaram por ninguém menos que o muito americano James Brolin. Se você não sabe quem ele é, o ator é pai de Josh Brolin e casado com Barbra Streisand.
Brolin fazia sucesso na década de 1970 com filmes de gênero, como as ficções Capricórnio Um (1977) e Westworld – Onde Ninguém Tem Alma (1973), e o horror sobrenatural Terror em Amityville (1979). Apesar de ser americano, Brolin impressionou bastante em seu teste de elenco e era capaz de fazer um sotaque europeu que lhe colocava como um cosmopolita. Ele agradou muito em seus testes, fosse nas cenas de ação ou românticas e ficava bem de terno. Tais testes podem ser encontrados nos DVDs e Blurays de Octopussy e talvez online.
Mas James Brolin não é o ator que vemos no filme, você diz. O que aconteceu? Bem, entrou em cena uma coisa chamada notícias de bastidores em Hollywood. E na época era divulgado aos quatro ventos que ninguém menos que Sean Connery, o James Bond original, havia assinado contrato para retornar ao papel fora da cronologia oficial da EON, devido a um acordo que eu já mencionei aqui em textos passados da coluna Dossiê 007, entre o produtor Albert Broccoli e Kevin McClory, dono dos direitos de A Chantagem Atômica, uma das maiores bilheterias da franquia. Em termos atuais é o que temos com o personagem Homem-Aranha, dividido entre a Disney (Marvel) e a Sony. Connery voltaria num filme chamado Nunca Mais Outra Vez, produzido pela Warner.
Assim, sabendo que James Brolin nunca seria páreo para Sean Connery, a EON tratou de usar quaisquer artifícios que fossem para trazer o seu bom e velho James Bond oficial, Roger Moore, de volta para um novo (o sexto) round na pele do espião. Mesmo que estivesse passando do tempo no papel, como dito aos 56 anos.
Missão Secreta
A principal influência de Octopussy era o sucesso de Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida que havia despertado a febre das aventuras de matinê na selva. Assim, a trama joga James Bond na Índia, uma locação exótica, onde entre outras coisas se vê numa floresta enfrentando animais como tigres e aranhas, e inclusive se balançando em cipós ao som de Tarzan. A história desta vez é simples e meramente uma desculpa para uma das aventuras mais despretensiosas do espião, porém, uma muito divertida.
Na trama, James Bond segue pistas do assassinato de um espião britânico e chega a um militar russo renegado, que por sua vez o leva ao esquema de tráfico na Índia, onde irá se deparar com a sedutora Octopussy, a líder da organização. Essa é provavelmente uma das histórias mais simples da franquia, marcada pelas cenas de ação eletrizantes. E também por alguns momentos bizarros de humor, como quando 007 se veste de palhaço e se infiltra num circo, onde se desenvolve grande parte da ação. Além das citadas desventuras com animais e o trecho com os cipós.
Bondgirls e Aliados
Essa é a primeira e única vez na franquia em que o título do filme leva o nome de uma Bondgirl. Deu para ver a importância que a contrabandista Octopussy possui. Ela é interpretada pela bela Maud Adams, atriz que estranhamente já havia participado como a Bondgirl secundária em O Homem com a Pistola de Ouro. Aqui, Adams vive a protagonista feminina e uma personagem totalmente diferente. A dúbia Octopussy começa como vilã, mas aos poucos é contagiada por 007 para fazer o que é certo, levando em conta inclusive que seu pai era um agente britânico. Octopussy tem fortes ligações com o circo e é baseada na Índia, usando roupas típicas do lugar, além de participar da ação igualmente. Octopussy entra na lista de muitos fãs como uma das melhores Bondgirls da franquia.
Lois Maxwell volta em seu 13º filme no papel da secretária Moneypenny, e Desmond Llewelyn ganha mais tempo de cena na pele do inventor Q, inclusive participando da ação no terceiro ato a bordo de um balão de ar quente. O filme também marcaria pela estreia do novo intérprete do chefe M, o ator Robert Brown. Ele permaneceria no papel por quatro filmes até a era Pierce Brosnan.
Vilões
Podemos dizer que o chamariz do filme é a presença de Maud Adams como a anti-heroína Octopussy. Afinal, o título do filme leva seu nome. Ela é uma personagem dúbia, que começa como vilã e se redime como Bondgirl aliada. Seja como for, ela é a grande atração. Mas o filme ainda possui outros vilões menos memoráveis. A começar pelo inimigo de plantão de todo filme na década de 1980: um russo. O General renegado do exército soviético Orlov é o típico vilão que se espera em um filme assim. Ele é interpretado pelo vilão de plantão Steven Berkoff, principal antagonista em filmes como Um Tira da Pesada (1984) e Rambo II – A Missão (1985).
Fora ele, na parte indiana da trama a principal ameaça é o manipulador Kamal Khan, que possui uma relação de domínio com Octopussy. O vilão é vivido pelo francês Louis Jourdan. E como de praxe nos filmes de 007, Khan possui seu próprio capanga que é um osso duro de roer. Gobinda, papel de Kabir Bedi, é o segurança especialista em lutas e espadas, que destrói dados de jogos com a força do aperto de sua mão. O curioso é que tanto Louis Jourdan quanto Maud Adams fazem uso do que seria considerado white washing hoje em dia, interpretando personagens não condizentes com sua etnia. Jourdan chega a fazer uso de uma “brown face”, uma maquiagem para “torna-lo” indiano. Fato que deve descer de forma quadrada para os mais patrulheiros do politicamente correto.
Relatório
O que podemos dizer sobre Octopussy? Não é um dos mais odiados da era Roger Moore e isso conta muitos pontos. Porém, para ser justo, talvez seja um dos mais esquecíveis, permanecendo naquele conforto bem no meio entre os piores e os melhores onde quase ninguém lembra dele. É seguro dizer que a maioria o considera um episódio não muito memorável da franquia. Porém, existe sim um outro grupo de fãs que o coloca alto no ranking, o considerando um filme subestimado. Definitivamente é uma aventura despretensiosa e divertida, que não se leva a sério, mesmo sem ser alucinada o suficiente como O Foguete da Morte, por exemplo.
O maestro John Barry retorna e cria uma trilha com ares de Indiana Jones bem a calhar para o filme. A cantora Rita Coolidge cria uma das canções mais emblemáticas da franquia e uma de minhas preferidas, com a romântica e empolgante ‘All Time High’. Octopussy fez um enorme sucesso nas bilheterias do ano de 1983, mostrando que Roger Moore ainda tinha gás no papel. E ironicamente, apesar de Sean Connery ser o 007 preferido da maioria, quem saiu melhor da disputa dos dois James Bond daquele ano foi justamente Roger Moore, com Octopussy superando os números de Nunca Mais Outra Vez – sobre o qual iremos falar no próximo Dossiê 007.