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Dossiê 007 | Somente Para Seus Olhos (1981) – 12º Filme é o mais “sóbrio” da era Roger Moore e faz 40 anos


007 – Sem Tempo para Morrer, o vigésimo quinto filme oficial da franquia mais duradora do cinema, tem estreia programada para o dia 7 de outubro de 2021 – após ser adiado do ano passado devido à pandemia. Como forma de irmos aquecendo os motores para esta nova superprodução que, como dito, faz parte de uma das maiores, mais tradicionais e queridas franquias cinematográficas da história da sétima arte, resolvemos criar uma nova série de matérias dissecando um pouco todos os filmes anteriores, trazendo a você inúmeras curiosidades e muita informação.

A era Roger Moore da franquia 007 ficou conhecida pelos fãs por seu teor, digamos, galhofeiro. Tudo bem que os últimos filmes de Sean Connery se levaram cada vez menos a sério, mas ao chegarmos na década de 1970 com Moore as coisas atingiram novos níveis de surrealismo. As façanhas do protagonista ficavam cada vez mais inacreditáveis, realizadas pelo ator sempre com o sorriso no rosto e uma bela tirada. No episódio anterior, O Foguete da Morte, por exemplo, James Bond ia ao espaço (bem antes da turma de Velozes e Furiosos). Não preciso dizer mais nada. Para onde continuar daí? Bem, como veremos a seguir, o caminho optado foi um retorno completo aos pés no chão no que ficaria conhecido como o mais “sério” e “realista” episódio da era Roger Morre: Somente Para Seus Olhos. Confira abaixo os detalhes da produção.

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Produção

Somente Para Seus Olhos era anunciado para ser o décimo primeiro filme de James Bond no cinema. Mas no meio do caminho, a franquia e o mundo foram pegos de surpresa por um fenômeno chamado Star Wars (1977), que traria uma verdadeira febre espacial para a cultura pop da época, mudando de vez o que conhecemos como produtos de entretenimento. Assim, sem perder tempo, planejando uma fatia deste bolo para si, a EON Pictures (responsável pela franquia) tratou de deixar os planos originais um pouco de lado e levar 007 para o espaço em O Foguete da Morte (1979).

Moonraker (no original) foi um grande sucesso e então era o mais bem sucedido da franquia financeiramente. O problema é que foi também o mais caro até aquele momento. Fora isso, a MGM – produtora e distribuidora da franquia – na época precisava arcar com o prejuízo do ambicioso faroeste O Portal do Paraíso (1980), de Michael Cimino, responsável por falir o estúdio United Artists, que precisou se fundir com a MGM. Assim, somando todos estes fatores, a decisão dos produtores foi por um capítulo menor e mais intimista, sem a megalomania dos antecessores.

Aqui também entrava em cena Michael G. Wilson, enteado de Albert R. Broccoli, assumindo as funções de roteirista e produtor executivo ao lado do padrasto. Papel que desempenharia dali em diante – e no futuro assumindo as rédeas da franquia ao lado de Barbara Broccoli, sua irmã por parte de mãe. Quem assumia a direção desta vez era John Glen, marcando assim sua estreia no comando de um filme. Glen, no entanto, era parte ativa da franquia e veterano experiente dela, tendo atuado como editor de A Serviço Secreto de Sua Majestade, O Espião que me Amava e O Foguete da Morte.

James Bond

Roger Moore retornava para seu quinto filme no papel de James Bond. Mas não foi sempre assim. Quando a produção começou no décimo segundo longa oficial da franquia, o contrato do ator já havia expirado e Moore estava pronto para velejar em outros mares. Novamente, o processo para encontrar um novo intérprete começava e alguns nomes não muito famosos (já que a ideia novamente era por um rosto desconhecido do grande público para moldar como o espião) foram cogitados. Uma curiosidade é que Pierce Brosnan um dia foi ao set visitar sua então esposa, a atriz Cassandra Harris, que participa do filme como a Bondgirl Lisl. Os produtores teriam se interessado pelo ator e deixado seu nome guardado para o futuro.

No fim das contas a opção foi mesmo pelo veterano Bond da franquia Roger Moore, que entrava na produção aos 54 anos, sendo assim o 007 mais velho a esta altura. Embora estivesse em ótima forma ainda, sua idade é sentida em tela e incorporada no roteiro. Aqui temos, por exemplo, uma cena em que o espião nega o sexo com uma bela loira pela primeira vez na franquia, já que a Bondgirl Bibi (Lynn-Holly Johnson) era nada menos que 31 anos mais jovem que Moore. O roteiro brinca com o fato quando o protagonista a manda se vestir e diz que irá comprar um sorvete para ela. A libido de Bond definitivamente estava mais devagar equilibrada com sua idade.

Missão Secreta

Curiosamente, mesmo ainda tendo sido baseado num livro do autor Ian Fleming (o oitavo), a trama criada para a versão cinematográfica tem mais a ver com o livro O Espião que me Amava do que sua adaptação para o cinema em si. Como dito no meu texto do filme citado, no livro, Bond era coadjuvante e salvava uma jovem de assassinos. Esta é basicamente a trama mais intimista e pé no chão de Somente Para Seus Olhos, tirando o fato de Bond ser o protagonista (óbvio) e não o coadjuvante.

Na trama, os russos estão atrás de um artefato tecnológico. Assim como os britânicos, que enviam Bond. O aparelho, no entanto, termina encontrado por uma família de aventureiros em um barco: os Havelock. Uma vez em posse da máquina, assassinos são enviados e exterminam todos os membros desta família, exceto a filha, a jovem morena Melina Havelock (papel da belíssima francesa Carole Bouquet), que jura vingança. Bond a encontra e a ajuda escapar dos assassinos que estão em sua cola. Uma trama simples, porém, crível e muito eficiente.

Bondgirls e Aliados

A bela francesa de cabelos negros e escorridos Carole Bouquet é o grande chamariz de Somente Para Seus Olhos. No papel de Melina Havelock, a atriz cria a que para muitos fãs é a melhor Bondgirl na franquia. Durona, mesmo sem ser uma espiã treinada, porém, aventureira e caçadora, ela usa sua besta (arma de arco e flecha) marcando o décimo segundo filme de forma muito bad ass. Ela usa a flecha para eliminar alguns capangas ajudando Bond e consegue sobressair, na opinião de muitos, a todas as outras Bondgirls duronas apresentadas até aqui na franquia, incluindo a agente Triplo X (Barbara Bach) de O Espião que me Amava. No fim, Bond precisa convencer Melina a não levar a cabo sua vingança contra os assassinos de sua família – a mulher igualmente exibe um lado mais frágil e emotivo devido ao trauma.

Outro chamariz aqui é a presença do israelense Topol, indicado ao Oscar por O Violinista no Telhado. O ator interpreta um aliado de Bond, fazendo as vezes de Felix Leiter. Ele vive Columbo, um sujeito cheio de atitude que rouba muitas das cenas, graças à presença e atuação de Topol em tela. Alguns especialistas inclusive acreditam que se Topol estivesse vivendo o vilão, o filme poderia ser um pouco mais extravagante e na veia dos anteriores. Fora isso, aqui temos os retornos dos veteranos Lois Maxwell como Moneypenny e Desmond Llewelyn como o inventor Q; mas infelizmente Bernard Lee, o chefe M de 007 desde o primeiro filme (Dr. No) na década de 1960, viria a falecer em 1981, ficando de fora desta produção. Assim nada de M aqui.

Vilões

Como dito, muitos acreditam que se o rouba-cenas Topol tivesse sido contratado para viver o vilão da trama, o filme ganharia mais vida. Porém, talvez essa fosse a intenção desde o início, já que a opção do décimo segundo filme da franquia era ser algo mais realista e sério. Assim, o vilão é na verdade um sujeito “comum”. Kristatos é um vilão mais real, bem longe da megalomania costumeira nos antagonistas da franquia. Ele não se disfarça, não possui nadadeiras nas mãos ou um terceiro mamilo. Ele é apenas um homem rico. E que deseja obter um item e paga assassinos para conseguir. Para o papel, o britânico Julian Glover foi contratado, mas infelizmente ficaria marcado como um dos inimigos mais esquecíveis da franquia e definitivamente da era Moore. O ator viria a personificar outro vilão em uma franquia de sucesso, no papel de Donovan em Indiana Jones e a Última Cruzada (1989).

Um detalhe muito curioso em Somente Para Seus Olhos é que embora este seja o filme mais sério da era Moore, a introdução do longa é no ritmo das galhofas a que estávamos acostumados durante esta fase dos filmes do espião. Como forma de colocar definitivamente o “prego” no caixão da questão da briga judicial que não permitia a EON a utilizar mais a SPECTRE e o vilão Blofeld, o décimo segundo filme da franquia abre com James Bond se desfazendo de vez de seu arqui-inimigo (sem usar seu nome, é claro, mas notamos exatamente quem é) e de uma forma para lá irônica e cruel.

Relatório

Em resumo, de forma clara e direta, para muitos Somente Para Seus Olhos é o melhor filme da era Roger Moore. Curiosamente, este era o que menos me agradava na infância – por motivos óbvios. Afinal, este é também o mais contido, dramático e sério não apenas da era Moore, mas um que entraria no top 5 da série cinematográfica em tais quesitos. Bem, se você busca um filme de 007 que seja exagerado e espalhafatoso não irá encontrar aqui e talvez prefira a megalomania dos episódios anteriores – a graça para mim na infância era justamente essa. Mas não se engane, existem muitas cenas de ação aqui e elas são o ponto alto do filme.

Além da gracinha com Blofeld na abertura, Somente Para Seus Olhos segue incluindo sua trama na cronologia oficial e emendando as pontas soltas, como em uma cena em que Bond nas formas de Roger Moore visita o túmulo de Tracy, sua esposa morta em A Serviço Secreto de Sua Majestade (1969), quando o personagem ainda era interpretado por George Lazenby.

Somente Para Seus Olhos traz a canção de abertura na voz de Sheena Easton, que impressionou tanto os produtores do longa com sua beleza, os fazendo decidir por colá-la aparecendo na abertura ao cantar a música tema – pela primeira vez na franquia ocorria de um intérprete da música também aparecer na famosa introdução psicodélica. O filme se tornou um grande sucesso, rendendo quase o mesmo valor de seu antecessor e gastando bem menos. Mas embora parecesse que Bond seguiria navegando por águas calmas, o ano de 1983 traria uma das maiores confusões na franquia – mas isso veremos na próxima matéria da coluna Dossiê 007.

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Pablo R. Bazarello
Crítico, cinéfilo dos anos 80, membro da ACCRJ, natural do Rio de Janeiro. Apaixonado por cinema e tudo relacionado aos anos 80 e 90. Cinema é a maior diversão. A arte é o que faz a vida valer a pena. 15 anos na estrada do CinePOP e contando...
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