Estreia nesse fim de semana nos EUA, o filme de terror ‘Drácula: A Última Viagem do Demeter’, mais uma adaptação do que é provavelmente o maior vilão da história do cinema. Isso porque ele esteve lá nos primórdios da sétima arte e já recebeu inúmeras adaptações nas telonas. O personagem, é claro, nasceu nas páginas do romance Drácula, do autor irlandês Bram Stoker, publicado ainda em 1897. A história de fantasia e terror de Stoker conta sobre um Conde que faz pacto com as trevas, teme a luz do dia, precisa dormir em caixões e se alimenta de sangue humano. Ao longo das décadas a mitologia em torno da figura foi acrescentando novos elementos, mas é dito que Bram Stoker se inspirou em Vlad, o Impalador, regente da Romênia no Século XV, que realmente existiu e usava métodos sádicos contra seus inimigos.
‘Drácula: A Última Viagem de Demeter’ só chega ao Brasil no penúltimo fim de semana do mês, no dia 24 de agosto. Para irmos aquecendo os motores para este que promete ser um dos grandes filmes de terror de 2023, vamos relembrar com você todas as principais versões do Vampirão no cinema. Confira abaixo.
Nosferatu (1922)
Essa é considerada a primeira adaptação de ‘Drácula’ para o cinema. O expressionista alemão F.W. Murnau não tinha os direitos para filmar o conto de Bram Stoker, assim ele “copiou, mas fez diferente”. Por mais que ‘Nosferatu’ seja uma versão não autorizada e não oficial de ‘Drácula’, todos sabem bem a história. Ao invés de Drácula, aqui o vampiro se chama Orlok e possui uma aparência muito mais medonha do que o sedutor príncipe das trevas geralmente representado. O longa ganhou um elogiado remake em 1979, e em breve receberá mais um pelas mãos de Robert Eggers (‘A Bruxa‘).
Drácula (1931)
Agora sim, essa foi a primeira adaptação oficial de ‘Drácula’, de Bram Stoker, nos cinemas. É claro que para adquirir os direitos foi preciso uma das grandes potências que ajudaram a construir Hollywood, assim entrava em cena a Universal Pictures – que construía seu universo de monstros, muitas décadas antes do MCU. Vivido pelo húngaro Bela Lugosi, essa é a caracterização mais conhecida do vampiro, com sua capa negra, cabelos lambidos para trás, visual pálido e tremenda elegância.
O Vampiro da Noite (1958)
O grande Christopher Lee assumia o manto de Drácula neste que foi o primeiro filme colorido com o personagem. Com produção do estúdio britânico Hammer, especializado em filmes de terror góticos de baixo orçamento, o longa se tornaria um sucesso para os padrões da produtora. Tanto que quase 10 anos depois, Lee retornaria ao personagem em ‘Drácula – O Príncipe das Trevas’, e aparentemente não pararia mais de viver o vilão, ficando marcado pelo papel. Além dos dois citados, foram mais sete longas como o personagem na pele de Lee.
Blácula – O Vampiro Negro (1972)
As duas primeiras adaptações de ‘Drácula’ para o cinema, a oficial de 1931, e a não autorizada no cinema mudo em 1922, marcariam o personagem. Mas com a chegada dos anos 50, 60 e 70, ‘Drácula’ ganharia as formas de Christopher Lee nas produções de baixo orçamento da Hammer. Na mesma época, no auge do movimento cinematográfico conhecido como Blaxploitation – cinema negro, feito por artistas negros para o público negro – estreava uma produção cult que trazia o primeiro vampiro negro do cinema. Blacula é um príncipe africano que se encontra com Drácula e recebe seus dons das trevas. O longa rendeu uma sequência no ano seguinte.
Deu a Louca nos Monstros (1987)
O Conde Drácula andou ausente nos anos 80, a época mais divertida e fanfarrona do cinema e da cultura pop de modo geral. Não que a década não tenha apresentado seus vampiros, com longas como ‘A Hora do Espanto’ e ‘Os Garotos Perdidos’. O que acontece é que os vampiros 80’s eram descolados e Drácula talvez fosse considerado “quadradão” demais para a década. Mas o maior de todos os vampiros deu as caras em pelo menos uma produção cult do período, ‘Deu a Louca nos Monstros’ (ou ‘Monster Squad’), mistura de Goonies com os clássicos monstros da Universal, comandados por Drácula, é claro.
Drácula de Bram Stoker (1992)
Mais de 60 anos depois da versão com Bela Lugosi, o icônico Francis Ford Coppola, então saído do sucesso da trilogia ‘O Poderoso Chefão’, resolvia dar sua visão para o famoso livro, apostando em elementos nunca antes vistos na história – seja na impecável parte estética, com direção de arte, figurinos, maquiagem e uma fotografia que ainda hoje impressionam. Seja no elenco de peso, com direito a um Anthony Hopkins recém-premiado no Oscar, como Van Helsing. ‘Drácula de Bram Stoker’ é um espetáculo que ainda hoje deslumbra. Coppola definitivamente elevou o material a um nível onde nunca havia estado anteriormente, ou de fato nunca voltou a estar, dando-lhe status de superprodução com P maiúsculo.
Drácula – Morto, Mas Feliz (1995)
É claro que o lendário personagem não poderia passar sem uma boa sátira e para isso precisou de um cineasta à altura, especializado no gênero. Assim surgia a tirada de sarro confeccionada por Mel Brooks – que já havia feito o mesmo com Frankenstein, Robin Hood, os faroestes e os filmes de Hitchcock. No papel principal do vampiro, Leslie Nielsen aproveitava o hype em torno da franquia ‘Corra que a Polícia Vem Aí!’.
Drácula 2000 (2000)
O lendário príncipe das trevas inevitavelmente chegaria aos anos 2000, e ao “futuro”. E isso ocorreu nessa obra meio sem-vergonha, onde o vilão é interpretado por um sedutor Gerard Butler. A trama mostra um grupo de ladrões treinados que termina acidentalmente despertando o ser maligno de dentro de um cofre ao tentar roubar de um milionário. E quem era o ricaço, você pergunta? O próprio Van Helsing, papel do icônico Christopher Plummer – a coisa mais legal do filme.
Van Helsing (2004)
Por falar em Van Helsing, o personagem criado nas páginas do romance de Bram Stoker é o arqui-inimigo do vilão, uma espécie de Batman para o Coringa de Drácula. Justamente por isso, depois de décadas servindo como coadjuvante, a própria Universal Pictures decidiu dar um filme solo ao personagem, o transformando pela primeira vez em protagonista da história. E fez isso na era em que os filmes de super-heróis começavam a ferver nos cinemas, com ‘X-Men’ e ‘Homem-Aranha’. Assim, Van Helsing, nas formas de Hugh Jackman, se transformava em super-herói também, combatendo não apenas o Drácula de Richard Roxburgh, como também o Frankenstein, o Lobisomem e o Mr. Hyde.
Blade Trinity (2004)
Por falar Drácula como personagem em filmes de super-heróis, no mesmo ano de ‘Van Helsing’, a New Line estreava nos cinemas um filme do gênero no qual o protagonista enfrentava o maior vampiro de todos. Estamos falando de ‘Blade’, anti-herói da Marvel, que foi um dos pilares para o que temos hoje em termos de produção do gênero de super-heróis. Blade esteve lá nos primórdios, antes de ‘X-Men’ ou ‘Homem-Aranha’. Com Wesley Snipes no papel principal, esta já era a segunda continuação do sucesso de 1998. Depois de enfrentar vampiros comuns e uma raça que se alimentava dos vampiros, no terceiro longa as apostas eram aumentadas com o próprio Drácula como antagonista, em versão “Alexandre Frota”, vivido por Dominic Purcell e com o apelido carinhoso de Drake. É mole?
Drácula 3D (2012)
Um personagem tão importante na história do cinema obviamente merece todos os tipos de tratamento nas telonas – e realmente o Drácula parece ter tido toda e qualquer interpretação. Até mesmo um filme em 3D. Mas esse não é um blockbuster com o personagem, e sim um terror do mestre do cinema giallo italiano Dario Argento, que decidiu entrar nos tempos modernos e aceitar a brincadeira de um filme em terceira dimensão, onde o monstro sanguessuga tem as formas de Thomas Kretschmann e o inesquecível Rutger Hauer no papel de Van Helsing. O longa debutou no prestigiado Festival de Cannes de 2012.
Hotel Transilvânia (2012)
Como dito, o maior vampiro da cultura pop teve todo tipo de interpretação e formato. Até mesmo uma animação mirada às crianças e adolescentes com produção da Columbia Pictures, onde o vampirão recebeu a voz de Adam Sandler. ‘Hotel Transilvânia’ foi um projeto ambicioso de Genndy Tartakovsky, o criador de ‘O Laboratório de Dexter’ e ‘Samurai Jack’. Na ideia do artista, Drácula cuida de um hotel para monstros na Transilvânia, onde se encontram criaturas folclóricas como o Lobisomem, Frankenstein, o Homem Invisível, a Múmia e toda espécie de seres assim. Acidentalmente, um humano descobre o local e decide se hospedar por lá. O sucesso foi tamanho que gerou três continuações até 2022.
Drácula – A História Nunca Contada (2014)
Voltando para a temática dos “super-heróis”, nos itens anteriores quando citamos um filme criado nos moldes do gênero envolvendo o vampirão, ele continua sendo o antagonista de tais longas, vide ‘Van Helsing’ e ‘Blade Trinity’ – lançados no mesmo ano. No entanto, a Universal tentava de novo criar sua própria franquia com o personagem, e em 2014 tentou fazer de Drácula um herói. Sim, é isso mesmo. O príncipe amaldiçoado era completamente humanizado neste pretenso blockbuster de US$70 milhões de orçamento. Sua tragédia de amor perdido e injustiças cometidas eram o que o motivava a usar seus poderes da escuridão contra os seus inimigos. No filme, Drácula era vivido por Luke Evans.
Renfield – Dando o Sangue Pelo Chefe (2023)
O livro Drácula, de Bram Stoker, é um texto rico, cheio de nuances e personagens bem desenvolvidos. Alguns deles ganharam seus próprios filmes solo, como Van Helsing, transformado em super-herói num blockbuster. Antes dele, Mina Harker, a amada prometida e reencarnada do vampiro foi escalada para fazer parte da equipe da ‘Liga Extraordinária’. Em 2023, o serviçal de Drácula, Robert Montague Renfield foi quem ganhou um filme próprio, neste misto de comédia e terror. A sacada aqui apresenta Renfield cansado de servir ao seu mestre depois de séculos, desejando seguir seu próprio caminho. Um dos chamarizes é a presença de Nicolas Cage como Drácula, brincando muito com a mitologia do personagem desde os filmes dos anos 1930.
Drácula: A Última Viagem de Demeter (2023)
Finalizando a matéria, temos o filme que foi o mote para ela. O mais novo longa a abordar a mitologia do livro clássico de Bram Stoker é outro que resolve inovar ao invés de contar a mesma história que todos já conhecem. Essa é a graça das últimas adaptações da mitologia do personagem nas telonas, focar em personagens secundários, dando-lhes protagonismo, ou no caso desse trazer um obscuro capítulo do livro como uma história com começo, meio e fim. Assim, a viagem de Drácula da Transilvânia até Londres de barco recebe mais atenção do que jamais havia recebido, sendo alongado em um filme inteiro, que mostrará o que de fato aconteceu com a tripulação do navio Demeter.