Como sempre frisamos aqui no CinePOP, a palavra de ordem na Hollywood atual é “IP” – ou “Intellectual Property” (Propriedade Intelectual). Esse termo é muito usado hoje para se referir a uma marca registrada de um título. Em resumo, são as famosas franquias. De ‘Star Wars’ e ‘Indiana Jones’, até as mais recentes como ‘John Wick’ e ‘Barbie’, sem falar na maior delas: o MCU, as franquias cinematográficas são o que mantém os cinemas funcionando e o público comparecendo nesses tempos pós-pandemia e de domínio dos streamings. A prova disso é o fenômeno que se tornaram ‘Top Gun Maverick’ e ‘Avatar – O Caminho da Água’, e o entusiasmo absoluto por ‘Deadpool & Wolverine’.
Embora uma franquia pareça ser uma receita de sucesso, criar um produto que o mundo inteiro abrace pode ser mais difícil que o alinhamento dos planetas. Primeiro porque não pode ser algo forçado, é o público quem decide o que irá aprovar ou não. Dessa forma, centenas de produções miradas para serem o mais novo sucesso, terminam se tornando fracasso e parando logo no primeiro exemplar. É justamente sobre essas obras que iremos falar nessa matéria. Abaixo iremos lembrar de 10 filmes que estão completando uma década de sua estreia em 2024, planejados para serem uma franquia, mas que não deram muito certo. Confira.
Drácula – A História Nunca Contada
Há 10 anos, os filmes de super-heróis já estavam com tudo. O próprio MCU já estava na ativa fazia seis anos e já tinha 10 filmes em seu currículo. Assim, todo estúdio grande deseja uma fatia desse bolo, até mesmo a Universal Pictures. Mas como a empresa não tinha um super-herói para chamar de seu, a solução foi transformar um personagem clássico de seu acervo em um super-herói. Assim nascia ‘Drácula – A História Nunca Contada’, em que o príncipe das trevas era remodelado para parecer que havia saído de uma HQ nas formas de Luke Evans. Com coprodução da Legendary Pictures, o filme custou US$70 milhões, mas o resultado financeiro, somado às críticas, não permitiram uma planejada continuação.
Need for Speed – O Filme
Adaptações de videogames finalmente encontraram seu lugar ao sol após um longo período de tentativas, graças ao sucesso de franquias como ‘Sonic’, ‘Super Mario Bros’, ‘The Last of Us’ e ‘Fallout’. Mas voltando 10 anos no tempo, tais obras ainda não possuíam o prestígio de hoje. Assim, ‘Need for Speed’, que contou com nomes como Aaron Paul, Michael Keaton, Dakota Johnson e Rami Malek no elenco, precisou entrar na lista dos filmes do gênero que amargaram fracasso e não tiveram chance de se tornar uma franquia. Por comparação, outro filme baseado em um game de corridas se daria bem melhor quase uma década depois: ‘Gran Turismo’, que ao menos recebeu elogios da crítica e dos fãs.
RoboCop
Essa dói de um jeito diferente para nós brasileiros. Acontece que o remake do clássico ‘Robocop – O Policial do Futuro’, um dos mais icônicos blockbusters dos anos 80, teve o comando de nosso conterrâneo José Padilha, responsável pelos irretocáveis ‘Tropa de Elite’ 1 e 2. E isso não é nenhuma espécie de patriotismo, acontece que o remake é realmente muito legal. É claro que seria impossível competir com a obra-prima de 1987 dirigida por Paul Verhoeven, e Padilha sequer tentou. Como cineasta brilhante que é, resolveu seguir por outro caminho, mais atual e mais em harmonia com os tempos em que vivemos (de militarismo robótico, com drones, e imprensa extremista e sensacionalista). O que era para ter sido o primeiro capítulo de uma nova saga, infelizmente se viu interrompido antes do tempo por falta de fé do estúdio no projeto.
Operação Sombra – Jack Ryan
Aqui temos um caso curioso. A trajetória de um dos maiores heróis da literatura norte-americana, o agente da CIA Jack Ryan (saído dos livros de Tom Clancy), é no mínimo errática no cinema. Isso porque a primeira adaptação para as telonas foi ‘A Caçada ao Outubro Vermelho’, onde Ryan não foi o protagonista (nas formas de Alec Baldwin), mas sim um coadjuvante para o militar russo interpretado por Sean Connery. Dois anos depois, aí sim assumiria o protagonismo nas formas de Harrison Ford em ‘Jogos Patrióticos’ (1992). Ford voltaria ao papel dois anos depois em ‘Perigo Real e Imediato’.
Essa poderia ser uma franquia interessante, mas algo aconteceu no caminho e Ford não voltou para um eventual terceiro filme. A opção da Paramount foi um reboot com um Ryan mais jovem (nas formas de Ben Affleck) em ‘A Soma de Todos os Medos’ (2002). Não deu certo. Mais doze anos e o agente ficaria ainda mais jovem em ‘Operação Sombra’, personificado por Chris Pratt – mais um reboot para iniciar uma nova franquia. Nada feito. Ryan só encontraria redenção nas telinhas, na série da Amazon, vivido por John Krasinski.
Hércules
É fácil pensar que ‘Hércules’, blockbuster estrelado por Dwayne Johnson, foi planejado para ser apenas um filme. Mas é só olhar por outro ângulo: que blockbuster hoje é planejado para ser apenas um filme? É claro que se tivesse sido o sucesso esperado, o longa da Paramount em parceria com a MGM, geraria uma continuação e quem sabe até uma terceira parte, transformando as aventuras do herói mitológico em uma franquia. Acontece que com o orçamento infladíssimo de US$100 milhões, ‘Hércules’ recuperou apenas US$72 milhões nos EUA, e US$244 milhões mundiais, falhando em se tornar o novo queridinho da cultura pop como se esperava.
O Sétimo Filho
Saímos de uma aventura medieval de fantasia para outra. E se no item acima pode até existir dúvida sobre a intenção do estúdio em planejar uma franquia para o herói ‘Hércules’ (na realidade não existe qualquer dúvida), aqui com ‘O Sétimo Filho’ a intenção de novos filmes era certeza. Acontece que o longa que traz Jeff Bridges e Julianne Moore em lados opostos do bem e do mal, como poderosíssimos feiticeiros, é baseado no livro que Joseph Delaney, que faz parte de uma série com nada menos que doze exemplares a mais. Ou seja, assim como a franquia ‘Harry Potter’, ‘O Sétimo Filho’ era preparado para se tornar o substituto da magia no cinema. Como sabemos, devido ao pobre resultado do longa nas bilheterias e com os críticos, não foi bem assim.
Academia de Vampiros
Ainda no universo da fantasia, essa com ares adolescentes, ‘Academia de Vampiros’ foi outro filme baseado em uma série literária que fez muito sucesso com seu público-alvo e conta com mais cinco livros em sua narrativa. A expectativa era que todas essas histórias juvenis sobre uma “escola” para os sugadores de sangue (assim como Harry Potter era sobre uma escola para bruxos) fossem adaptadas para o cinema também, o que poderia ter feito a protagonista Zoey Deutch (filha da icônica Lea Thompson – a Lorraine do clássico ‘De Volta para o Futuro’) uma estrela do nível de Jennifer Lawrence ou Kristen Stewart. Mas o filme não deu certo e parou por aí. Uma nova tentativa em 2022 de transformar a história em uma série também não funcionou.
Tusk
E até hoje esperamos por ‘Moose Jaws’. Bem, sabemos como alguns filmes podem demorar para ser produzidos, e de acordo com o IMDB, o longa prometido por Kevin Smith está de fato em desenvolvimento. Antes um pouco de contextualização para aqueles que não conhecem essa “trilogia involuntária” do diretor de ‘O Balconista’ e ‘Dogma’. Na década passada, Kevin Smith deixava as comédias um pouco de lado e resolvia investir nos filmes de terror.
O que começou de forma séria e tensa, com ‘Seita Mortal’ (2011), descambou para algo mais exagerado em ‘Tusk – A Transformação’ – um filme onde um podcaster cai nas garras de um insano idoso e é transformado em um leão marinho. Entre todas as bizarrices do filme, dois fatores chamaram atenção: Johnny Depp como o detetive canadense Guy Lapointe; e Lily-Rose Depp e Harley Quinn Smith como as atendentes do mercadinho. Os três voltaram em ‘Yoga Hosers’, de 2016. Mas a “épica” conclusão da saga ainda não saiu do papel.
Operação Big Hero
O interessante destas listas é mesclar todo tipo de gênero cinematográfico, sem ter preconceito com nenhum quando o assunto é entretenimento. Desta forma, agora chegamos até as animações nestes dois últimos itens, gênero muito adorado pelo grande público. E o primeiro deles que não se tornou uma franquia, embora esse fosse o plano há 10 anos, foi ‘Operação Big Hero’. Hoje, você pode até dizer que não é tão difícil acreditar que uma produção Marvel / Disney fracasse e não dê continuidade à sua franquia – como os casos recentes de ‘Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania’, ‘As Marvels’ e ‘Eternos’. Mas há 10 anos, o estúdio estava a pleno vapor e isso era algo impensável.
Bem, mas aconteceu. Você lembra de ‘Operação Big Hero’? Pois bem, essa foi a única animação da parceria Marvel e Disney até hoje, que deveria não apenas ter se tornado uma franquia com novas continuações, como também aberto porta para novos filmes animados nos cinemas. Assim como ‘Guardiões da Galáxia’, a intenção era pegar personagens de quadrinhos B da editora, completamente desconhecidos do grande público, e transformá-los em fenômeno pop. Não deu muito certo, e a ideia foi levada para as telinhas em uma série animada.
As Aventuras de Peabody e Sherman
Finalizando a lista dos filmes de 10 anos atrás que eram planejados como franquias, mas que desandaram, temos agora ‘As Aventuras de Peabody e Sherman’. O mais curioso aqui é que o resultado deste se mostrou um dos mais satisfatórios e divertidos daquele ano, mas como o público não comprou a ideia, terminou minando os planos de uma eventual sequência. Aqui temos a versão moderna de um clássico desenho animado que data da década de 1960.
Na trama, temos as aventuras de dois viajantes do tempo, que vão participando e influenciando eventos históricos pelo mundo. Acontece que um deles é um cachorro super inteligente, o tal Sr. Peabody, e o outro é seu filho adotivo humano. A primeira e única versão para o cinema, no entanto, mesmo produzido pelo mesmo estúdio responsável por sucessos como ‘Shrek’, ‘Como Treinar Seu Dragão’ e ‘Madagascar’, falhou em se tornar uma franquia.