Cuidado: muitos spoilers à frente.
A aguardada série ‘Duna: A Profecia’, que funciona como pré-sequência da saga de filmes ‘Duna’ comandada por Denis Villeneuve, estreou neste último domingo (17) no catálogo da Max – expandindo o icônico cosmos sci-fi ao nos levar mais de dez mil anos antes da ascensão de Paul Atreides.
O episódio se inicia com um breve prólogo mostrando uma batalha épica entre os humanos e as Máquinas Pensantes – em um estilo que nos relembra de ‘O Exterminador do Futuro’. Não demora muito até compreendermos que a vitória dos humanos sobre a tecnologia obrigou os sobreviventes a reconstruírem o mundo em que vivem sem a ajuda de computadores e afins – temendo que as coisas voltem a acontecer de novo.
O abandono desse tipo de tecnologia é perceptível tanto nos longas-metragens quanto no episódio piloto: com exceção de máquinas de guerra como espaçonaves e armas, os computadores são inexistentes e o conhecimento é resguardado a espécies de códigos-fontes que são mantidos a sete chaves ou sob a tutela das Bene Gesserit. Percebemos, inclusive, que na cena do casamento entre a Princesa Ynez (Sarah-Sofie Boussnina) com o jovem Pruwet Richese (Charlie Hodson-Prior), um tipo de brinquedo eletrônico causa furor em meio aos convidados, relembrando-os dos problemas mortais enfrentadas por mais de um século de batalhas e de perdas.
A guerra contra as Máquinas Pensantes, inclusive, uniu as Grandes Casas contra um inimigo em comum: como revelado pela líder das Bene Gesserit, Valya Harkonnen (Emily Watson), um soldado Atreides foi responsável por garantir a vitória dos humanos sobre a tecnologia, enquanto seu avô Harkonnen fugiu da guerra e foi taxado como covarde. As Grandes Casas puniram os Harkonnen ao bani-los para o planeta Giedi Prime, enquanto a primeira Madre Superiora, Raquella (Cathy Tyson) sagrou-se como heroína e, pouco depois, treinou as Irmãs das Bene Gesserit para se tornarem Videntes – garantindo que o grupo se tornasse poderoso o suficiente às Grandes Casas para governar o futuro.
Mas o que foi essa guerra?
A batalha, também conhecida como Jihad Butleriano, Grande Revolta ou apenas Jihad, ocorreu entre os anos de 201 a.G. (antes da Guilda) e 108 a.G.. As Máquinas Pensantes funcionavam como computadores sofisticados que não tinham consciência e, dessa forma, não funcionavam como seres sencientes. Porém, tinham uma inteligência inegável que tornou os humanos dependentes e, assim, perigosos. As máquinas eram movidas por inteligência artificial e, eventualmente, se tornaram um obstáculo para o contínuo desenvolvimento da humanidade. A dependência das pessoas em relação a tecnologias avançadas culminou em um desejo de exterminar as máquinas de uma vez por todas.
A destruição dessas Máquinas culminou na criação de pessoas conhecidas como Mentats ou “computadores humanos”. Apesar de não terem papel significativo nos longas-metragens, definitivamente são mais explorados no livro – em especial o Mentat da Casa Atreides, Thufir Haward. Os Mentats são os únicos detentores de registros aceitados pelos governantes, visto que, após o fim da guerra, a tecnologia foi oficialmente banida e os registros históricos, perdidos.
Em ‘Duna: A Profecia’, as Máquinas foram proibidas pelo modo como escravizavam as pessoas a mando de nomes poderosos e ambiciosos. Entretanto, a descrição de tal tecnologia nunca foi cunhada com precisão por Frank Herbert– mas o filho de Frank, Brian, e o co-escritor Kevin J. Anderson popularizam-nas como robôs gigantes com armas. Essa ideia, inclusive, foi levada para a série live-action como forma de “didatizar” a relação entre humanos e tecnologia.
Essa complexidade e esse medo de repetir os erros de passado são explicados, também, nas primeiras cenas do episódio, em que várias Irmãs das Bene Gesserit se opõe à visão que Raquella tem de líderes reais geneticamente construídos – considerando que teriam a mesma veia dos homens que detinham as Máquinas Pensantes, brincando de deuses sem escrúpulos. Apesar de viverem sem as avançadas tecnologias criadas antes do Jihad, todos perceberam que a humanidade prosperaria e as sociedades começariam a se reerguer sem elas.
Vale lembrar que o Jihad, entretanto, não é explorado a fundo nos livros, apesar de ser mencionado brevemente em ‘Duna’ e em ‘O Messias de Duna’.