Anúncio da produção encheu os fãs de esperança mas também de reservas quanto a qualidade
Recentemente o elenco da futura adaptação cinematográfica de Dungeons & Dragons ganhou novos integrantes com as confirmações de Michelle Rodriguez e Justice Smith. Com isso, o projeto que já conta com Chris Pine e será dirigido pela dupla Johnathan Goldstein e John Francis Daley (cujo currículo é composto por comédias como o remake de Férias Frustradas e Noite de Jogo). Até o fechamento do texto não foram confirmados mais integrantes da equipe.
De imediato os nomes famosos envolvidos empolgam quanto ao possível futuro promissor do filme. Material fonte também é o que não falta, visto que D&D é uma marca muito forte e tradicional no mercado de RPG; com centenas de produtos e derivados oficiais (isto é, lançados pela atual publicadora Wizard of the Coast ou pela antiga TSR, Inc.) e outros tantos criados por fãs.
Da mesma forma que funciona com a bibliografia de Tolkien, o universo de D&D tem milhares de regras menores, mais relações culturais e históricas entre as várias raças presentes nos livros. Dessa forma, de um ponto de vista prática sobre “mestragens” de sessões, isso é muito bom pois o responsável pela mesa já tem algo com que trabalhar e os jogadores terão a sensação de estar criando um personagem para um mundo com regras já preexistentes e, portanto, um indivíduo de fato para se interpretar.
Do ponto de vista cinematográfico, em tese, essa riqueza de informações também é muito boa pois garante o excesso de material fonte. Um exemplo foi a trilogia O Senhor dos Anéis que teve três livros de tamanho considerável para adaptar em três filmes. Por outro lado, quando a limitação de material fonte é notória, tal como aconteceu com O Hobbit, os roteiristas tendem a gastar muito tempo em criar algo que complemente o pouco que já existe e não necessariamente criam algo que vá verdadeiramente encaixar naquele universo.
Não é o caso de D&D, como já dito anteriormente. No entanto, é necessário se atentar para outro fator, este ligado ao contexto geral do gênero. RPG é um jogo de interpretação, uma experiência narrativa e, acima de tudo, interativa. Não é muito diferente de um jogo de videogame, por exemplo.
Se atentando a tal comparação, é inevitável lembrar o histórico turbulento de tentativas ligadas à levar games para as telonas, onde a maior parte do que é produzido é bastante rechaçado pela crítica e fãs devido ao baixo nível técnico e distanciamento do material original. Apesar de várias análises em diferentes artigos serem feitas para tentar entender porque o gênero dos jogos coleciona tantos fracassos no cinema a ideia mais comum e aceita é a de que games são, acima de tudo, uma experiência interativa; eles são projetados desde o rascunho para comportar mecânicas voltadas a interatividade com o jogador.
É diferente de um romance que ganha uma adaptação, visto que a literatura é um campo onde o público tem uma experiência mais passiva e como observador dos eventos que se desenrolam; o cinema também traz justamente esse tipo de experiência, logo na hora de adaptação não ocorre um choque quanto a modelos diferentes.
Partindo desse pressuposto, se o gênero de RPG participar de uma nova onda de adaptações pode ser que eles sofram algo parecido com o que os videogames sofrem atualmente. Claro, vai depender muito do desempenho de D&D se esse pode ser o início de um novo subgênero. Um sucesso financeiro inesperado, não necessariamente de crítica, pode realmente incitar algo novo e abrir caminho para outras adaptações de outros cenários de RPG (Call of Cthulhu ou Cyberpunk por exemplo).
Mas, novamente, toda a experiência de um RPG é construída em torno do sistema de regras (pontos de experiência do personagem, cálculo de dano em combate, distribuição de pontos em árvores de habilidade e pela rolagem de dados multifacetados) que regem a história sendo narrada; não muito diferente do que acontece com videogames. Existe essa complicação quase invisível aí que pode dificultar a vida da adaptação de D&D e tantas outras.
Fora que essa será a segunda tentativa de trazer o famoso cenário para as telonas. A primeira foi em 2000, com uma produção que envolveu nomes como Jeremy Irons e Marlon Wayans. O filme não pagou o custo de produção e no Rotten Tomatoes ele conta com avaliações de 10% da crítica e 20% do público.