O cinema é a luz que ilumina os nossos tempos, o passado e o futuro. Pensando em dividir com você leitor, dicas e curiosidades de inúmeros cinéfilos espalhados por nosso país, criamos essa coluna semanal onde convidado amantes da sétima arte que trabalham ou não com cinema.
Nosso convidado de hoje é produtor, diretor, ator, formado em Marketing, foi fundador e curador do Brazil Cine Fest / Macaé Cine International Film Festival entre os anos de 2011 e 2015. João Rocha, sobrinho de um dos maiores diretores que o Brasil já produziu, Glauber Rocha, segue seu próprio caminho no audiovisual, que teve início tempos atrás como designer do filme indicado ao Oscar O Que é Isso, Companheiro?
1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.
Escolher uma sala de cinema por programação sempre foi difícil. A crescente difusão das redes das salas comerciais acaba fazendo adequações de mercado e de distribuição, as programações vão de acordo com as bilheterias, retorno financeiro e de mídia. Existem alguns refúgios que mantém uma programação ‘off-broadway’ com filmes que recebem pouco ou nenhum espaço de exibição, que permitem ao público alcançar produções menos parrudas, midiáticas e com narrativas menos comerciais. Valorizo muito esses locais. Aqui no Rio o Estação é um deles. O cinema Laura Alvim também.
2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
A Dança dos Vampiros de Roman Polanski e seguida O Destino do Poseidon dirigido por Ronald Neame.
3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?
Não tenho um. Tenho alguns. O australiano Baz Luhrmann, Darren Aronofsky, tem o Brian de Palma. Diretores com assinatura forte. Sei lá, não me ligo no nome de diretores. Toda mente brilhante tem altos e baixos. Ninguém é criativo o tempo todo, tampouco genial. Eu gosto de filmes, ponto! Gosto filmes para pensar, filmes para não pensar, para rir, para chorar, para sentir medo, só não gosto de filmes para cochilar. Filmes que começam, acabam e não chegam em lugar nenhum.
4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?
Vou ser nepotista, gosto do O que é isso, Companheiro?! (risos) sou o design do filme e concorremos ao Oscar, né?! Mas é difícil escolher, sou fã do cinema nacional. Nasci e cresci nos bastidores, vendo tudo acontecer. Tenho uma relação muito pessoal com quase todos. Poderia listar um monte aqui.
5) O que é ser cinéfilo para você?
É ter amor pelo cinema como um todo. Sem distinção de segmento. De gênero. É se permitir conhecer o cinema em sua totalidade e apreciar todo o universo que se relaciona direta ou indiretamente com essa maravilhosa sétima arte.
6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?
As salas de cinema são um serviço comercial, são instituições financeiras. Acho que isso já responde.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Da forma que conhecemos, sim. As telas migram mas o cinema nunca morre!
8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Irreversível (2002) escrito e dirigido por Gaspar Noé.
9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Uma pergunta difícil que exige uma resposta mais difícil ainda. Tenho opiniões divididas.
10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Somos uma das maiores potências mundiais, porque fazemos filmes incríveis com o mínimo de recursos. É como o carnaval. Avançamos muito desde a retomada e podemos avançar ainda mais quando colocarmos nosso preconceito sobre os gêneros, sobre os aspectos comerciais, sobre indústria de lado. E principalmente, quando pararmos de fazer cinema para satisfazer nossos frágeis egos.
11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.
Tem isso? Então nenhum. Vejo ‘o filme’, não vejo o artista. Até mesmo porque um filme não é a obra de uma única pessoa, é uma obra coletiva. É uma comunhão de talentos.
12) Defina cinema com uma frase.
Mágica.
13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.
Lembro quando eu era pequeno em Salvador e uma senhora pulou da cadeira e foi até a tela beijar o pé de uma personagem e começou a gritar coisas que não posso repetir aqui. Acho que era A Rosa Púrpura.
14) Defina ‘Cinderela Baiana’ em poucas palavras…
Um produto do momento, igual a tantos outros no mundo todo. Para todo filme existe um público.
15) Você é cineasta. Como você enxerga o setor audiovisual brasileiro? Há muita dificuldade em se realizar um filme e colocar ele em um cinema?
Enxergo como uma roleta russa. Fazer cinema no Brasil é um sacrifício. O incentivo é zero, o retorno quase nenhum e a exibição nos cinemas dependem de uma série de acordos, lobbies e contratos. Na verdade sempre foi assim. Atualmente existem plataformas digitais e canais de TV para assinantes, oferecendo novas possibilidades de exibição para um público muito mais abrangente, globalizado. Muita gente está voltando a produzir pensando nesses novos veículos.
16) Você acha que após a pandemia, vão haver muitos filmes com temática sobre a quarentena que o mundo vive nos dias de hoje?
Sim, com certeza! Na verdade já tem muita gente produzindo na quarentena, se adequando, falando sobre todo esse universo novo e solitário, que antes assistíamos apenas na tela grande. São experiências, sentimentos, sensações novas e que fazem parte de um momento nunca antes vivido em toda a humanidade nessas proporções. Falar sobre esse assunto é necessário para termos as impressões, os registros, as percepções de como cada um viveu e observou essa histórica pandemia.