Carregado de esperança e bom humor, ‘Caindo na Real’, nova comédia com direção de André Pellenz (‘Minha Mãe é uma Peça’) estreou no último dia 24 de outubro nos melhores cinemas do país.
Protagonizado por Evelyn Castro, que dá vida à Tina, uma carismática chapeira da periferia carioca, o longa-metragem aborda importantes assuntos da vida contemporânea. Com filmagens em Brasília e Rio de Janeiro, a comédia tem roteiro assinado por Bia Crespo e promete momentos de risos e muita confusão.
Sob a marcante presença da liderança feminina da protagonista, ‘Caindo na Real’ é uma comédia popular que também aponta para o empoderamento das pessoas. Guerreira, Tina é uma mulher inteligente e que vai em busca de seus ideais. E a atriz acredita que muitas mulheres vão se identificar e enxergar diversas semelhanças com a personagem.
Recentemente, tivemos a oportunidade de conversar com alguns membros do elenco do longa-metragem, que discutiram sobre a narrativa e sobre o legado da comédia nacional.
Durante a conversa, Victor Lamoglia, que interpreta o ambicioso príncipe Maurício na trama (que deseja de casar com Tina), revelou o que o público que ainda não assistiu ao filme pode esperar.
“Olha, eu acho que você vai ser soterrado de momentos engraçados. Eu sou apaixonado pelo que a Evelyn faz de miudezas, de fala. Ela faz isso muito bem. Então, sempre que você puder ouvir o que ela está falando, é maravilhoso. Às vezes, ela sussurra um negócio e aquilo é muito engraçado. Eu gosto muito”, ele disse.
Lamoglia, que começou sua carreira como youtuber e ganhou fama com produções como ‘Tudo por um Popstar’ e o programa de esquetes ‘Zorra’, tem um feeling necessário para comédia e, por essa razão, costuma ter a liberdade de fazer alterações em falas de seu personagem (como improvisos) – mas sempre em conjunto com o time de roteiristas.
“Eu sempre valorizo o trabalho da pessoa que escreveu o filme. Como eu estudei um pouco de roteiro também, entendo o que posso mudar, o que posso alterar”, ele afirmou. “E tento entender que eu estou dando vida àquele personagem. Aquela pessoa escreveu todas as cenas, todos os personagens. Acho que, quando o ator chega e consegue somar junto ao roteirista, é muito legal, porque eu vou trazer vida para algo que está dentro daquela pessoa. E eu gosto de trazer isso improvisando. Quando eu percebo que entendi de fato aquele personagem, consigo improvisar. E, assim, ainda não tive problema com isso. Não teve ninguém que ficou chateado, até porque eu acho que eu tenho um mínimo de noção. Mas a gente tinha essa liberdade. Tinha dias que a gente estava mais aberto a isso, tinha dia que não, mas sempre existe essa abertura”.
Lamoglia continua: “inclusive, recentemente, eu estava assistindo a uma cena de um projeto que eu fiz. ‘Eduardo e Mônica’, uma cena no ônibus, eu e o Gabriel Leone. A gente fez algumas vezes o último take e o diretor falou: ‘coloca na cabeça de vocês aí e falem o que quiserem, inventem, mudem o texto inteiro. Vocês sabem o que que é para fazer? Vocês sabem’. A mensagem que a gente precisa falar é basicamente a que foi para o ar. Foi 90% dessa cena que a gente improvisou, e eu gosto muito disso”.
Paula Frascari, uma das outras atrizes do filme, interpreta a aspirante à segurança e melhor amiga de Tina, Cidão, funcionando como uma espécie de alívio cômico do alívio cômico dentro da estrutura da narrativa.
Frascari agradeceu à oportunidade de participar do projeto, mas confessa que ficou preocupada em dividir as telonas com nomes muito fortes da comédia contemporânea nacional.
“Fiquei muito, muito grata de ter feito o filme. Mas eu entrei muito rápido, e o processo também foi muito rápido. Tanto que a gente estava ainda descobrindo quem ela era, feminina e masculina, e agente secreta e sem noção. Será que ela é isso tudo? Será que ela é só uma segurança? [Pellenz] até me deu a dica de assistir a ‘Segurança de Shopping’. Obviamente, não tinha como eu copiar, mas acho que na questão das pequenas autoridades que se acham. E ela tem isso. Eu acho que é a única forma que alguém olharia para ela, sabe? Ela, com um radinho, dando ordens. E acho que o diferencial dela é que mistura essa coisa durona, que é uma personagem que ela criou na cabeça, mas ao mesmo tempo é frágil e delicada, e é uma amiga verdadeira da Tina. Ela vai lá e a defende, acho isso lindo”, ela conta.
A atriz acrescenta: “o legal desse filme é que o elenco é muito diferente um do outro – e cada um tem um tipo de humor. Apesar de eu não me achar engraçada, mas cada um tem um humor diferente e acho que é isso que deu a bossa. Mas eu fiquei enlouquecida. Até hoje, se você me perguntar: ‘quem é Cidão?’. Não sei, não sei. Ficou a vontade de colocar uns cacoetes, sabe? Mas acho que, de repente, poderia ter estragado a personagem”.
Em relação à liberdade criativa, Frascari revelou que preferiu seguir “à risca o texto. E, como foi uma personagem que já estava me deixando enlouquecida, porque eu não sabia quem ela era… Acho que, quando relaxei, ela veio. […] Eu estava completamente perdida. Mas depois eu falei assim: ‘quer saber? Eu acho que essa é a Cidão. É isso, não tem certo ou errado”.
A protagonista do longa, Castro, permanece como um dos principais nomes da comédia atual – e, pouco depois de ter estrelado ‘Evidências do Amor’, ela retornou ao gênero com ‘Caindo na Real’. Quando questionada o que torna um filme cômico bom, ela respondeu:
“É a música. Primeiro que este filme, se você ver, é um filme sem trilha. Eu converso muito com meu filho sobre isso. Eu falo: ‘tá vendo essa cena? Imagina ela sem nada aí’. Aí ele diz: ‘caramba, mamãe!’. Pois é, a música é tudo. Ela vai te dar atenção, ela vai te dar um romance, ela vai te dar emoção. Tem cena que está ali, te dando acorde de uma música. Já a piada é a mesma coisa. Ela é uma música. Se você me perguntar, eu sei exatamente quando eu perco a piada. E se você me perguntar: ‘por quê? Como você sabe?’. Eu não sei te dizer. Às vezes é um tempo que deixei a mais. É um tempo que se esgarçou. ‘Ah, por que ele fala assim?’. Não sei te dizer. Mas eu já me perguntei isso, eu sei exatamente se eu perdi alguma coisa no filme. Eu falei. Queria ter feito de novo. É isso. Daí ficou bom. E a edição me ajudou”.
Castro acrescenta: “também tem que ser uma galera que está ali com você. Quer ver um exemplo? Vou falar até fora do filme – [vou falar] do seriado ‘Encantados’, que é a loucura. Aquilo ali, a gente faz e pensa: ‘Meu Deus, como você me entende dessa forma?’. É sobre isso. É uma música. E se você perde o tom? E se você perde o ritmo do que você está ali? Por isso que tem a jogada, né? É muito importante ver quem está com você em cena, e acho que é por isso que as pessoas falam: ‘eu adoro você com Fulano’. A comédia não precisa estar no texto. Às vezes, é só numa pausa e você já está rindo. É isso”.
Aproveitamos o momento, também, para perguntar a ela o que ela pretende deixar como legado dentro desse cenário criativo:
“Eu pretendo deixar muita liberdade, porque eu me incomodo todos os dias. E isso é uma pergunta muito difícil. Eu acho que é a liberdade, porque eu me incomodo todos os dias com o que eu estou fazendo. Eu entreguei esse filme. Aí eu estou lá, fazendo Encantados. Agora eu estou no processo com a Maria Augusta. Ah, isso é muito subúrbio, é carnaval e eu amo estar ali. E todo mundo ri. Você vê a equipe rindo das cenas, a gente ri dos amigos e é muito engraçado. Só que então eu penso: ‘gente, eu estou fazendo a mesma coisa, estou indo no time que está ganhando. Eu preciso trazer alguma coisa diferente’”.
“As pessoas esperam muito. O que a gente faz, né? E como a gente ama o que faz, a gente quer dar isso para vocês também. Então, é difícil demais, porque a gente fala ‘tá bom, vou te dar isso aqui, eu quero fazer você rir’ Isso é bom também. Não é ruim. É meu ofício. Mas eu estou nesse incômodo”, ela acrescentou. “Cara, você me pegou, agora. Estou vivendo esse incômodo e estou buscando coisas diferentes. Talvez por isso estou assistindo a tanto true crime. Estou vendo séries assim, ‘cabeça’. Estou vendo coisas que mexem com terror psicológico, também. Se tira o humor, é aí que vem as novidades”.
Lembrando que o filme continua em exibição nos cinemas nacionais.