Depois do sucesso de A Morte Te Dá Parabéns (2017) – que já tem a estreia da sequência marcada para o dia 21 de fevereiro no Brasil -, a carismática atriz Jessica Rothe saiu do gênero terror para protagonizar um romance do diretor estreante Bethany Ashton Wolfy: A Minha Garota Para Sempre, adaptação do livro homônimo de Heidi McLaughlin. Ao lado de Alex Roe, seu par romântico no longa, ela vive a doce Josie em uma história sobre reencontros, perdão e segundas chances. No entanto, apesar da premissa bonita, o filme aparece como mais uma história de amor esquecível por apresentar um roteiro raso e exagerar na dose de açúcar (até demais!).
A trama começa no dia do casamento de Josie e Liam (Alex Roe) na pequena cidade de Saint Augustine. Namorados desde os tempos do colégio – ela, líder de torcida; ele, quarterback -, eles parecem o típico casal perfeito, que nasceu para ficar junto. Porém, para a surpresa de todos, o rapaz simplesmente não aparece no dia do casório e pede para o seu melhor amigo transmitir o recado para a noiva faltando pouco tempo para a cerimônia acontecer. Isso tudo porque, depois de estourar como cantor nas rádios, ele decide deixar tudo para trás para investir na carreira da música country (e, sim, “por que não levar a namorada/futura esposa?” é uma pergunta que também me fiz). Assim, nos vemos diante de uma Josie totalmente perplexa pelo abandono inesperado pouco antes do filme nos indicar um salto temporal de oito anos – quando Liam Page já está famoso e bem-sucedido no caminho que escolheu, mas com uma personalidade difícil, introspectiva e apenas com relacionamentos vazios e passageiros com garotas que conhece em seus shows ou em alguma festa.
Aos poucos, fica claro que, desde que saiu de Saint Augustine no dia do casamento que não foi realizado, Liam nunca mais pisou na cidade. No entanto, a trágica morte de seu melhor amigo da época (o mesmo que comunicou que o casório não aconteceria) faz com que ele precise retornar às origens para dar um último adeus – e, a partir daí, não é preciso ser nenhum expert em romances para saber que seu retorno trará um reencontro e uma reaproximação com Josie, a ex-noiva. A princípio, ainda muito magoada com o abandono, ela se recusa a falar com Liam e chega a lhe aplicar um soco daqueles no final do enterro – atitude que aparece de uma forma até meio infantil na cena, dado o trauma que um abandono no altar pode causar e considerando o fato de Josie estar há quase 10 anos sem nenhuma explicação. Mas, ao confessar para o ex-noivo que sua pequena filha Billy (vivida pela supertalentosa – e fofa! – Abby Ryder Fortson) é mesmo dele, as barreiras começam a ser quebradas e os dois passam a se reaproximar aos poucos para, talvez, escreverem uma nova história.
Só pelo enredo, já dá para saber que Forever My Girl (título original) não é um filme que pretende surpreender os espectadores com reviravoltas e profundidade no comportamento dos personagens. Ele se assume como um romance água-com-açúcar e tem mesmo a intenção de agradar os fãs de Nicholas Sparks e de outros estilos com essa pegada mais clichê. No entanto, mesmo aceitando o seu objetivo, não dá para defender alguns defeitos que insistem em gritar ao longo de toda a trama – como a falta de química do casal protagonista, por exemplo. Por mais que os dois atores se encaixem no perfil de seus respectivos personagens, eles parecem não funcionar juntos, muito por conta dos diálogos rasos demais e da rapidez com que se envolvem novamente depois da pesada separação oito anos antes. Sendo assim, mesmo nos momentos fofos, em que teoricamente todo o público torce pelo casal, não estranhe se for pego por uma onda de indiferença pelo que acontece em cena.
Além disso, algumas conveniências de roteiro também incomodam – como o fato do astro Liam Page ter apenas um celular antigo, de oito anos atrás, sendo uma pessoa pública em plena era tecnológica. Tudo bem: dá para entender que ele mantém o aparelho para ouvir a mensagem que Josie deixou na caixa postal depois do abandono no altar (por mais que seja meio difícil imaginar que um celular resista tanto tempo assim), mas o cantor poderia deixá-lo apenas como reserva e ter uma versão mais recente para que outros personagens não precisassem ressaltar o tempo todo como era chocante ele ainda usar “aquele aparelho surrado” e para que não parecesse um furo de roteiro o momento em que seu empresário pede para ele tirar selfies durante seu tempo em Saint Augustine (se ele só tinha aquele celular sem nenhum desses artifícios, como faria?).
Outro detalhe que incomoda são os motivos rasos que fazem o personagem querer largar quem ele diz ser o amor de sua vida: se, na época da juventude, a ambição pela carreira já não convence tanto assim, nos tempos atuais, fica ainda mais difícil aceitar que Liam deixaria de tentar construir uma família apenas por não ter reagido da maneira certa no momento em que sua pequena filha precisou da sua ajuda (e a cena em questão não chega nem perto de conseguir gerar a tensão que tenta incitar no público). Chega a dar vontade de sacudir Josie por estar se envolvendo com alguém que decide fugir diante de qualquer obstáculo que aparece…
O mérito, por sua vez, fica por conta do carisma da pequena atriz que interpreta Billy – que rouba a cena no filme, principalmente nos momentos em que canta com o pai – e da mensagem sobre perdão e recomeços que a trama tenta passar, ainda que de forma (bem) rasa. Também não dá para deixar de dizer que, apesar do açúcar em excesso e dos demais defeitos, A Minha Garota Para Sempre não chega nem perto de ser uma experiência torturante durante suas quase duas horas de duração; mas, depois dos créditos subirem na tela, sua experiência provavelmente será substituída pelo próximo longa mais ou menos interessante que for assistido. Com tudo isso, ao contrário do título que remete a um amor eterno, só consigo lembrar da música da Ariana Grande ao pensar na produção como um todo: “Thank you, next!“.