Mais um Found Footage sem graça
O subgênero do found footage continua recebendo sinal verde para alimentar produções de terror. Atualmente, no entanto, raros são os casos dos que dão certo. Ou seja, dentre dez obras, uma consegue inovar no batido estilo, acrescentando frescor à mistura. Não é o caso com este Continue Assistindo (Keep Watching) – que tudo o que faz é juntá-lo ao igualmente ultrapassando torture porn.
Com roteiro do estreante Joseph Dembner, a história é reciclada de diversas outras produções, sem qualquer graça ou diferencial. Na trama, uma típica família americana é atormentada por sádicos psicopatas mascarados, que filmam todos os seus atos com intuito de publicá-los na internet, onde possuem espectadores ávidos por este tipo de material.
O que chama atenção mesmo é o elenco que Sean Carter (assistente de direção em O Massacre da Serra Elétrica – O Início, 2006), debutando como diretor, conseguiu angariar para seu longa. Temos, por exemplo, Ioan Gruffudd (o Senhor Fantástico dos filmes do Quarteto Fantástico da década passada), Natalie Martinez (Marcados para Morrer e Linha de Ação), Chandler Riggs (o Carl Grimmes, da série The Walking Dead) e Leigh Whannell, a mente por trás das franquias Jogos Mortais e Sobrenatural. Whannell é responsável também pelo recente Upgrade, elogiado terror tecnológico, ainda inédito no Brasil. Ah sim, temos a protagonista, vivida pela it girl Bella Thorne – até aceitável aqui, muito diferente do robótico desempenho no romance Sol da Meia Noite.
Esse elenco B de Hollywood, porém, sofre com a falta do que fazer, precisando apenas correr de um lado para o outro, gritar, sangrar e morrer. Triste. Este é o tipo de filme fácil de fazer, rápido de lançar e embolsar uma pequena quantia, mas que depois todos querem esconder de seus currículos.
A pseudo seriedade é risível. O espectador com mais de dois neurônios instantaneamente questionará e rejeitará os “rombos” (e não furos) no roteiro. Somos pedidos para aceitar, por exemplo, uma operação de espionagem de alto nível realizada pelos psicopatas, que gastam muito tempo e dinheiro para investigar as vidas de suas vítimas. O propósito não me pergunte, já que os ataques são a esmo, dependendo muito mais do calor do momento do que de algo premeditado e controlado.
Nada é explicado. De onde vem o financiamento para os atos? Aonde as atrocidades são exibidas? São jogadas online para qualquer um, é necessário pagar ou ter acesso a uma área secreta? Por que a polícia não investiga essas ações? Quem são os tais espectadores? Os criminosos estão operando há quanto tempo? Bom, talvez eu esteja me esforçando muito para tirar algum sentido disso tudo. Seja como for, Continue Assistindo tampouco entretém, já que não entrega nada que já não estejamos cansados (e muito!) de assistir repetidamente. Portanto, realmente não conseguimos entender o motivo destes nomes terem aceitado embarcar nesta tranqueira.
Lançado pela Sony no Brasil, dá para entender porque a distribuidora quis esconder a produção no meio de seu acervo de home vídeo. A obra se manteve sigilosa enquanto pôde, e assim como ocorreu com o recente A Vingança Perfeita, com Margot Robbie, o motivo fica claro uma vez que assistimos a estes longas. Bella Thorne tenta de toda a forma pegar para si a alcunha de nova Scream Queen – ou a rainha do grito (heroína de filmes de terror) -, o problema são os filmes que ela tem escolhido estrelar, que podem terminar manchando seu currículo. Uma curiosidade é que a arte no cartaz precisou trocar os balões originalmente vermelhos para novos de cor amarela e preta. O motivo: os famosos balões vermelhos do vilão Pennywise, do sucesso It: A Coisa. Veja abaixo.
Continue Assistindo só é recomendado para o maior aficionado por terror e o entusiasta mais irremediável dos subgêneros found footage e torture porn. Os demais fãs podem passar bem sem esta.
