sábado , 2 novembro , 2024

Em Home Vídeo | Distúrbio – Steven Soderbergh cria jogo psicológico com Claire Foy

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Uma perspectiva sob o domínio do medo

Antes da própria história que aborda temas importantíssimos, como abuso de poder e feminicídio, o chamariz de Distúrbio (no original, Unsane) é a ousadia de Steven Soderbergh em filmar durante 10 dias com um iPhone Plus 7. Dessa forma, o recurso é um diferencial em cenas nas quais a câmera acompanha a protagonista Sawyer Valentini (Claire Foy) como se fosse uma selfie, focando as expressões desassossegadas da atriz.

A câmera, nesta perspetiva, transmite um pouco da agonia vivida por Sawyer, uma vez que ela se mudou recentemente de Boston para a Pennsylvania a fim de fugir de seu perseguidor. Com a paranoia de estar sempre sendo perseguida, a jovem se torna pouco sociável e vive em confronto consigo mesma sobre o que é real ou uma farsa de sua mente.

Já na primeira cena, observamos um desconfortante momento em que o atual chefe de Sawyer tenta persuadi-la a ir numa viagem a trabalho com ele e, consequentemente, passar a noite juntos. Para coagi-la, ele coloca sob julgamento o desempenho dela na empresa, caso não aceite a “oferta”.

Em um momento em que a internet compartilha diversos fatos sobre abusos constantes vividos pelas mulheres no trabalho, na escola, na rua, etc, a cena é quase uma tortura mental. Com esse pontapé inicial, os acontecimentos prosseguem cada vez mais obscuros.

Ao procurar ajuda em um clínica psiquiátrica, Sawyer acaba internada contra a vontade e, para piorar, o seu stalker trabalha no mesmo local ou, pelo menos, ela acredita vê-lo por lá. A partir dessa dúvida, se constrói uma trama com diferentes ramificações e resoluções macabras.

É possível traçar um paralelismo com Terapia de Risco (Side Effects, 2013), obra recente do mesmo diretor, que abordava problemas mentais. Lá, a história caminhava para ser um grande suspense envolvendo a indústria farmacêutica de antidepressivos, no entanto, no meio do caminho acaba por ser um jogo de sedução e traição sem maiores efeitos.

O risco de Distúrbio traçar o mesmo engano fica sempre na iminência, no entanto, o enredo desenvolve-se mais pautado no perigo real do que no mental. Assim, o pavor de Sawyer não é apenas uma ilusão, mas o filme abre também a discussão sobre as instituições mentais e seus reais objetivos com os pacientes.

A narrativa de Sawyer, portanto, é entrecortada com o seu maior aliado Nate Hoffman (Jay Pharoah), um jornalista disfarçado, que investiga os motivos dos pacientes estarem naquele local e sob aquelas circunstâncias. Além da ameaça do seu perseguidor, ela ainda lida com seus colegas de quarto visivelmente desequilibrados, tendo como principal desafeto Violet (Juno Temple). Aliás, Temple é sempre ótima em personas fora da realidade, vide Killer Joe (2011) e As Delícias da Tarde (2013).

Aos poucos, o passado de terror da personagem vai se desvelando e o pavor do presente torna-se muito mais palpável. Com o ímpeto de alarmar o espectador, Claire Foy imprime um ar diabólico em certo momento e confronta o seu abusador de forma visceral, abandonando o papel de vítima parar resolver o seu destino custe o que custar.

Com um misto de revolta e expectativa de um momento de redenção, Distúrbio ainda conta com a curta participação de Matt Damon (Pequena Grande Vida) na pele de um oficial da polícia que dá conselhos a Sawyer de como deve seguir a vida após ter emitido uma ordem de restrição contra uma pessoa. Seus conselhos são de revirar os olhos, não é à toa que a protagonista foge.

Ao término, Soderbergh realmente constrói um tom de aprisionamento com sua câmera centrada no rosto e desespero de Foy. Com a proposta de lidar com os assuntos de sanidade mental, esquema de corrupção, assassinatos e abusos psicológicos, entretanto, os roteiristas escorregam, deixam alguns personagens perdidos e configuram características inesperadas a outros.

Distúrbio é um filme para colocar o espectador em uma situação de desconforto, incerteza e mantê-lo ludibriado durante seus 98 minutos. Vale a reflexão sobre como é ser desacreditado e aprisionado pelo medo, assim como alguns traumas podem perpetuar por anos, conforme o final desse embaraçado suspense.

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A câmera, nesta perspetiva, transmite um pouco da agonia vivida por Sawyer, uma vez que ela se mudou recentemente de Boston para a Pennsylvania a fim de fugir de seu perseguidor. Com a paranoia de estar sempre sendo perseguida, a jovem se torna pouco sociável e vive em confronto consigo mesma sobre o que é real ou uma farsa de sua mente.

Já na primeira cena, observamos um desconfortante momento em que o atual chefe de Sawyer tenta persuadi-la a ir numa viagem a trabalho com ele e, consequentemente, passar a noite juntos. Para coagi-la, ele coloca sob julgamento o desempenho dela na empresa, caso não aceite a “oferta”.

Em um momento em que a internet compartilha diversos fatos sobre abusos constantes vividos pelas mulheres no trabalho, na escola, na rua, etc, a cena é quase uma tortura mental. Com esse pontapé inicial, os acontecimentos prosseguem cada vez mais obscuros.

Ao procurar ajuda em um clínica psiquiátrica, Sawyer acaba internada contra a vontade e, para piorar, o seu stalker trabalha no mesmo local ou, pelo menos, ela acredita vê-lo por lá. A partir dessa dúvida, se constrói uma trama com diferentes ramificações e resoluções macabras.

É possível traçar um paralelismo com Terapia de Risco (Side Effects, 2013), obra recente do mesmo diretor, que abordava problemas mentais. Lá, a história caminhava para ser um grande suspense envolvendo a indústria farmacêutica de antidepressivos, no entanto, no meio do caminho acaba por ser um jogo de sedução e traição sem maiores efeitos.

O risco de Distúrbio traçar o mesmo engano fica sempre na iminência, no entanto, o enredo desenvolve-se mais pautado no perigo real do que no mental. Assim, o pavor de Sawyer não é apenas uma ilusão, mas o filme abre também a discussão sobre as instituições mentais e seus reais objetivos com os pacientes.

A narrativa de Sawyer, portanto, é entrecortada com o seu maior aliado Nate Hoffman (Jay Pharoah), um jornalista disfarçado, que investiga os motivos dos pacientes estarem naquele local e sob aquelas circunstâncias. Além da ameaça do seu perseguidor, ela ainda lida com seus colegas de quarto visivelmente desequilibrados, tendo como principal desafeto Violet (Juno Temple). Aliás, Temple é sempre ótima em personas fora da realidade, vide Killer Joe (2011) e As Delícias da Tarde (2013).

Aos poucos, o passado de terror da personagem vai se desvelando e o pavor do presente torna-se muito mais palpável. Com o ímpeto de alarmar o espectador, Claire Foy imprime um ar diabólico em certo momento e confronta o seu abusador de forma visceral, abandonando o papel de vítima parar resolver o seu destino custe o que custar.

Com um misto de revolta e expectativa de um momento de redenção, Distúrbio ainda conta com a curta participação de Matt Damon (Pequena Grande Vida) na pele de um oficial da polícia que dá conselhos a Sawyer de como deve seguir a vida após ter emitido uma ordem de restrição contra uma pessoa. Seus conselhos são de revirar os olhos, não é à toa que a protagonista foge.

Ao término, Soderbergh realmente constrói um tom de aprisionamento com sua câmera centrada no rosto e desespero de Foy. Com a proposta de lidar com os assuntos de sanidade mental, esquema de corrupção, assassinatos e abusos psicológicos, entretanto, os roteiristas escorregam, deixam alguns personagens perdidos e configuram características inesperadas a outros.

Distúrbio é um filme para colocar o espectador em uma situação de desconforto, incerteza e mantê-lo ludibriado durante seus 98 minutos. Vale a reflexão sobre como é ser desacreditado e aprisionado pelo medo, assim como alguns traumas podem perpetuar por anos, conforme o final desse embaraçado suspense.

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