quinta-feira , 27 fevereiro , 2025

Em Home Vídeo| Intimidade Entre Estranhos – Solidão é o elo deste triângulo amoroso


Quem conhece o trabalho de Matheus Souza já sabe que filmes que abordam a temática de relacionamentos são o seu forte. Sua estreia no roteiro e direção em 2008, com o longa independente Apenas o Fim, é a prova viva disso: com referências a Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004) e inspirado em Antes do Amanhecer (1995) e Nosso Amor do Passado (2006), ele é todo focado no diálogo entre um casal que está chegando ao final de sua jornada. Já desta vez, assinando apenas o roteiro, ele faz parceria com o diretor José Alvarenga Jr. para mostrar um triângulo amoroso entre os únicos três moradores de um prédio solitário no Rio de Janeiro. Intimidade Entre Estranhos é o nome do longa – e, inclusive, da música feita por um dos personagens, que funciona quase como um resumo explicativo sobre toda a melancólica história.

A trama se inicia quando Maria (Rafaela Mandelli) volta para o Rio de Janeiro, sua cidade natal, após passar anos morando em São Paulo para acompanhar o marido Pedro (Milhem Cortaz) em seu novo trabalho de ator em uma minissérie. No apartamento alugado pelos dois, o terceiro e único morador é um jovem garoto solitário – Horácio (Gabriel Contente) -, que perdeu os pais em um acidente de carro quando ainda era criança e a avó, que o criou, devido à doença de Alzheimer. Síndico do prédio por ser o único herdeiro da família dona do imóvel, ele inicialmente bate de frente com a nova moradora por alegar que ela não respeita as regras do local – com práticas como ouvir som alto e entrar com roupa de banho pela entrada principal, por exemplo. Porém, com o passar do tempo, os dois acabam se aproximando e criando um vínculo que ultrapassa o da inocente amizade para se tornar uma forte atração – principalmente da parte do “menino”, como Maria costumava chamá-lo, por ser muito sozinho e encontrar na inquilina seu único contato com o mundo externo.



intimidade entre estranhos cinepop4

Tudo começa quando Maria e Pedro passam a se afastar cada vez mais por conta da rotina de gravações da minissérie e da ambição dele para se tornar um ator respeitado. Em meio a uma das brigas intensas, ela acaba encontrando o garoto quando corre para o terraço do prédio e os dois passam a deixar as diferenças de lado para dividir seus medos, frustrações e a perceber que a forte solidão e a depressão eram companheiras em comum de ambos. Ainda que não ficasse reclusa como Horácio e não tivesse tantas mortes trágicas na família, Maria também lidava com uma tristeza profunda por ter presenciado o suicídio do seu pai na infância – que, assim como a avó de Pedro, também tinha Alzheimer e acabou se enforcando no apartamento em que morava com a praia de Copacabana ao fundo. Por causa disso, estar no Rio de Janeiro, ainda que temporariamente por conta das gravações da minissérie, era um sacrifício para a personagem de Rafaela Mandelli pelo fato das memórias dessa trágica cena acentuarem seu estado depressivo. E assim, para não se sentir sozinha pela distância cada vez maior de Pedro, ela passa a encontrar o garoto todas as tardes para conversar sobre a vida e ouvir suas composições musicais – ou músicas que nem são dele (como 50 Receitas, de Leoni), mas que ele inventa que são para impressionar a mulher que, à esta altura do campeonato, já se tornou a garota dos seus sonhos.

Curiosamente, a terceira peça deste triângulo, Pedro, também tem seus próprios fantasmas internos para combater. No seu caso, por não saber lidar com a pressão de se tornar um ator conceituado e com as frustrações que vêm junto com a carreira, ele acaba virando alcoólatra e passa a enfrentar uma luta diária para ficar longe da bebida – o que nem sempre acontecia, no fim das contas, como fica claro em alguns importantes momentos do longa. E no meio disso tudo, para ilustrar toda a melancolia dos três protagonistas ao longo do filme, são os tons de azul que predominam nas cenas; desde a piscina do prédio que é destaque na trama e funciona quase como um personagem, às paredes do apartamento e demais objetos que ajudam a compor a mise-en-scène. Outro detalhe que diz muito sobre Intimidade Entre Estranhos é a referência à Beleza Americana já no pôster e na parte em que Pedro joga pétalas de rosas em Maria enquanto ela está boiando sozinha na piscina: é que, não por acaso, os dois filmes falam sobre solidão, fantasmas internos e têm um personagem mais novo se envolvendo com outro com uma grande diferença de idade.


intimidade entre estranhos cinepop3

No entanto, apesar dessas semelhanças que remetem ao filme ganhador do Oscar de 2000, a principal inspiração para o diretor José Alvarenga Jr. foi o longa Verão 42 (1971), o romance musical Apenas Uma Vez (2007) e uma canção do cantor Leoni em parceria com Frejat – o que explica bem o porquê da música ter importante participação no decorrer da trama, principalmente no final, quando “Intimidade Entre Estranhos”, composta por Horácio, ilustra bem como foi o relacionamento dos três no prédio e nos faz entender o sentido dúbio do título. Em uma livre leitura do nome do longa, “estranhos” pode se referir tanto a “desconhecidos”, considerando o início da relação entre Maria e o garoto, quanto fazer uma referência aos problemas internos de cada um, que fazem com que eles possam ser vistos como “esquisitos/problemáticos” por outras pessoas – mas não por nós, espectadores, que por mérito do roteiro, direção e das atuações convincentes de Rafaela Mandelli, Milhem Cortaz e Gabriel Contente nos sentimos cúmplices deste triângulo e conseguimos entender (quase todas) as fraquezas dos três.

Desta forma, por mais que a trajetória de um dos personagens possa ser justamente questionada no final, é bom ver cada um no “happy ending” que parece ideal para o seu modo de vida e, ao menos, para o preenchimento da solidão e da rejeição – medos claramente divididos entre o trio. E assim, com poucas câmeras e cenários simples, Intimidade Entre Estranhos termina nos entregando uma interessante análise intimista sobre a doação em relacionamentos, depressão e, principalmente, sobre a melancolia de se sentir só, mesmo em uma cidade como o Rio de Janeiro, onde a felicidade parece quase obrigação. O prédio, a piscina  e as caixas que não param de chegar no apê de Maria e Pedro – que podem facilmente simbolizar os problemas que começam a aparecer para o casal – são as principais testemunhas… E, no fim de tudo, nós também.


Assista:
YouTube video

Mais notícias...

Siga-nos!

2,000,000FãsCurtir
372,000SeguidoresSeguir
1,620,000SeguidoresSeguir
200,000SeguidoresSeguir
162,000InscritosInscrever

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

MATÉRIAS

CRÍTICAS

Em Home Vídeo| Intimidade Entre Estranhos – Solidão é o elo deste triângulo amoroso

Quem conhece o trabalho de Matheus Souza já sabe que filmes que abordam a temática de relacionamentos são o seu forte. Sua estreia no roteiro e direção em 2008, com o longa independente Apenas o Fim, é a prova viva disso: com referências a Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004) e inspirado em Antes do Amanhecer (1995) e Nosso Amor do Passado (2006), ele é todo focado no diálogo entre um casal que está chegando ao final de sua jornada. Já desta vez, assinando apenas o roteiro, ele faz parceria com o diretor José Alvarenga Jr. para mostrar um triângulo amoroso entre os únicos três moradores de um prédio solitário no Rio de Janeiro. Intimidade Entre Estranhos é o nome do longa – e, inclusive, da música feita por um dos personagens, que funciona quase como um resumo explicativo sobre toda a melancólica história.

A trama se inicia quando Maria (Rafaela Mandelli) volta para o Rio de Janeiro, sua cidade natal, após passar anos morando em São Paulo para acompanhar o marido Pedro (Milhem Cortaz) em seu novo trabalho de ator em uma minissérie. No apartamento alugado pelos dois, o terceiro e único morador é um jovem garoto solitário – Horácio (Gabriel Contente) -, que perdeu os pais em um acidente de carro quando ainda era criança e a avó, que o criou, devido à doença de Alzheimer. Síndico do prédio por ser o único herdeiro da família dona do imóvel, ele inicialmente bate de frente com a nova moradora por alegar que ela não respeita as regras do local – com práticas como ouvir som alto e entrar com roupa de banho pela entrada principal, por exemplo. Porém, com o passar do tempo, os dois acabam se aproximando e criando um vínculo que ultrapassa o da inocente amizade para se tornar uma forte atração – principalmente da parte do “menino”, como Maria costumava chamá-lo, por ser muito sozinho e encontrar na inquilina seu único contato com o mundo externo.

intimidade entre estranhos cinepop4

Tudo começa quando Maria e Pedro passam a se afastar cada vez mais por conta da rotina de gravações da minissérie e da ambição dele para se tornar um ator respeitado. Em meio a uma das brigas intensas, ela acaba encontrando o garoto quando corre para o terraço do prédio e os dois passam a deixar as diferenças de lado para dividir seus medos, frustrações e a perceber que a forte solidão e a depressão eram companheiras em comum de ambos. Ainda que não ficasse reclusa como Horácio e não tivesse tantas mortes trágicas na família, Maria também lidava com uma tristeza profunda por ter presenciado o suicídio do seu pai na infância – que, assim como a avó de Pedro, também tinha Alzheimer e acabou se enforcando no apartamento em que morava com a praia de Copacabana ao fundo. Por causa disso, estar no Rio de Janeiro, ainda que temporariamente por conta das gravações da minissérie, era um sacrifício para a personagem de Rafaela Mandelli pelo fato das memórias dessa trágica cena acentuarem seu estado depressivo. E assim, para não se sentir sozinha pela distância cada vez maior de Pedro, ela passa a encontrar o garoto todas as tardes para conversar sobre a vida e ouvir suas composições musicais – ou músicas que nem são dele (como 50 Receitas, de Leoni), mas que ele inventa que são para impressionar a mulher que, à esta altura do campeonato, já se tornou a garota dos seus sonhos.

Curiosamente, a terceira peça deste triângulo, Pedro, também tem seus próprios fantasmas internos para combater. No seu caso, por não saber lidar com a pressão de se tornar um ator conceituado e com as frustrações que vêm junto com a carreira, ele acaba virando alcoólatra e passa a enfrentar uma luta diária para ficar longe da bebida – o que nem sempre acontecia, no fim das contas, como fica claro em alguns importantes momentos do longa. E no meio disso tudo, para ilustrar toda a melancolia dos três protagonistas ao longo do filme, são os tons de azul que predominam nas cenas; desde a piscina do prédio que é destaque na trama e funciona quase como um personagem, às paredes do apartamento e demais objetos que ajudam a compor a mise-en-scène. Outro detalhe que diz muito sobre Intimidade Entre Estranhos é a referência à Beleza Americana já no pôster e na parte em que Pedro joga pétalas de rosas em Maria enquanto ela está boiando sozinha na piscina: é que, não por acaso, os dois filmes falam sobre solidão, fantasmas internos e têm um personagem mais novo se envolvendo com outro com uma grande diferença de idade.

intimidade entre estranhos cinepop3

No entanto, apesar dessas semelhanças que remetem ao filme ganhador do Oscar de 2000, a principal inspiração para o diretor José Alvarenga Jr. foi o longa Verão 42 (1971), o romance musical Apenas Uma Vez (2007) e uma canção do cantor Leoni em parceria com Frejat – o que explica bem o porquê da música ter importante participação no decorrer da trama, principalmente no final, quando “Intimidade Entre Estranhos”, composta por Horácio, ilustra bem como foi o relacionamento dos três no prédio e nos faz entender o sentido dúbio do título. Em uma livre leitura do nome do longa, “estranhos” pode se referir tanto a “desconhecidos”, considerando o início da relação entre Maria e o garoto, quanto fazer uma referência aos problemas internos de cada um, que fazem com que eles possam ser vistos como “esquisitos/problemáticos” por outras pessoas – mas não por nós, espectadores, que por mérito do roteiro, direção e das atuações convincentes de Rafaela Mandelli, Milhem Cortaz e Gabriel Contente nos sentimos cúmplices deste triângulo e conseguimos entender (quase todas) as fraquezas dos três.

Desta forma, por mais que a trajetória de um dos personagens possa ser justamente questionada no final, é bom ver cada um no “happy ending” que parece ideal para o seu modo de vida e, ao menos, para o preenchimento da solidão e da rejeição – medos claramente divididos entre o trio. E assim, com poucas câmeras e cenários simples, Intimidade Entre Estranhos termina nos entregando uma interessante análise intimista sobre a doação em relacionamentos, depressão e, principalmente, sobre a melancolia de se sentir só, mesmo em uma cidade como o Rio de Janeiro, onde a felicidade parece quase obrigação. O prédio, a piscina  e as caixas que não param de chegar no apê de Maria e Pedro – que podem facilmente simbolizar os problemas que começam a aparecer para o casal – são as principais testemunhas… E, no fim de tudo, nós também.

Mais notícias...

Siga-nos!

2,000,000FãsCurtir
372,000SeguidoresSeguir
1,620,000SeguidoresSeguir
195,000SeguidoresSeguir
162,000InscritosInscrever

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

MATÉRIAS

CRÍTICAS