sábado , 21 dezembro , 2024

Em Home Vídeo| Intimidade Entre Estranhos – Solidão é o elo deste triângulo amoroso

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Quem conhece o trabalho de Matheus Souza já sabe que filmes que abordam a temática de relacionamentos são o seu forte. Sua estreia no roteiro e direção em 2008, com o longa independente Apenas o Fim, é a prova viva disso: com referências a Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004) e inspirado em Antes do Amanhecer (1995) e Nosso Amor do Passado (2006), ele é todo focado no diálogo entre um casal que está chegando ao final de sua jornada. Já desta vez, assinando apenas o roteiro, ele faz parceria com o diretor José Alvarenga Jr. para mostrar um triângulo amoroso entre os únicos três moradores de um prédio solitário no Rio de Janeiro. Intimidade Entre Estranhos é o nome do longa – e, inclusive, da música feita por um dos personagens, que funciona quase como um resumo explicativo sobre toda a melancólica história.

A trama se inicia quando Maria (Rafaela Mandelli) volta para o Rio de Janeiro, sua cidade natal, após passar anos morando em São Paulo para acompanhar o marido Pedro (Milhem Cortaz) em seu novo trabalho de ator em uma minissérie. No apartamento alugado pelos dois, o terceiro e único morador é um jovem garoto solitário – Horácio (Gabriel Contente) -, que perdeu os pais em um acidente de carro quando ainda era criança e a avó, que o criou, devido à doença de Alzheimer. Síndico do prédio por ser o único herdeiro da família dona do imóvel, ele inicialmente bate de frente com a nova moradora por alegar que ela não respeita as regras do local – com práticas como ouvir som alto e entrar com roupa de banho pela entrada principal, por exemplo. Porém, com o passar do tempo, os dois acabam se aproximando e criando um vínculo que ultrapassa o da inocente amizade para se tornar uma forte atração – principalmente da parte do “menino”, como Maria costumava chamá-lo, por ser muito sozinho e encontrar na inquilina seu único contato com o mundo externo.



Tudo começa quando Maria e Pedro passam a se afastar cada vez mais por conta da rotina de gravações da minissérie e da ambição dele para se tornar um ator respeitado. Em meio a uma das brigas intensas, ela acaba encontrando o garoto quando corre para o terraço do prédio e os dois passam a deixar as diferenças de lado para dividir seus medos, frustrações e a perceber que a forte solidão e a depressão eram companheiras em comum de ambos. Ainda que não ficasse reclusa como Horácio e não tivesse tantas mortes trágicas na família, Maria também lidava com uma tristeza profunda por ter presenciado o suicídio do seu pai na infância – que, assim como a avó de Pedro, também tinha Alzheimer e acabou se enforcando no apartamento em que morava com a praia de Copacabana ao fundo. Por causa disso, estar no Rio de Janeiro, ainda que temporariamente por conta das gravações da minissérie, era um sacrifício para a personagem de Rafaela Mandelli pelo fato das memórias dessa trágica cena acentuarem seu estado depressivo. E assim, para não se sentir sozinha pela distância cada vez maior de Pedro, ela passa a encontrar o garoto todas as tardes para conversar sobre a vida e ouvir suas composições musicais – ou músicas que nem são dele (como 50 Receitas, de Leoni), mas que ele inventa que são para impressionar a mulher que, à esta altura do campeonato, já se tornou a garota dos seus sonhos.

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Curiosamente, a terceira peça deste triângulo, Pedro, também tem seus próprios fantasmas internos para combater. No seu caso, por não saber lidar com a pressão de se tornar um ator conceituado e com as frustrações que vêm junto com a carreira, ele acaba virando alcoólatra e passa a enfrentar uma luta diária para ficar longe da bebida – o que nem sempre acontecia, no fim das contas, como fica claro em alguns importantes momentos do longa. E no meio disso tudo, para ilustrar toda a melancolia dos três protagonistas ao longo do filme, são os tons de azul que predominam nas cenas; desde a piscina do prédio que é destaque na trama e funciona quase como um personagem, às paredes do apartamento e demais objetos que ajudam a compor a mise-en-scène. Outro detalhe que diz muito sobre Intimidade Entre Estranhos é a referência à Beleza Americana já no pôster e na parte em que Pedro joga pétalas de rosas em Maria enquanto ela está boiando sozinha na piscina: é que, não por acaso, os dois filmes falam sobre solidão, fantasmas internos e têm um personagem mais novo se envolvendo com outro com uma grande diferença de idade.

No entanto, apesar dessas semelhanças que remetem ao filme ganhador do Oscar de 2000, a principal inspiração para o diretor José Alvarenga Jr. foi o longa Verão 42 (1971), o romance musical Apenas Uma Vez (2007) e uma canção do cantor Leoni em parceria com Frejat – o que explica bem o porquê da música ter importante participação no decorrer da trama, principalmente no final, quando “Intimidade Entre Estranhos”, composta por Horácio, ilustra bem como foi o relacionamento dos três no prédio e nos faz entender o sentido dúbio do título. Em uma livre leitura do nome do longa, “estranhos” pode se referir tanto a “desconhecidos”, considerando o início da relação entre Maria e o garoto, quanto fazer uma referência aos problemas internos de cada um, que fazem com que eles possam ser vistos como “esquisitos/problemáticos” por outras pessoas – mas não por nós, espectadores, que por mérito do roteiro, direção e das atuações convincentes de Rafaela Mandelli, Milhem Cortaz e Gabriel Contente nos sentimos cúmplices deste triângulo e conseguimos entender (quase todas) as fraquezas dos três.

Desta forma, por mais que a trajetória de um dos personagens possa ser justamente questionada no final, é bom ver cada um no “happy ending” que parece ideal para o seu modo de vida e, ao menos, para o preenchimento da solidão e da rejeição – medos claramente divididos entre o trio. E assim, com poucas câmeras e cenários simples, Intimidade Entre Estranhos termina nos entregando uma interessante análise intimista sobre a doação em relacionamentos, depressão e, principalmente, sobre a melancolia de se sentir só, mesmo em uma cidade como o Rio de Janeiro, onde a felicidade parece quase obrigação. O prédio, a piscina  e as caixas que não param de chegar no apê de Maria e Pedro – que podem facilmente simbolizar os problemas que começam a aparecer para o casal – são as principais testemunhas… E, no fim de tudo, nós também.

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Quem conhece o trabalho de Matheus Souza já sabe que filmes que abordam a temática de relacionamentos são o seu forte. Sua estreia no roteiro e direção em 2008, com o longa independente Apenas o Fim, é a prova viva disso: com referências a Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004) e inspirado em Antes do Amanhecer (1995) e Nosso Amor do Passado (2006), ele é todo focado no diálogo entre um casal que está chegando ao final de sua jornada. Já desta vez, assinando apenas o roteiro, ele faz parceria com o diretor José Alvarenga Jr. para mostrar um triângulo amoroso entre os únicos três moradores de um prédio solitário no Rio de Janeiro. Intimidade Entre Estranhos é o nome do longa – e, inclusive, da música feita por um dos personagens, que funciona quase como um resumo explicativo sobre toda a melancólica história.

A trama se inicia quando Maria (Rafaela Mandelli) volta para o Rio de Janeiro, sua cidade natal, após passar anos morando em São Paulo para acompanhar o marido Pedro (Milhem Cortaz) em seu novo trabalho de ator em uma minissérie. No apartamento alugado pelos dois, o terceiro e único morador é um jovem garoto solitário – Horácio (Gabriel Contente) -, que perdeu os pais em um acidente de carro quando ainda era criança e a avó, que o criou, devido à doença de Alzheimer. Síndico do prédio por ser o único herdeiro da família dona do imóvel, ele inicialmente bate de frente com a nova moradora por alegar que ela não respeita as regras do local – com práticas como ouvir som alto e entrar com roupa de banho pela entrada principal, por exemplo. Porém, com o passar do tempo, os dois acabam se aproximando e criando um vínculo que ultrapassa o da inocente amizade para se tornar uma forte atração – principalmente da parte do “menino”, como Maria costumava chamá-lo, por ser muito sozinho e encontrar na inquilina seu único contato com o mundo externo.

Tudo começa quando Maria e Pedro passam a se afastar cada vez mais por conta da rotina de gravações da minissérie e da ambição dele para se tornar um ator respeitado. Em meio a uma das brigas intensas, ela acaba encontrando o garoto quando corre para o terraço do prédio e os dois passam a deixar as diferenças de lado para dividir seus medos, frustrações e a perceber que a forte solidão e a depressão eram companheiras em comum de ambos. Ainda que não ficasse reclusa como Horácio e não tivesse tantas mortes trágicas na família, Maria também lidava com uma tristeza profunda por ter presenciado o suicídio do seu pai na infância – que, assim como a avó de Pedro, também tinha Alzheimer e acabou se enforcando no apartamento em que morava com a praia de Copacabana ao fundo. Por causa disso, estar no Rio de Janeiro, ainda que temporariamente por conta das gravações da minissérie, era um sacrifício para a personagem de Rafaela Mandelli pelo fato das memórias dessa trágica cena acentuarem seu estado depressivo. E assim, para não se sentir sozinha pela distância cada vez maior de Pedro, ela passa a encontrar o garoto todas as tardes para conversar sobre a vida e ouvir suas composições musicais – ou músicas que nem são dele (como 50 Receitas, de Leoni), mas que ele inventa que são para impressionar a mulher que, à esta altura do campeonato, já se tornou a garota dos seus sonhos.

Curiosamente, a terceira peça deste triângulo, Pedro, também tem seus próprios fantasmas internos para combater. No seu caso, por não saber lidar com a pressão de se tornar um ator conceituado e com as frustrações que vêm junto com a carreira, ele acaba virando alcoólatra e passa a enfrentar uma luta diária para ficar longe da bebida – o que nem sempre acontecia, no fim das contas, como fica claro em alguns importantes momentos do longa. E no meio disso tudo, para ilustrar toda a melancolia dos três protagonistas ao longo do filme, são os tons de azul que predominam nas cenas; desde a piscina do prédio que é destaque na trama e funciona quase como um personagem, às paredes do apartamento e demais objetos que ajudam a compor a mise-en-scène. Outro detalhe que diz muito sobre Intimidade Entre Estranhos é a referência à Beleza Americana já no pôster e na parte em que Pedro joga pétalas de rosas em Maria enquanto ela está boiando sozinha na piscina: é que, não por acaso, os dois filmes falam sobre solidão, fantasmas internos e têm um personagem mais novo se envolvendo com outro com uma grande diferença de idade.

No entanto, apesar dessas semelhanças que remetem ao filme ganhador do Oscar de 2000, a principal inspiração para o diretor José Alvarenga Jr. foi o longa Verão 42 (1971), o romance musical Apenas Uma Vez (2007) e uma canção do cantor Leoni em parceria com Frejat – o que explica bem o porquê da música ter importante participação no decorrer da trama, principalmente no final, quando “Intimidade Entre Estranhos”, composta por Horácio, ilustra bem como foi o relacionamento dos três no prédio e nos faz entender o sentido dúbio do título. Em uma livre leitura do nome do longa, “estranhos” pode se referir tanto a “desconhecidos”, considerando o início da relação entre Maria e o garoto, quanto fazer uma referência aos problemas internos de cada um, que fazem com que eles possam ser vistos como “esquisitos/problemáticos” por outras pessoas – mas não por nós, espectadores, que por mérito do roteiro, direção e das atuações convincentes de Rafaela Mandelli, Milhem Cortaz e Gabriel Contente nos sentimos cúmplices deste triângulo e conseguimos entender (quase todas) as fraquezas dos três.

Desta forma, por mais que a trajetória de um dos personagens possa ser justamente questionada no final, é bom ver cada um no “happy ending” que parece ideal para o seu modo de vida e, ao menos, para o preenchimento da solidão e da rejeição – medos claramente divididos entre o trio. E assim, com poucas câmeras e cenários simples, Intimidade Entre Estranhos termina nos entregando uma interessante análise intimista sobre a doação em relacionamentos, depressão e, principalmente, sobre a melancolia de se sentir só, mesmo em uma cidade como o Rio de Janeiro, onde a felicidade parece quase obrigação. O prédio, a piscina  e as caixas que não param de chegar no apê de Maria e Pedro – que podem facilmente simbolizar os problemas que começam a aparecer para o casal – são as principais testemunhas… E, no fim de tudo, nós também.

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