Noir sem Gás
Muitos podem se sentir atraídos pelo nome da atriz Jessica Biel nos créditos deste filme como chamariz, no entanto, a maior relevância de Uma Forma de Assassinato é o fato de ser baseado no livro da icônica escritora Patricia Highsmith. A autora, falecida em 1995, foi responsável por alguns dos mais emblemáticos suspenses da literatura, tendo inclusive servido o material fonte para o clássico Pacto Sinistro (1951), de Alfred Hitchcock, por exemplo.
Além desta obra imortal, O Talentoso Ripley (1999) e Carol (2015) são duas outras produções baseadas em textos de Highsmith. Agora, chega o novo lançamento a estampar o nome da autora, mesmo que de forma tímida, em seus créditos. Na realidade, Uma Forma de Assassinato chega diretamente no mercado de home vídeo brasileiro, sem passar previamente pelas nossas salas de cinema e pode ser encontrado na programação da rede HBO.
Baseado no livro The Blunderer, o filme, passado na Nova York da década de 1960, possui alguns elementos e temas de outros trabalhos da escritora como: crimes trocados, assassinato, casos extraconjugais e planos para eliminar o cônjuge.
Na trama, Jessica Biel e Patrick Wilson são o casal Clara e Walter Stackhouse, à primeira vista uma família perfeita da classe média dos subúrbios norte-americanos. Porém, no melhor estilo Beleza Americana (1999), basta uma segunda olhada para perceber que esta redoma reluzente de longe, está cheia de rachaduras. Justamente por isso, o sujeito busca conforto nos sorrisos de outras, como é o caso com a jovem Ellie Briss, uma aspirante a cantora interpretada pela beldade Haley Bennett – num papel similar ao que interpretou em A Garota do Tem (2016).
Correndo por fora da trama principal, uma misteriosa história de assassinato. Marty Kimmel, papel do britânico Eddie Marsan, é um aparentemente pacato dono de loja de livros, cuja esposa foi assassinada sem pistas. Apesar do luto e da falta de qualquer prova que o incrimine, diz a lenda que o sujeito foi o responsável pelo cruel ato. Stackhouse, que é aspirante a escritor de tramas detetivescas, se encanta pelo folclore em torno de Kimmel e desperta um interesse que pode ir além da pesquisa para um livro.
A parte técnica de Uma Forma de Assassinato é impecável. A direção de arte que recria a época retrada é digna da mais alinhada superprodução. A fotografia não chega atrás, com momentos que de tão belos soam como quadros em movimento – vide trechos de carros em becos em meia à neve que cai. As atuações igualmente são esforçadas, destaque para os verdadeiros protagonistas aqui, Marsan e o ainda subestimado Wilson, que desempenha mais um trabalho acima da média, driblando entre sensações e projetando-as nos espectadores. A grande “farsa” aqui é a importância enganosa que Jessica Biel, o nome que atrairá os mais jovens, tem no drama. Com poucas cenas, no papel da esposa resmungona e psicologicamente abalada, Biel, apesar de ser o conduíte do suspense, não imprime presença significativa o bastante.
Apesar do invólucro chamativo, em seu conteúdo, Uma Forma de Assassinato não dispõe dos mais eloquentes contadores de histórias. A adaptação do roteiro é da estreante Susan Boyd, que cria uma transposição sem muitos atributos. A direção é de Andy Goddard, conhecido por seus trabalhos em episódios de séries como Doctor Who, Downton Abbey e as parecerias Marvel/Netflix vide Demolidor, Justiceiro, Punho de Ferro e Luke Cage. O cineasta faz o que pode com um texto introspectivo, gerando uma narrativa letárgica e sem grandes apelos. Embora não pareça em um primeiro momento, resultados mundanos como o do longa servem para frisar a falta que um peso de comando como os de Hitchcock, Haynes ou Minghella, autores insubstituíveis, faz.